segunda-feira, 30 de abril de 2012

A paz esteja no seu coração - Reflexão 4




“Era uma noite fria e estava garoando. Por volta das 22 horas, ao terminar o encontro bíblico na comunidade de São Marcos, situada na zona leste de São Paulo, retornávamos para a zona sul, região de Santo Amaro. No caminho, antes de entrar numa grande avenida, enquanto esperávamos o semáforo abrir, aproximou-se uma criança pedindo uma moedinha. A frágil menina devia ter entre 5 e 6 anos. Demos-lhe o lanche que recebemos no encontro, e a menina saiu correndo. Olhamos pelo retrovisor do carro, e vimos uma cena impressionante. Em vez de comer, ela foi dividi-lo com as outras crianças. (Revista Vida Pastoral da editora Paulus)

Esse relato está repleto de ternura e beleza. É a manifestação da presença tênue e silenciosa de Deus no nosso caminhar... No gesto de partilha da criança a rua transformou-se no templo sagrado da presença do Pai. Seguramente, é a concretização do evangelho no meio dos homens. É a pequena semente do reino do Pai lançada no chão duro da vida, mas, carregada de energia para crescer e dar frutos. É o despertar da esperança de uma sociedade mais  fraterna. O faminto que partilha seu único pão faz re-florescer a beleza do milagre da multiplicação dos pães... 
Tal gesto anuncia que a bondade e a benquerença ainda existem, principalmente, no meio dos mais sofridos. Essa atitude sacramental nos faz recordar a grandeza da partilha, valor esse esquecido pelos afazeres do nosso dia-a-dia. As ações concretas de solidariedade falam mais fortemente do que todas as doutrinas e ensinamentos. É que elas atingem diretamente a alma e o coração. Com certeza, o circulo bíblico daquelas pessoas aconteceu, mais profundamente, ao serem tocados pela partilha do único pão daquela criança.
A vida nos oferece, a todo instante, inúmeras oportunidades de acolhimento e de bondade. Na família, no trabalho, na rua, enfim, somos convocados, constantemente, a sairmos da indiferença para irmos ao encontro dos outros. Um sorriso, uma palavra de ânimo, um abraço, o ombro amigo e o coração aberto para quem está sofrendo. São essas pequenas atitudes que nos transmitem o sentido e a alegria de viver... Se pensarmos bem, os momentos de maior alegria da nossa vida estão alicerçados nos nossos gestos de acolhimento e solidariedade. 
É importante cultivarmos a sensibilidade, que nos faz perceber as ações de bondade presentes ao nosso entorno. Tais gestos, muitas vezes, passam despercebidos ao “olhar” do nosso coração. A nossa vida é tecida por essas pequenas atitudes de bondade e ternura. No encantamento e na vivência desses valores encontramos a paz, a serenidade e a presença amorosa do Pai.

João Bosco de Carvalho
(Belo Horizonte-MG)

Contatos: cassiojoao@bol.com.br


A paz esteja no seu coração - Reflexão 3




“Esperar vale mais que entender”

                                                                      Guimarães Rosa

            O grande escritor Guimarães Rosa foi perspicaz e sensível observador dos mistérios do humano. Ele sabia como poucos, recolher os acontecimentos e as emoções, refletindo no coração o significado de cada experiência vivida. Esse pensamento, proposto para nossa reflexão, manifesta a sua sabedoria acerca da nossa travessia. Conhecimento esse conquistado através do olhar atento sobre o nosso cotidiano e focado, principalmente, na vida do sertanejo das Minas Gerais.
            Se aprofundarmos esse pensamento veremos que ele perpassa o nosso dia-a-dia. Geralmente, quando não compreendemos o significado de certos acontecimentos difíceis, mas inerentes ao nosso viver, questionamos e exigimos respostas imediatas para os mesmos. Se as soluções não chegam com a rapidez que desejamos, ficamos intranqüilos diante de tal situação. Não suportamos dar tempo ao tempo para que “a ausculta atenta do coração” nos aponte algum caminho ou nos ensine uma nova maneira de enfocar as nossas angústias e limitações.
            Em principio, é natural que tenhamos essa reação, pois é muito difícil conviver com a espera de resposta para as nossas dúvidas. Entretanto, é bom tomarmos consciência que não somos donos do curso da vida.
            A sociedade atual não suporta conviver com a espera e a incerteza. Ela se julga capaz de dominar qualquer situação e ter respostas prontas para tudo. Todavia, sabemos, por experiência própria, que o mistério da vida não é assim. Nossa travessia é cercada de incertezas e, quase sempre, o domínio sobre a realidade escapa das nossas mãos.
            Diante disso, é primordial apreender a conviver com a espera. Não uma espera acomodada, alienada ou desatenta. Mas, uma espera questionante, crítica e ativa como do vigia cuidadoso que aguarda pela chegada da aurora. Essa maneira de ser, ativa e serena, é o caminho mais curto para apontar respostas para as nossas incertezas. Na busca exacerbada e intranqüila pelas respostas, diminuímos a capacidade de bom senso e de equilíbrio, que são essenciais para que a luz resplandeça sobre os conflitos do nosso viver.
            Esse processo de busca, muitas vezes difícil, é uma caminhada enriquecedora, que nos propicia endurecimento e experiência. Semelhante ao processo dinâmico da lagarta que, na pequenez do casulo, se transforma em borboleta multicolorida ou aos movimentos da ostra que produz a pérola de rara beleza.
            Esse modo de ser não se adquire facilmente. Ele vai sendo alinhavado, lentamente, ao longo do nosso caminhar. Esse ponto de equilíbrio diante da vida é dinâmico e tem seus momentos de maior e menor serenidade. Ninguém está imune de ocasiões de instabilidades. Compensa investir nessa maneira de ser, pois ela nos torna mais harmonizados na busca de respostas para nossas incertezas. Guimarães Rosa tem razão, a espera ativa e laboriosa vale mais que entender.

João Bosco de Carvalho
(Belo Horizonte-MG)

domingo, 29 de abril de 2012

"Sonho Compartilhado"

    Essa é a nova edição, recém-lançada, do livro dos Simpatizantes do Carisma Francisclariano da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas. É uma rica fonte de alimento aos simpatizantes trazendo em sua estrutura o Nosso Projeto de formação, textos de espiritualidade, do caminho de Francisco e Clara de Assis e seus peregrinos... e finaliza com poemas e celebrações diversas. Obrigada pelo presente que nos foi enviado no Encontro Regional de Simpatizantes de MG, ontem em Camargos.


    Segue uma das orações nele contida:

Senhor, fazei-nos instrumentos de missão!
Onde encontrarmos pessoas encurvadas, 
que ajudemos a levantar-se.
Onde a injustiça teima em reinar,
que levemos a justiça transformadora da sociedade.
Onde a desigualdade machuca e discrimina pessoas e povos,
que saibamos incluir, respeitar, animar
e valorizar a vida em todas as suas expressões.
Onde os poderosos teimam em dominar a esperança
dos pobres, que levemos organização e conscientização.
Onde mulheres são oprimidas,
que busquemos a igual participação.

Onde a natureza estiver sendo depredada 
que sejamos promotores da irmandade universal,
semeando o cuidado e o respeito com toda criação.
Onde a violência fere tantas pessoas inocentes,
que levemos a tua Paz!

Ó Deus, Fonte de Vida e do Amor,
fortalece nosso compromisso com
os mais pobres e excluídos!
"Levanta-nos" de nossas incertezas
para mergulhar na realidade com ousadia e coragem!
Envia-nos, com tua força,para sermos
anunciadores da esperança e da solidariedade!

Francisco e Clara, que sentistes a presença energizante
e vigorosa de Deus nos leprosos e pobres,
nós vos pedimos que vossa força profética
e inovadora nos inspire no caminho da irmandade!
E nosso coração, ardente de paixão por Jesus Cristo,
prossiga vibrante, na partilha e no abraço universal!

                    (Por Ir. Beatriz Maestri)



III Encontro Regional de Simpatizantes de MG


As Andorinhas

Amo os peixes e os bichos da água
Amo as aves e os bichos do céu
Amo as flores e os seres da terra
Tudo o que vive e se move nela.

Ha sempre andorinhas por onde eu vou 
Brincam no vendo, nas asas do amor
Amo a vida em toda a extensão
Há um São Francisco no meu coração.

As pessoas, as plantas e os animais
São canteiros do mesmo jardim
Querem a alegria, o amor e a paz 
Ao beijo da vida todos dizem sim.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A linguagem no mundo da fé (escritos de Roger Lenaers)

A linguagem é apropriada?

  " Mas, por que queremos partilhar com os outros o que pensamos, sentimos ou queremos? Para nos vincularmos mais a eles.Afinal, temos uma necessidade natural de fazê-lo: sem os outros já não somos os mesmos. E, além disso, precisamos ser confirmados ou corrigidos mediante sua reação (por meio da mesma linguagem) para poder profredir, e para estimular os outros a fazê-lo. A linguagem também tem a função de ajudar no nascimento daquilo que ainda está informe e obscuro no sujeito, para configurá-lo e trazê-lo á luz, de tal maneira que este assuma sua própria interioridade.

  Ao longo dos séculos, o grupo cultural cristão ocidental desenvolveu sua própria estética para expressar o que pensava e sentia coletivamente. Isso quer dizer que construiu sua própria linguagem, tanto no sentido estrito como no amplo, formulou leis e confissões, criou rituais e os tronou obrigatórios, edificou e equipou monastérios e igrejas. Por meio de figuras e cores deu forma a sua esperanças, expectativas, imaginações, medos,alegrias,dúvidas conscientes ou inconscientes. Porém, a seguir ocorreu algo assombroso. Aquela linguagem que durante mil anos todos compreendiam no Ocidente transformou-se, pouco a pouco, num idioma estrangeiro, uma língua morta, compreensível somente para aqueles que foram previamente educados nela.

(...) cada linguagem, inclusive a cristã, está ligada a sua época.A linguagem cristã teve origem numa fase cultural bem determinada e ainda conserva sinais dela. Serviu para expressar as experiências e representações de um grupo, pequeno em seus inícios, que em sua bsuca da realidade transcendente de e"Deus" se deixou inspirar e guiar pela figura messiânica de Jesus de Nazaré. A linguagem desse pequeno grupo do século I se estendeu pouco a pouco...

(...) as representações usadas pela Igreja em sua pregação, sua imagem do mundo e da humanidade, assim como a própria imagem de Deus,permaneceram na idade Média, enquanto a sociedade ocidental se distancia daquela época a uma velocidade cada vez maior. Quem pensa e sente como na Idade Média, fala assim também. Essa linguagem (usada em missas, pregações) se tornou um idioma "estrangeiro" como era até pouco tempo o latim eclesiástico.

Os fiéis de pensamente moderno tampouco teriam razão se esperassem que a imprescindível renovação de nosso mundo da fé viesse exclusivamente, ou em primeiro lugar,do melhoramento e da adaptação da linguagem,ou seja, das estruturas, formas, tradições e uso eclesiásticos.

Se a linguagem tradicional deixou de ser útil,isso ocorre não porque tenha erros ou seja pouco clara, e sim porque encarna correta e claramente representações atualmente superadas, que a modernidade depositou no sumidouro do passado."

LENAERS,Roger. Outro Cristianismo é possível. Paulus: São Paulo, 2011.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Salmo do dia (23/04)






AÇÃO DE GRAÇAS
LOUVOR A DEUS SALVADOR


1. Aleluia!
Amo ao Senhor, por ter atendido à
minha súplica,

2. pois inclinou-se para mim,
no momento exato em que chamei por Ele.

3. Cercaram-me os pensamentos negativos.
Fiquei surpreso por tantos conflitos e dúvidas.
Caí na aflição e na ansiedade.

4. Eu invoquei o nome do Senhor:
"Senhor, salve minha vida!"

5. O Senhor é muito justo e clemente.
Meu Deus é muito misericordioso.

6. Deus protege todas as pessoas,
principalmente as mais simples.
Já fui pobre, e mesmo assim,
o Senhor me salvou .

7. Minha alma merece ter sossego e paz,
porque o Senhor comigo foi propício.

8. Tirou-me os pensamentos negativos,
não permitiu que meus olhos chorassem
nem que meus pés caíssem no chão.

9. Andarei sempre conforme as leis do
Senhor. Compartilharei toda minha
alegria na Terra, onde moram os
vivos de corpo e espírito.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

DIÁLOGO COM MARIA MADALENA

MADALENA, MINHA IRMÃ, O QUE FOI QUE ACONTECEU?
O QUE OUVISTE DO MESTRE QUE TANTO TE COMOVEU?
TUA FÉ, TUA CORAGEM, TUA BUSCA E INSISTÊNCIA
FEZ DE TI FIEL DISCÍPULA UM ÍCONE DE RESISTÊNCIA!



NAS MANHÃS DE NOSSA HISTÓRIA DE MULHERES
LUTADORAS, ESTIMULA NOSSAS BUSCAS
EXORCIZA NOSSAS DORES.



COMPANHEIRA MISSIONÁRIA ACOMPANHA NOSSOS PASSOS
REVIGORA NOSSOS SONHOS, ALENTA EM NOSSO CANSAÇO
VEM CONOSCO VASCULHAR O “JARDIM DA ESPERANÇA”
BUSQUEMOS JUNTAS A VIDA RESSUSCITADA, ABUNDANTE!


FELIZ PÁSCOA PARA VOCÊ MINHA IRMÃ, MEU IRMÃO!

(Alzira Munhoz – Páscoa de 2012)








TEMPO DE ACOLHER O SILÊNCIO



UM LONGO E ESPERANÇOSO SÁBADO SANTO

Como se pode passar da SEXTA-FEIRA SANTA ao primeiro DIA da semana sem unir-nos a Cristo no SÁBADO SANTO?


Sabemos que a vida da Igreja, como também a nossa vida pessoal, é feita de longos sábados santos, nos quais nem a dor da Paixão nem o consolo da festa Pascal marcam significativamente nossos dias e nossas noites, mas simplesmente a dura e paciente espera, na fé mais despojada, de um Senhor, que se faz esperar tanto que parece que já não vai chegar mais.
É o Sábado Santo de um credo pascal que sabe que amanhã florescerá a messe. Submergido no sepulcro do Senhor, espera-se simplesmente.
Ao sentir a própria incapacidade de levar adiante a exigência do Evangelho, o seguidor de Jesus se apresenta no sepulcro de onde pode irromper a força transformadora da manhã da Ressurreição.
O Sábado Santo é um dia sem liturgia, em silêncio, não passa nada, não sucede nada, recorda a solidão do sepulcro, a tristeza das mulheres e dos discípulos, a desilusão diante do fracasso.
“O Rei dorme”, comenta uma antiga homilia sobre o Sábado Santo. O povo canta o Shabat mater, acompanha a Virgem dolorosa, espera com ela, em silêncio, a aurora pascal.

No entanto o Sábado Santo é seguramente o tempo da Igreja e da liturgia que nos toca viver mais longamente em nossa vida.
Sábado Santo é tempo não só de espera, mas de esperança, é deixar que o grão de trigo morto comece a dar fruto, é tempo de um inverno que tornará possível as flores da primavera, é tempo de imaginar, de criar, de abrir-se a algo novo e inesperado, de sonhar um mundo melhor e uma Igreja mais nazarena.
O Sábado Santo é ao mesmo tempo sepulcro e mãe, como diziam os Pais da Igreja, ao falar do batismo.
Este espaço de silêncio não é de morte senão de vida germinal, é noite que aponta à aurora, são as noites escuras da vida que desembocam na alegria da alvorada; é tempo de fé e de esperança, é momento de semear, mesmo que não vejamos os resultados, é tempo de crer que o Espírito do Senhor, criador e doa-dor de vida, está fecundando a história e a terra para seu amadurecimento pascal e escatológico, para a terra nova e o céu novo.

É preciso considerar o Sábado Santo como um tempo de luto e pranto: depois da dor intensa da Sexta-feira Santa dá-se lugar a uma dor silenciosa, contida, como a terra que vai se empapando até suas entranhas com a água caída torrencialmente sobre a superfície.
O que aconteceu na superfície da terra na Sexta-feira Santa, acontece nas profundezas da morte no Sábado Santo, para que no Domingo da Ressurreição sejam resgatados ambos acontecimentos.
É preciso saber acolher este silêncio surdo, que marca a passagem entre duas experiências intensas: a Sexta-feira de dor e o Domingo de Ressurreição.
No sepulcro, Jesus se faz solidário com toda a morte humana. E é preciso esperar com Ele. É preciso esperar em nossos projetos e sonhos, na libertação dos povos, em uma nova humanidade.
Em nossas vidas teremos muitas sextas-feiras santas de dor e dias de páscoa, mas, teremos muito mais sábados de espera.

Fazer memória do Sábado Santo nos faz compreender que, nos sábados santos da vida não podemos ter a pretensão de querer ver o significado de tudo o que vivemos, no mesmo momento que o vivemos. Muitas vezes, terão que passar muitos anos para poder ver o rosto do Deus vivo em situações vividas de dor e abatimento; além disso, temos que começar a entender que não podemos pretender chegar ao último dia com todas as interrogações resolvidas.
Saber viver neste tom vital é o que nos convida o Sábado Santo.
Em todo caminho espiritual é preciso passar pela “noite”, pela “ausência”, pelo “silêncio”, para amadurecer. É inevitável experimentar, durante algum tempo, alguma forma desconcertante de sentir a presença-ausência de Deus.
Esta terrível Noite Escura do Sábado Santo corresponde a um incontestável estágio espiritual, como dura mas inevitável “passagem” (Páscoa) para a Luz do Domingo.
Só atravessando a prova, a Noite Amarga se transforma em Noite Amável.

A partir da experiência sabática, a noite pode espantar, mas também pode ser chance para ver melhor; a morte pode ser ameaçadora, mas ela ensina a viver; o sepulcro vazio pode causar dúvida, mas ele aponta para a ressurreição; o infinito pode suscitar inquietação, mas consegue impulsionar para o além, até acender no coração uma chama persistente: a esperança.

O ser humano que espera não tem certeza, não fica seguro, não está satisfeito. Mas a esperança tem fundamento; não é uma ilusão e nem uma utopia; não é um sonho impossível e nem uma lembrança irrecuperável; não é só futuro, mas permanece, disfarçadamente, presente; não é uma morada, mas um sentimento sempre inédito. A esperança evita tropeçar no fracasso, no desânimo, na apatia e no silencioso desespero. Ela se acende à noite, vence na impotência; começa na limitação; é ousada na fragilidade.
A esperança é caminho e meta, posse e dom, destino e encontro, antecipação e cumprimento, expectativa e busca, risco e proteção, nó e liberdade. A esperança é certa, mas não dá “garantias”.
“O coração do cristão é inquieto, está sempre em busca, em espera: esta é a esperança... porque a esperança é aquela que faz caminhar, faz abrir estradas...” (Massimo Cacciari)

O ser humano-esperança é o peregrino que caminha, é o artífice que tece o existir.
Esperança é força prospectiva que suscita passos para a gênese da nova humanidade. Esperança é o ser humano nômade. Des-loca-se. Des-dobra-se. Inventa-se. Deixa de ser o que era para chegar a ser o que ainda não é. Na noite ela se acende; na impotência, ela vence; na finitude, ela impele a caminhar.
A esperança é brasa, é pés, é caminho, é narrativa, é assombro, é antecipação.
Não há esperança na solidão das próprias seguranças e das próprias expectativas. A esperança se realiza no encontro, que impele a sair, a caminhar, a ir ao encontro, narrar aos outros o fogo que se acendeu por dentro. A esperança é o canto que empresta coragem frente os corredores escuros da história.

Poderíamos acrescentar que uma humanidade, incapaz de cultivar a esperança, não merece ser olhada, porque lhe faltaria a única razão pela qual vale a pena existir. Sem a esperança, a humanidade perde a iniciativa. Embota-se.
A vida sem desafios não é real; mas a vida sem espera, sem desejo, sem paixão, sem esperança, não é vida.
A esperança mora onde a deixamos entrar: onde lutamos, onde convivemos com o outro diferente de nós, onde a fragilidade e a transição podem desorientar, onde as trevas parecem mais fortes que a luz, onde a vida parece ser ameaçada pela morte, onde a violência pensa levar vantagem, onde o caminho é íngreme, onde a espera se confunde com a angústia...
A força da esperança está oculta precisamente na sua impotência.
A Cruz permanece em seu lugar, mas o sepulcro fica vazio para sempre!
É Ressurreição: vida plena antecipada.

Mas não basta ter esperança. É preciso ser esperança. O ser humano vive de esperança, acredita na esperança, mas, sobretudo é esperança. A esperança leva a querer algo mais. É “antecipação criadora”; ela tem “rosto novo”. É madrugada e não crepúsculo. Jamais “envelhece”. A esperança pascal antecipa aquilo que ainda não é realidade. É o futuro que ainda pode ser convertido em história nova.

Textos bíblicos: Mc. 15,42-47 Jo. 19,38-42

Na oração: recordar os grandes silêncios da vida (perdas, fracassos, crises...) onde não há razões, não há uma lógica..., mas no silêncio profundo, algo novo começa a germinar...

Pe. Adroaldo - SJ

ELAS TIVERAM CORAGEM DE PERMANECER




AS MULHERES QUE OLHAM O CRUCIFICADO, À DISTÂNCIA

“Permaneciam ali, olhando à distância, algumas mulheres...” (Mc. 15,40-41)

Os evangelistas nos falam delas muitas vezes; o relato da crucificação revela suas presenças como testemunhas e mediadoras. Os relatos de Mateus, Marcos e Lucas coincidem em indicar que as mulheres “contemplavam a cena de longe”. João, “que vê por dentro”, as coloca junto à cruz.
Mesmo não podendo estar tão próximas físicamente, elas são como as mães que podem “pré-sentir”, que sabem intuir “desde longe” o que acontece com seus filhos.

Estão ali, precedendo-nos no caminho, e não dizem nada. É seu corpo, são seus gestos, suas mãos, seus olhos, seu silêncio... que falam por elas. A linguagem delas é a linguagem da relação. Se elas podem permanecer nessas circunstâncias, é porque amaram muito. Elas nos falam de resistência e de fidelidade, de uma presença comovedora. Estão juntas, expostas a outros olhares, como comunidade de discípulas em torno a seu Mestre, que lhes ensina, agora sem palavras, uma sabedoria muito maior.
Em meio à impotência, não se afastam da dor experimentada ao ver sofrer a quem mais se ama, senão que se expõem ao olhar d’Aquele cujo rosto foi desfigurado.

* Quem são elas? De onde tiraram forças para permanecer ali quando outros se afastaram?
* Onde estas mulheres encontraram a força para segui-Lo por este caminho do Calvário? Que faziam elas ali, junto à cruz? Realizam alguma ação eficaz? Vão poder impedir a morte de um inocente?

Algumas são chamadas por seu nome próprio, ou são identificadas por vínculos de parentesco, ou ainda por ter gerado e acompanhado outras vidas. São as mesmas mulheres que haviam seguido e servido a Jesus na Galiléia, e agora o farão também na Sua morte. Sobem com Ele ao lugar do abandono e da ingratidão, levantando uma ponte de proximidade e de solidariedade que cruza a totalidade da vida de Jesus.
Finalmente, observarão o sepulcro onde colocarão seu corpo (Mc. 15,47). Nem um só instante afastaram seus olhares d’Ele. E o que para uns é escândalo e para outros é loucura, para estas mulheres é uma força de Deus impressionante.

Elas acompanharam a vida de Jesus muito de perto, “à sombra”, e agora, a morte d’Ele lança uma forte luz sobre elas, tornando-as visíveis para que todos saibam quem são elas.
Elas tem a coragem de permanecer ali, acolhendo o acontecimento em toda sua crueldade e profundidade; elas estão de pé, enquanto outros desistiram ou se afastaram assustados.
A partir deste momento elas vão aprendendo a conviver com a morte, com a d’Ele, com a sua e com a dos outros. Vão aprendendo, precisamente em meio à morte, a “celebrar a vida”, mesmo intuindo que uma lança também as atravessará.
“Olhar a morte de frente e aceitá-la como parte da vida é como dilatar a vida... Pode parecer um paradoxo: excluindo a morte de nossa vida, não vivemos em plenitude, enquanto que acolhendo a morte no coração mesmo de nossa vida, dilatamos e enriquecemos esta” (Etty Hillesum).

Há duas palavras que nos ajudam a compreender o sentido da presença das mulheres junto à Cruz, e, ao mesmo tempo, nos ajudam a ver o sentido que deve ter, à luz dessa presença, nossa própria vida humana: compaixão e comunhão.

* Somos humanos na medida em que somos capazes de compaixão. A presença silenciosa junto à Cruz nos ensina a com-padecer, a abrir o coração e colocá-lo ao alcance do sofrimento e da dor humanas, a deixar-nos configurar por ela, afetar por ela, ser tocados por ela. E deixar que a compaixão comande nossos atos e decisões. Com-paixão, padecer com: esse é o segredo da vida vivida em plenitude. Solidarizar-se com o outro naquela situação onde ele ou ela não nos pode retribuir, pois está reduzido apenas a uma dor sem limites e sem redenção, a um sofrimento sem explicações.
* Somos humanos na medida em que somos capazes de comunhão. Comungar com o outro, com sua dor e sua alegria, com sua esperança e sua angústia. Não querer ficar apartados ou distantes das situações que estão sendo vividas e sofridas pelo mais humilde e excluído de nossos semelhantes. É a solidariedade levada a suas últimas conseqüências. Tudo que afeta o outro, nos diz respeito e é nosso também: seus triunfos ou seus êxitos, seus fracassos, suas solidões, suas incompreensões, sua pobreza, sua dor e sua morte; ou seja, aquilo pelo qual ninguém o acompanha e que o torna tão repugnante que não pode atrair os olhares nem o interesse de ninguém. Isso é a verdadeira comunhão e só os seres humanos são capazes disso.

O que aquelas mulheres “viram, ouviram e tocaram” se entranhou em sua interioridade e gerou nelas uma força de compaixão e comunhão. Olhando de longe, estavam junto a Ele, deixando-se imantar por Ele, vivendo privilegiadamente um mistério que se oferece a todos.

Daqui para frente elas prestarão atenção aos corpos amados e feridos da história e se tornarão pedago-gas de um contato que gera humanidade; elas estenderão suas mãos sobre os necessitados, com o mesmo desejo com que Jesus as estendeu para tocar voluntariamente as pessoas enfermas, selando uma aliança, um “pacto de ternura”, com todos os desprezados e excluídos.
Elas escolherão a melhor parte ao acolher, silenciosas, os desprezados, aqueles que são excluídos e retirados das cidades; ao expor-se frente àqueles que morrem indefesos, abandonados nas prisões, nos asilos, nos hospitais...; ao fixar seus olhos naqueles que não tem aparência humana que possamos estimar, nem conta corrente, nem nome...; e estão aí “por todos e para todos”.
Aprendemos de seus gestos que para abraçar o Crucificado não temos outro acesso que tocar os feridos, pedir a graça de beijar e ser beijados por aqueles que agora são “transpassados” como Ele.

Estas mulheres nos ensinam que “subir a Je-rusalém” é assumir o conflito e a rejeição por defender os pobres e pequenos; é saber que os grãos hão de cair em terra e germinar.
E é, também, subir animando a outros.

Precisamos que o feminino em nosso mundo nos desvele que é no coração da humanidade que continua crucificada onde vamos experimentar a salvação, que é nessas realidades mais necessitadas onde irrompem as ondas da reconciliação e da vida, onde se revela a nós “Aquele de quem temos ouvido falar”.
Elas nos fazem adentrar na dimensão na profundidade de uma vida encarnada, vulnerável, como a de Jesus. Estão ali, dilatando nossa possibilidade de humanidade, sustentando-se mutuamente e permanecendo de pé diante d’Aquele que entregou sua vida para nos levantar.

É na “escola dos desfigurados” que as mulheres nos convocam a deixar-nos educar a visão. É a seus pés e a seu lado onde somos instruídos e onde amadurecemos silenciosamente. Algo se tece por dentro que nos prepara para a Ressurreição. Não podemos “viver o Ressuscitado” se não nos atrevemos a olhar e a deixar-nos olhar pelos crucificados. Eles, em sua pobreza e dor, tem o Reino escondido no seu interior.
Os olhares das mulheres limpam e curam nossos olhares; seus olhares nos purificam de nossa cobiça, de nossa auto-suficiência e de nossos medos; desvelam nossa indigência e também nossa beleza.
Ali aprendemos a contemplar, a fazer sagrada a vida. Ali recebemos o Único Olhar frente o qual podemos ser quem somos e abandonar toda defesa. O olhar do Crucificado nos devolve nossa identidade.
É estando ali, à distância, que aliviamos o desamparado. Distância que não é distanciamento, mas profundo amor, respeito e, ao mesmo tempo, proximidade íntima frente ao mistério do outro.
Somente permanecendo frente ao rosto daquele que se ama até o final.
Isso foram as mulheres para Jesus: companheiras, solidárias, compreensivas no sofrimento. E serão elas as primeiras em experimentar e anunciar a “Vida vestida de presença”, na manhã da Ressurreição.

Textos bíblicos: Mc. 15,40-41 Mt. 27,55-56 Lc. 23,40

Pe. Adroaldo - SJ

quarta-feira, 4 de abril de 2012

ELE ENTROU NA HISTÓRIA A PARTIR DE UMA MESA

A MESA ESCANDALOSA DE JESUS





P0r Pe. Adroaldo - SJ


Jesus quis resgatar a vida humana fazendo-se gente, sentimento, fome, alimento, isto é, ser encarnado na realidade humana. Seu caminho? A vida a partir da mesa, do pão e da festa da partilha. Uma das chaves de compreensão da pessoa de Jesus é a relação d’Ele com a “mesa da refeição”, pois Ele passou de mesa em mesa, até se deixar fazer pão na grande mesa da Ceia Pascal.


Ele entrou na história a partir de uma mesa (cocho) e partiu para o Pai a partir de uma Ceia.
Em todos os encontros de Jesus com os excluídos do Reino, Ele sempre os incluiu em suas refeições. Por isso, cada vez que nos reunimos em torno de uma mesa, fazemos memória das “refeições escanda-losas” de Jesus com os pecadores, pobres, doentes, marginalizados...
Ao participarmos da “mesa cristã” nos descobrimos solidários com todo o povo que caminha; ao mesmo tempo, a “mesa do Senhor” quebra em nós qualquer solidão ou muralha e nos aju-da a acolher as pessoas, a amá-las na sua diferença.

A partir do compromisso de Jesus com a “mesa da vida”, nossa refeição à mesa nunca mais foi a mesma, pois Ele elevou e pleni-ficou de sentido a mesa e a refeição.
Se para nós, a mesa já era bendita, sagrada..., depois de Cristo ela se tornou mais ainda um lugar de encontro no sacramento do pão partilhado. Desde então, cada vez que dela nos aproximamos para uma refeição, o Verbo feito carne continua sua ação salvífica, recriando cada vez mais a vida em expansão.


Quando um grupo de pessoas se reúne para comer o mesmo alimento, simboliza o propósito ou o desejo de participar da mesma situação, da mesma alegria, da mesma realidade. Comer e beber juntos sempre foi uma forma de expressar a “aliança”, aproximação, união, fusão... Quando tem convivas, o ser humano civiliza a refeição: já não senta à mesa apenas para matar a fome, mas para saciar outras necessidades mais profundas de seu ser social ou do seu ser-para-o-outro.


No ser humano não palpita apenas a necessidade de comer e de beber, mas também a necessidade de associar-se, de juntar-se. Os laços que antes existiam, talvez frágeis, reforçam-se com a participação à mesma mesa. Os obstáculos que impediam aproximações cedem frente ao dom que a mesa propicia. O co-nhecimento cresce e com ele crescem o envolvimento, a participação, a presença na vida da comunidade.

É na mesa, como lugar da morada do Sagrado, que podemos nos humanizar um pouco mais; tão rica é essa mesa que sua espiritualidade, vista como manancial da vida, não exclui nenhum momento: situações tristes, felizes, momentos de sofrimento, de luta, de vitória...
Nessa fonte sagrada, o sofrimento pode ser compartilhado, a tristeza transformada em alegria, as trevas em luz, o desejo em realidade, a esperança pode ser reacendida.


Sentar-se à mesa com o outro é descobrir-se vivo, corpo pulsante, saúde latente, carente.
Nela e com ela aprendemos a acolher o outro como dom. Aprendemos a nos doar, a partilhar, a receber, a escutar e a falar, a contemplar o outro em sua singularidade. A mesa é também o lugar onde acolhemos a dor e as tristezas do outro, com quem partilhamos nossa refeição. A mesa-refeição, portanto, é o lugar do suporte das relações, espaço que garante o sustento, que alimenta o corpo, o emocional, o psíquico, o espiritual e o social. Lugar fecundo, onde o imprevisível pode acontecer.

Quê fazia e quê queria fazer Jesus na Última Ceia? A chave de resposta está no capítulo 13 de João; a única forma de compreender a Eucaristia é entender o Lava-pés. O gesto escandaloso de Jesus revela um enfoque nem sempre percebido em seu sentido último. Jesus não faz um gesto teatral; Ele revela aos apóstolos um “novo ângulo” ou um novo modo de ver as coisas: não a partir do lugar dos comensais, mas a partir da perspectiva de quem não está sentado à mesa.


O gesto de Jesus nos convida a deslocar-nos, ou seja, ocupar o lugar da pessoa que não participa da mesa. Quê novidade percebemos a partir deste lugar? “Fazer memória” dos que não estão junto à mesa significa ter presentes àqueles que estão afastados ou excluídos, porque não compartilham a mesma fé, ou o nível social, nossa formação religiosa, nossa ma-neira de pensar e de viver. Fazemos memória de Jesus quando, a partir desta perspectiva, nos pergunta-mos o que deveria ser feito de criativo por eles.


Como se pode fazer memória do desejo tão intenso de Jesus, de fazer sentar a todos como irmãos ao redor da mesa, sem abrir possibilidade para que essas pessoas possam se sentir como em casa? Jesus adverte que não se pode entender sua vontade de que os excluídos participem na ceia se vemos as coisas como comensais e não como excluídos.


A refeição compartilhada deveria ser o “fiscal” permanente de nossa traição aos ideais de Jesus.
Se somos seguidores de Jesus não deveríamos mais falar de “marginalizados”, pois essa linguagem indica que nos situamos no centro, “perto” de Deus e colocamos os demais distantes de nós e “longe” de Deus. Pareceríamos ao fariseu que perguntou a Jesus quem era seu “próximo” e o “distante” a quem devia ajudar (Lc. 10,25-37). Jesus lhe deu a entender que a questão estava mal colocada. Não se trata de buscar o “próximo” entre os marginalizados, mas de deslocar-se para a margem e colocar os outros no centro. Só dessa forma é possível olhar e aproximar-se do próximo.


A autêntica questão é de quem queremos nos aproximar.

Recordar os excluídos da mesa permite recuperar o sentido profundo daquilo que se chama “sacrifício da missa”. Sacrificar significa transformar.
E aqui poderíamos recuperar o sentido original bíblico de “sacrifício”, que não significa simplesmente imolação, penitêntica... “Sacri-ficar” (do latim, “sacrum facere” ) é “tornar santo”. Tanto o Primeiro como o Segundo Testamento nos ensinam que a melhor coisa que podemos transformar em “sacrifício”, em coisa santa para oferecer a Deus, é a própria vida e tudo o que fazemos. Nesse sentido, a referência máxima de “sacrifício” foi o próprio Jesus. Ele é o sacrifício, a “realidade santa” por excelência, por sua verdade, sua fidelidade e disposição para fazer a Vontade do pai e exercer a sua missão.


O que faz o sacrifício é a oblação, a entrega, deixar Deus ser Senhor da nossa vida. Nosso sacrifício de hoje nos deve colocar em atitude de poder transformar a situação daqueles que não tem lugar e nem amigos, dos “distantes”, dos “enfermos”, aqueles que “não são como nós”, ou não pensam como nós, os “marginalizados”...


Assim fica claro que não é normal que haja pessoas excluídas da refeição, quando todos fomos criados para sentarmos como irmãos na mesma mesa do Pai. Enquanto houver excluídos não será o banquete que quis Jesus, e portanto, é necessário dar-se conta da exigência de mudança para que todos eles possam participar. Somente fazendo-nos solidários da promoção e libertação daqueles que não se sentam à mesa comum poderemos realizar, na verdade, a prática do sacrifício de Jesus.


Esse era o desejo que habitava o mais profundo do coração d’Ele: reunir todos os homens e mulheres ao redor de uma mesa, sem exclusões e nem marginalizações.
Não é possível reconhecer o Corpo do Senhor presente na Eucaristia se não se reconhece o Corpo do Senhor na comunidade onde alguns passam necessidades. Pois, se fechamos os olhos às divisões e às desigualdades mentimos ao dizer que Cristo está presente na Eucaristia. “Enquanto houver fome em alguma parte do mundo, a Eucaristia estará incompleta em todas as partes do mundo” (Pedro Arrupe).


Enquanto não nos mobilizamos a mudar nossa sociedade de maneira que mais pessoas aceitem a alegria de compartilhar o pão e a vida, faltará algo em nossa Eucaristia. Essa “ferida” o cristão deve sempre tê-la presente.

Textos bíblicos: Jo. 13,1-17 1Cor. 11,17-34

Na oração: - A quem fazemos sentar à nossa mesa: a mesa de nosso tempo, nossa

amizade, nossos bens,...?


- A quem excluímos e por quê?


Pensamento do dia (04/04)



"Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo." 2 Coríntios 1:5


Pensamento: Quem de nós nunca precisou de um consolo em meio a tribulações, é um momento para desabafar e reanimar. Mas o verdadeiro consolo é aquele que vem de Deus, nos enche de paz, e permanece em todo o tempo, nos vivifica, da forças e alegria mesmo na tribulação, faz-nos sentir seguros, não termos medo seja qual for o inimigo. Que nunca percamos a esperança em nosso Deus, que estejamos sempre buscando de seu consolo através de Jesus nosso Salvador.

Oração: Senhor Deus, obrigado por estar presente em todos os momentos da minha vida, obrigado porque nas horas mais difíceis eu sinto que o Senhor está mais próximo, me sustentando, me consolando, me guardando, me livrando do mal, trazendo a paz mesmo em meio às dificuldades, a paz que só Jesus pode trazer aos nossos corações. Obrigado Senhor, porque eu sei que minha luta é passageira, logo eu poderei testemunhar o livramento e a vitória que o Senhor trouxe a mim. Eu oro em nome de Jesus. Amém.

Páscoa - Eis o Cordeiro de Deus (rEfLeXãO _ por Max Lucado)



 Eis o Cordeiro de Deus

Senhor? Sim.
Pode ser que eu esteja errando ao dizer isso, mas preciso lhe dizer algo que estou pensando.
Pode falar.
Eu não gosto deste versículo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Não parece com você; não parece algo que o senhor diria.
Normalmente eu adoro quando você fala. Eu escuto quando você fala. Eu imagino o poder de sua voz, o trovoar dos seus mandamentos, o dinamismo em suas ordens. Isso é o que eu gosto de ouvir.
Lembre-se da canção de criação que você cantou na silenciosa eternidade? Ah, agora isso é você. Este era o ato de um Deus!
E quando você ordenou as ondas a salpicarem e elas rugiram, quando você mandou que as estrelas fossem arremessadas e elas voaram, quando você proclamou que a vida fosse vivida e tudo começou? . . . Ou o sussurro de respiração no barro assado que seria Adão? Isso era o seu melhor. É assim que eu gosto de lhe ouvir. Esta é a voz que eu adoro ouvir.
É por isso que eu não gosto deste versículo. É realmente você falando? Essas palavras são realmente suas? Essa é de fato sua voz? A voz que acendeu um arbusto, dividiu um mar, e enviou fogo de céu?
Mas desta vez sua voz é diferente.
Olhe para a declaração. Há um “por que” no início e um ponto de interrogação ao fim. Você não faz perguntas.
O que aconteceu com o ponto de exclamação? Esta é sua marca registrada. Esta é sua assinatura. A marca tão alta e forte quanto as palavras que precedem.
Está no fianl de seu comando para Lázaro: “Venha!”[1]. Está lá quando você exorciza os demônios: “Vá!”[2]
Está lá tão valentemente quanto você quando você caminha por sobre as águas e fala para os seguidores: “Tenham Coragem!”[3]
Suas palavras merecem um ponto de exclamação. Eles são o estrondo de címbalos do final, o tiro de canhão de vitória, a trovada conquistadora de carruagens.
Seus verbos abrem desfiladeiros e acendem os discípulos. Fale, Deus! Você é o ponto de exclamação da própria vida. . .
Então, por que o ponto de interrogação que paira sobre o término de suas palavras? Delicado. Dobrado e curvado. Inclinado como se estivesse cansado. Tomara que você o endireitasse. Estire. Faça-o ficar reto e alto.
E já que estou sendo bem franco com você – eu também não gosto de ver a palavra abandonar. A fonte de vida. . . abandonado? O doador de amor. . , só? O pai de tudo. . . isolado?
Veja bem. Certamente você não quer dizer isso. Pode a divindade se sentir abandonada? Nós poderíamos mudar um pouco a declaração? Não muito. Só o verbo. O que você sugeriria?
Que tal desafio? “Meu Deus, meu Deus, por que me desafiaste?”
Não é melhor? Agora nós podemos aplaudir. Agora nós podemos erguer bandeiras para sua dedicação. Agora nós podemos explicar isso aos nossos filhos. Agora faz sentido. Agora, isso lhe faz um herói. Um herói. A história está cheia de heróis.
E quem é um herói senão aquele que sobrevive a um desafio.
Ou, se isso não for aceitável, eu tenho outro. Por que não aflição? “Meu Deus, meu Deus, por que me afligiste?” Sim, é isso mesmo. Agora você é um mártir, fincando o pé para a verdade. Um patriota, perfurado pelo mal. Um soldado nobre que levou a espada toda até o cabo; ensangüentado e machucado, mas vitorioso.
Afligido é muito melhor que abandonado. És um mártir. Lá bem ao lado de Patrick Henry e Abraham Lincoln.
Você é Deus, Jesus! Você não pôde ser abandonado. Você não pôde ser deixado só. Você não pôde ser abandonado em seu momento mais doloroso.
Abandono. Isso é o castigo para um criminoso. Abandono. Isso é o sofrimento agüentado pelos piores. Abandono. Isso é para o vil – não para você. Não você, o Rei de Reis. Não você, o Princípio e o Fim. Afinal de contas, não foi você que João chamou de Cordeiro de Deus?
Isso é que é nome! Isso é que é você. O Cordeiro imaculado e puro de Deus. Eu posso ouvir João dizendo as palavras. Eu posso vê-lo erguendo os olhos. Eu o vejo sorrir e apontar para você e proclamar alto o bastante para todo o Jordão ouvir, “Veja o Cordeiro de Deus. . .” E antes dele terminar a declaração, todos os olhos viram para você. Jovem, bronzeado, robusto. Ombros largos e braços fortes.
“Veja o Cordeiro de Deus. . .” Você gosta daquele versículo?
Eu gosto muito. Deus. É um dos meus favoritos. É você. E a Segunda parte?
Hummm, deixe-me ver se eu me lembro. “Veja o Cordeiro de Deus que veio tomar o pecado do mundo”.[4] Não é isso, Deus?
É isso aí. Pense no que o Cordeiro de Deus veio fazer.
“Que veio tomar o pecado do mundo.” Espere um minuto. “Tomar o pecado. . .” Eu nunca tinha pensado nessas palavras.
Eu as li mas nunca pensei sobre elas. Eu pensei que, sei lá, você simplesmente tivesse mandado o pecado embora. Baniu-o. Eu pensei que você apenas tinha ficado diante das montanhas de nossos pecados e as mandado sumir. Como você fez com os demônios. Como você fez com os hipócritas no templo.
Eu pensei que você simplesmente tinha mandado o mal embora. Eu nunca notara que você o tinha tomado. Nunca me ocorreu que você de fato o tocou - pior ainda, que o pecado lhe tocou.
Isso dever ter sido um momento terrível. Eu sei o que é ser tocado por pecado. Eu sei o que é sentir o fedor dele. Lembra como eu era antes? Antes de eu lhe conhecer, eu me espojei naquele lamaçal. Eu não só toquei pecado, eu o amei. Eu o bebi. Eu dancei com ele. Eu estava no meio dele.
Mas por que eu estou lhe falando? Você se lembra. Foi você que me viu. Foi você que me achou. Eu estava só. Eu tinha medo. Lembra? “Por que? Por que eu? Por que estou tão machucado?”
Eu sei que não era uma boa pergunta. Não era a pergunta certa. Mas era tudo eu conseguia perguntar. Veja, Deus, eu me sentia tão confuso. Tão desolado. Pecado faz isso com você. Pecado lhe deixa naufragado, órfão, à toa, aban–
Ó Meu Deus. Foi isso que aconteceu? Quer dizer que o pecado fez o mesmo a você que fez a mim?
Eu sinto muito. Ó, eu sinto tanto. Eu não sabia. Eu não entendi. Você realmente estava só, não foi?
Sua pergunta foi real, não foi, Jesus? Você realmente sentiu medo. Você realmente estava só. Como eu estava. Só que, eu merecia. Você não.
Perdoe-me, eu falei sem pensar.
[1] João 11:43
[2] Mateus 8:32
[3] Mateus 14:27
[4] João 1:29


terça-feira, 3 de abril de 2012

A Páscoa e seus significados


A Páscoa é uma das datas comemorativas mais importantes entre as culturas ocidentais. Trata-se de uma festa cristã que celebra a ressurreição de Jesus Cristo. Entre os cristãos, a semana anterior à Páscoa é considerada como Semana Santa. Esta semana tem início no Domingo de Ramos que marca a entrada de Jesus na cidade de Jerusalem.

A Páscoa judaica

Para os judeus, a Páscoa também tem um significado muito importante, pois marca o a fuga do povo judáico do Egito, onde foram aprisionados pelos faraós durantes vários anos. Esta história encontra-se no Velho Testamento da Bíblia, no livro Êxodo. Para comemorar a Páscoa, os judeus fazem e comem o matza (pão sem fermento) para lembrar a rápida fuga do Egito, quando não sobrou tempo para fermentar o pão.


A origem do termo Páscoa


A palavra Páscoa advém do termo em hebraico Pesach, cujo sentido simbólico é de "passagem", comum às celebrações pagãs (passagem do inverno para a primavera) e judaicas (da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida). Tanto no significado judeu quanto no cristão, esta data relaciona-se com a esperança de uma vida nova.

A Páscoa está repleta de símbolos. Entenda o significado de alguns deles:


Os ovos de páscoa
Na antiguidade os egípcios e persas costumavam tingir ovos com cores da primavera e presentear os amigos. Para os povos antigos o ovo simbolizava o nascimento. Os cristãos primitivos do oriente foram os primeiros a dar ovos coloridos na Páscoa simbolizando a ressurreição, o nascimento para uma nova vida. Os ovos não eram comestíveis, como se conhece hoje. Era mais um presente simbólico.

O chocolate
As civilizações dos maias e astecas consideravam o chocolate como algo sagrado, tal qual o ouro. Os astecas usavam-no como moeda. Na Europa o chocolate aparece a partir do século XVI. Já os bombons e ovos, como conhecemos, surgiram no século XX.

Os coelhos 
A tradição do coelho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães em meados do século 18: o coelho "visitava" as crianças e "escondiam" os ovinhos para que elas os procurassem. No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento, a vida. É também o símbolo da fertilidade e da abundância da vida.

A cruz da ressurreição
Traduz, ao mesmo tempo, sofrimento e ressurreição.

O pão e o vinho
Na ceia sagrada, Jesus escolheu o pão e o vinho para dar vazão ao seu amor. Representando o seu corpo e sangue, o pão e o vinho foram dados aos seus discípulos para celebrar a vida eterna.

O cordeiro
Para os católicos, simboliza Cristo, que é o cordeiro de Deus, e se sacrificou em favor de todo o rebanho.


Por que a Páscoa nunca cai no mesmo dia todo ano?


O dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da lua cheia que ocorre no dia ou depois do dia 21 março. Entretanto, a data da lua cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas - a igreja, para obter consistência na data da Páscoa, decidiu no Conselho de Nicea em 325 d.C. definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária - conhecida como a "lua eclesiástica".

A Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, e a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. Esse é o período da quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas. A sequência de datas varia de ano para ano, sendo, no mínimo, em 22 de março e no máximo em 24 de abril, transformando a Páscoa numa festa "móvel".

Feliz Páscoa



   Há dois mil anos atrás, um homem veio ao mundo disposto a ser o maior exemplo de amor e verdade que a humanidade conheceria.
   Sua proposta de vida não foi entendida por muitos e, então, condenaram este homem e crucificaram-no, ignorando todos os seus propósitos de um mundo melhor.
   Houve dor, angústia e escuridão.
   Por três dias, o sol se recusou a brilhar, a lua se negou a iluminar a Terra, até que no terceiro dia algo aconteceu...
   Houve a ressurreição!
   A Páscoa existe para nos lembrar deste espetáculo inigualável chamado ressurreição!


Páscoa...
Ressurreição do sorriso...
Ressurreição da alegria de viver...
Ressurreição do amor...
Ressurreição da amizade...
Ressurreição da vontade de ser feliz!
Ressurreição dos sonhos, das lembranças e de uma verdade que está acima dos ovos de chocolate:
Cristo morreu, mas ressuscitou, e fez isso somente para nos ensinar a matar os nossos piores defeitos e ressuscitar as maiores virtudes sepultadas no íntimo de nossos corações.
Que esta seja a verdade da nossa Páscoa.

UM DEUS SUPREENDENTE

NÃO PODEMOS SEPARAR DEUS DO SOFRIMENTO DOS INOCENTES


Identificado com as vítimas


Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo puderam suportar a novidade de Jesus. Sua forma de entender e de viver Deus era perigosa. Não defendia o império de Tibério; chamava todos a procurar o Reino de Deus e sua justiça. Não considerava importante quebrar as leis do sábado nem as tradições religiosas; somente lhe preocupava aliviar as dores das pessoas enfermas e desnutridas da Galileia.
Mas isso não foi perdoado. Ele se identificava demais com as vítimas inocentes do império e com os esquecidos pela religião do templo. Executado sem piedade em uma cruz, nele Deus revela-se a nós sempre identificado com todas as vítimas inocentes da história. Junto ao grito de todos, eles unem-se agora ao grito da dor do mesmo Deus.
Nesse rosto desfigurado do Crucificado revela-se a nós um Deus surpreendente, que quebra nossas imagens convencionais de Deus e põe em questão toda prática religiosa que tente dar culto a Deus, esquecendo o drama de um mundo no qual se segue crucificando aos mais frágeis e indefesos.
Se Deus foi morto identificado com as vítimas, sua crucifixão converte-se num desafio inquietante para os seguidores de Jesus. Não podemos separar Deus do sofrimento dos inocentes. Não podemos adorar o Crucificado e viver dando as costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, guerras e miséria.
Deus continua interpelando-nos desde todos os crucificados do nosso tempo. Não podemos continuar vivendo como expectadores desse sofrimento tão grande, alimentando nossa ingênua ilusão de inocência. Temos que nos manifestar contra essa cultura do esquecimento que permite isolarmos dos crucificados deslocando o sofrimento injusto que há no mundo para uma distância onde desapareça o clamor, o gemido e o pranto.
Não podemos nos fechar em nossa sociedade do bem-estar, ignorando essa outra sociedade do mal-estar na qual milhares de pessoas nascem somente para extinguir-se aos poucos anos de uma vida que somente foi morte. Não é humano nem cristão nos instalar na seguridade esquecendo aos que somente conhecem uma vida insegura e continuamente ameaçada.
Quando os cristãos dirigiram seus olhos até o rosto do Crucificado, eles contemplaram o amor imenso de Deus que se entregou até a morte por nossa salvação. Se olharmos mais detidamente, logo descobriremos o rosto de muitos crucificados que, longe ou perto de nós, estão reclamando nosso amor de solidariedade e compaixão
José Antonio Pagola
Por Instituto Humanitas Unisinos
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