segunda-feira, 30 de abril de 2012

A paz esteja no seu coração - Reflexão 3




“Esperar vale mais que entender”

                                                                      Guimarães Rosa

            O grande escritor Guimarães Rosa foi perspicaz e sensível observador dos mistérios do humano. Ele sabia como poucos, recolher os acontecimentos e as emoções, refletindo no coração o significado de cada experiência vivida. Esse pensamento, proposto para nossa reflexão, manifesta a sua sabedoria acerca da nossa travessia. Conhecimento esse conquistado através do olhar atento sobre o nosso cotidiano e focado, principalmente, na vida do sertanejo das Minas Gerais.
            Se aprofundarmos esse pensamento veremos que ele perpassa o nosso dia-a-dia. Geralmente, quando não compreendemos o significado de certos acontecimentos difíceis, mas inerentes ao nosso viver, questionamos e exigimos respostas imediatas para os mesmos. Se as soluções não chegam com a rapidez que desejamos, ficamos intranqüilos diante de tal situação. Não suportamos dar tempo ao tempo para que “a ausculta atenta do coração” nos aponte algum caminho ou nos ensine uma nova maneira de enfocar as nossas angústias e limitações.
            Em principio, é natural que tenhamos essa reação, pois é muito difícil conviver com a espera de resposta para as nossas dúvidas. Entretanto, é bom tomarmos consciência que não somos donos do curso da vida.
            A sociedade atual não suporta conviver com a espera e a incerteza. Ela se julga capaz de dominar qualquer situação e ter respostas prontas para tudo. Todavia, sabemos, por experiência própria, que o mistério da vida não é assim. Nossa travessia é cercada de incertezas e, quase sempre, o domínio sobre a realidade escapa das nossas mãos.
            Diante disso, é primordial apreender a conviver com a espera. Não uma espera acomodada, alienada ou desatenta. Mas, uma espera questionante, crítica e ativa como do vigia cuidadoso que aguarda pela chegada da aurora. Essa maneira de ser, ativa e serena, é o caminho mais curto para apontar respostas para as nossas incertezas. Na busca exacerbada e intranqüila pelas respostas, diminuímos a capacidade de bom senso e de equilíbrio, que são essenciais para que a luz resplandeça sobre os conflitos do nosso viver.
            Esse processo de busca, muitas vezes difícil, é uma caminhada enriquecedora, que nos propicia endurecimento e experiência. Semelhante ao processo dinâmico da lagarta que, na pequenez do casulo, se transforma em borboleta multicolorida ou aos movimentos da ostra que produz a pérola de rara beleza.
            Esse modo de ser não se adquire facilmente. Ele vai sendo alinhavado, lentamente, ao longo do nosso caminhar. Esse ponto de equilíbrio diante da vida é dinâmico e tem seus momentos de maior e menor serenidade. Ninguém está imune de ocasiões de instabilidades. Compensa investir nessa maneira de ser, pois ela nos torna mais harmonizados na busca de respostas para nossas incertezas. Guimarães Rosa tem razão, a espera ativa e laboriosa vale mais que entender.

João Bosco de Carvalho
(Belo Horizonte-MG)

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