“Esperar
vale mais que entender”
Guimarães Rosa
O
grande escritor Guimarães Rosa foi perspicaz e sensível observador dos
mistérios do humano. Ele sabia como poucos, recolher os acontecimentos e as
emoções, refletindo no coração o significado de cada experiência vivida. Esse
pensamento, proposto para nossa reflexão, manifesta a sua sabedoria acerca da
nossa travessia. Conhecimento esse conquistado através do olhar atento sobre o
nosso cotidiano e focado, principalmente, na vida do sertanejo das Minas
Gerais.
Se
aprofundarmos esse pensamento veremos que ele perpassa o nosso dia-a-dia.
Geralmente, quando não compreendemos o significado de certos acontecimentos
difíceis, mas inerentes ao nosso viver, questionamos e exigimos respostas
imediatas para os mesmos. Se as soluções não chegam com a rapidez que
desejamos, ficamos intranqüilos diante de tal situação. Não suportamos dar
tempo ao tempo para que “a ausculta
atenta do coração” nos aponte algum caminho ou nos ensine uma nova maneira
de enfocar as nossas angústias e limitações.
Em
principio, é natural que tenhamos essa reação, pois é muito difícil conviver
com a espera de resposta para as nossas dúvidas. Entretanto, é bom tomarmos
consciência que não somos donos do curso da vida.
A
sociedade atual não suporta conviver com a espera e a incerteza. Ela se julga
capaz de dominar qualquer situação e ter respostas prontas para tudo. Todavia,
sabemos, por experiência própria, que o mistério da vida não é assim. Nossa
travessia é cercada de incertezas e, quase sempre, o domínio sobre a realidade
escapa das nossas mãos.
Diante
disso, é primordial apreender a conviver com a espera. Não uma espera acomodada, alienada ou desatenta. Mas, uma espera
questionante, crítica e ativa como do vigia cuidadoso que aguarda pela chegada
da aurora. Essa maneira de ser, ativa e serena, é o caminho mais curto para
apontar respostas para as nossas incertezas. Na busca exacerbada e intranqüila
pelas respostas, diminuímos a capacidade de bom senso e de equilíbrio, que são
essenciais para que a luz resplandeça sobre os conflitos do nosso viver.
Esse
processo de busca, muitas vezes difícil, é uma caminhada enriquecedora, que nos
propicia endurecimento e experiência. Semelhante
ao processo dinâmico da lagarta que, na pequenez do casulo, se transforma em
borboleta multicolorida ou aos movimentos da ostra que produz a pérola de rara
beleza.
Esse modo de ser não se adquire
facilmente. Ele vai sendo alinhavado, lentamente, ao longo do nosso
caminhar. Esse ponto de equilíbrio diante da vida é dinâmico e tem seus
momentos de maior e menor serenidade. Ninguém está imune de ocasiões de
instabilidades. Compensa investir nessa maneira de ser, pois ela nos torna mais
harmonizados na busca de respostas para nossas incertezas. Guimarães Rosa tem
razão, a espera ativa e laboriosa vale mais que entender.
João Bosco de Carvalho
(Belo Horizonte-MG)
(Belo Horizonte-MG)
Contatos:
cassiojoao@bol.com.br
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