sábado, 25 de fevereiro de 2012

Fraternidade e Saúde Pública: um gRaNdE desafio


Por:
Gilvander Moreira

"A saúde é direito de todos e dever do Estado.” (Art. 196 da CF/1988)

Desde 1963, há 49 anos, a CNBB[2], anualmente, durante os 40 dias da quaresma, promove a Campanha da Fraternidade – CF -, que tem colocado para estudo, reflexão e ação assuntos que são grandes desafios – clamores ensurdecedores - no seio da sociedade. O Tema da CF/2012 é "Fraternidade e Saúde pública"; o Lema: "Que a saúde se difunda sobre a terra!" (Eclo 38,8). Somos convidados conhecer as entranhas da realidade do SUS[3], visitar pronto-socorros, ouvir as pessoas doentes que esperam muito para fazer exames e conseguir uma vaga para cirurgia no SUS. É hora de ouvirmos o apelo de 150 milhões de brasileiros que só tem como rara possibilidade de acessar saúde pública, via SUS.

A Organização Mundial da Saúde – OMS - definiu a saúde não como “ausência de doenças”, mas como “um estado de completo bem-estar físico, mental, social e espiritual”[4]. Levada a sério, esta definição coloca em questão a base da medicina moderna. Em nossos hospitais e clínicas, quantos médicos e enfermeiros compreendem a saúde de modo integral? Onde as pessoas são atendidas, visando a saúde não só física, mas também mental, social e espiritual? A medicina de órgãos, por si só, é incapaz de resgatar saúde integral.





A saúde depende também de paz interior, de equilíbrio entre a pessoa e o seu ambiente social e, finalmente, da relação entre o ser humano e o universo. Toda doença tem conexão com a força vital e espiritual do universo. Os gregos ensinavam que a “simpatia” entre as partes do corpo e os elementos da natureza fará com que se possa encontrar remédio para tudo. Basta colaborar com a natureza.
Povos indígenas, nas margens do lago Titicaca, no altiplano peruano, dizem que todo ser humano tem três almas: a física, a interior e uma que nos liga ao universo. A pessoa fica doente quando “perde” uma destas almas. A cura consiste em recuperar a alma perdida.

Infelizmente, o cristianismo incorporou da cultura ocidental uma visão dualista que fragmenta corpo e alma, matéria e espírito. Privilegia, assim, um racionalismo abstrato que faz da religião mais um sistema de crenças intelectuais do que um caminho de amor e integração. Os evangelhos da Bíblia relatam que Jesus enviou os seus discípulos e discípulas para anunciar o Reino de Deus, curando as doenças e expulsando o mal que tomava conta das pessoas. O galileu de Nazaré, pela ternura e solidariedade, curou paralíticos, perdoou pecados para que as pessoas doentes se sentissem integradas com seu eu mais profundo, com Deus, um mistério de amor que nos envolve, com a comunidade e com toda a biodiversidade. O universo tem a cura para toda doença. A saúde mais profunda está escondida no fundo do coração de todo ser humano. Unindo as cordas do universo e do coração reencontramos saúde e salvação.

A Constituição Federal de 1988 – CF/88 - afirma: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196). No caso de crianças e adolescentes, o direito à saúde deve ser assegurado com "absoluta prioridade” (Art. 227).
Temos, no Brasil, dois sistemas de saúde: a) Um público: o SUS, para os pobres; b) Outro privado, o dos planos de saúde, que atende 25% do povo, cerca de 50 milhões de pessoas. Milhares de pessoas pobres se sujeitam a continuar em-pregado em grandes empresas, porque estas oferecem plano privado de saúde. Ou seja, o caos no SUS leva empresas a arrochar salários, pois seguram trabalhadores ao ofertarem planos privado de saúde.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Reflexão do dia



"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)






(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."


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Por Leonardo Boff

Pequena reflexão cristã sobre o Carnaval

- Aproxima-se o período do Carnaval e, automaticamente, desperta em nós a ânsia em estarmos reunidos com os amigos, buscando a diversão, a alegria, com direito a muita música e agitação! Para a maioria, é assim!




Mas, afinal, por que celebramos o Carnaval?

Etimologicamente, o termo Carnaval advém, dentre várias interpretações, de “carne vale” que significa “adeus carne” ou “despedida da carne”, pois que permitido o consumo de carne no tríduo que antecede a quarta-feira de cinzas, marco da Quaresma. (período durante o qual é recomendada a prática da penitência e abstinência de carnes vermelhas).
Desde a origem da festividade do Carnaval, há um contraste entre o carnaval cristão e o carnaval pagão. E, de fato, percebemos ainda hoje essa discrepância.

De um lado, muitos jovens aproveitam essa data para extravasarem seus desejos, influenciados pela sensação de ”liberdade”, em que tudo é permitido. É comum, portanto, vermos nos carnavais a presença do excesso: de bebidas, de drogas, do apelo sexual etc. Vale lembrar que estes “sintomas” são perceptíveis, também, em outras épocas do ano, não apenas no carnaval.

Tal comportamento vem acompanhado do vazio, da “ressaca moral”, da ausência daquilo que verdadeiramente é capaz de nos preencher: o amor, a paz no coração, a liberdade de poder dizer SIM e NÃO.

“Liberdade é ter O Amor pra se prender...”

Por outro lado, o carnaval cristão experimenta a verdadeira alegria de estar na presença viva e real do Amor. O dançar, o cantar, o comportar-se muda de feição. Aqui, tudo o que é do bem e para o bem é permitido. Todos somos chamados a viver e aproveitar o tempo do Carnaval, que é tempo de festejar, com a alegria própria que o momento requer, sem, no entanto, extremar os excessos.

Fomos criados para amar ao próximo como a nós mesmos; para propagar e incentivar aquilo que é bom e verdadeiro; para vivermos conforme nos exige o senso de responsabilidade social, respeitando os limites da coletividade. Não somos meros expectadores da vida, mas estamos aqui, para sermos os atores, exercendo fielmente nosso papel de cristãos, com alegria e entusiasmo, com música e dança, com amigos e familiares, com respeito e fraternidade. Com amor!

Vivemos, sim, no mundo; e o mundo precisa, sim, de nós: jovens de calça jeans que amam, que dançam, que se divertem, e que sabem, acima de tudo, viver e fazer suas escolhas com o olhar para o Alto!

Quantos jovens desejam encontrar a felicidade que o mundo não nos proporciona? Como é difícil, por vezes, aceitar e desejar as coisas do Pai! O mundo nos põe à prova a todo momento. O Carnaval alimenta em nosso espírito uma propensão ao pecado, a desejar o que não é saudável, tirando-nos do foco. Sim, isso acontece com muitos.

O momento é propício para que analisemos tudo aquilo que nos mancha, que nos tira a paz de estar em paz com Deus. É tempo, pois, de iniciar ou persistir no chamado à conversão, preparando nossos corações para a Quaresma.

Independente do local onde você for passar o Carnaval, o segredo é não perder o senso de responsabilidade cristã.

Proponho a todos, e a mim mesma, vivenciar um carnaval de paz, sem excessos...

Um carnaval de dentro pra fora, onde nós possamos aproveitar três dias de alegria plena e duradoura.

"Orai e vigiai, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 14, 38).




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por
Sabrina Tabatinga Araujo Bacharela em Direito, Serva GSV (Grupo São Vicente). Paróquia de São Vicente/ Fortaleza-Ce.

Medicamentos Falsificados



Paraná, São Paulo e Santa Catarina são os estados que mais recebem medicamentos falsos, afirma estudo

Segundo pesquisa, os medicamentos para tratamento da disfunção erétil masculina e anabolizantes lideram a lista de falsificações que entram no Brasil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 30% dos medicamentos que circulam no Brasil são remédios falsificados. O artigo "Falsificações de medicamentos no Brasil” procurou identificar os principais medicamentos falsificados apreendidos pela Polícia Federal e os estados nos quais ocorreram apreensões. O estudo foi publicado na edição de fevereiro de 2012 na Revista de Saúde Pública.

As autoras Joseane Ames, da faculdade de farmácia PUC-RS e do programa de Pós-graduação em Química da UFRJ, e Daniele Zago Souza, do setor técnico-científico da Superintendência no Estado do Rio Grande do Sul - Departamento de Polícia Federal realizaram um estudo retrospectivo e descritivo dos laudos periciais da Polícia Federal. A pesquisa analisou os medicamentos contrafeitos apreendidos entre janeiro de 2007 e setembro de 2010.

Elas utilizaram a classificação da OMS para medicamento contrafeito, ou seja, "aquele deliberada e fraudulentamente alterado em sua identidade e/ou origem”. A falsificação é maior em regiões na quais a regulamentação e a aplicação de sistemas para fiscalização de medicamentos são menos rígidas, argumentam. Além disso, de acordo com a OMS, fatores como falta de legislação adequada, déficit na fiscalização, sanções penais fracas, situações de maior demanda do que oferta e altos preços contribuem para a prática, afirmam as especialistas.

De acordo com a pesquisa, os estados do Acre, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Roraima, Sergipe e Tocantins não apresentaram laudos de medicamentos falsificados. Todavia, nos demais estados ocorreram apreensões e Paraná, São Paulo e Santa Catarina produziram o maior número de laudos de medicamentos inautênticos. A unidade pericial do Paraná ainda registrou o maior número de remédios falsificados, sendo 62% em 2010, acrescentam as autoras.

Segundo as especialistas, 69% dos medicamentos falsificados eram remédios que auxiliam no tratamento da disfunção erétil masculina, como Viagra® e Cialis®, seguidos pelos esteróides anabolizantes (26%). Alguns desses medicamentos não apresentaram nenhum ingrediente ativo durante os exames químicos, informam. A pesquisa ainda mostrou que 49% dos medicamentos contrabandeados eram da indústria paraguaia.
Joseane e Daniele alertam que "as falsificações de medicamentos representam alto risco sanitário, pois nenhum dos medicamentos contrafeitos é submetido aos testes de qualidade e eficácia exigidos pela Anvisa”. Esses medicamentos podem não produzir os efeitos terapêuticos desejados e ainda provocar o surgimento de reações clínicas inesperadas, explicam. Para minimizar o acesso da população a medicamentos falsos, as autoras propõem a ampliação das ações de repressão, fiscalização e educação pelas agências regulatórias da saúde, órgãos policiais e governo federal, pois "o consumo desses medicamentos causa enorme prejuízo aos pacientes e à saúde pública do país”, concluem as especialistas.

Por : Adital
Para ler o artigo na íntegra, acesse:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100019&lng=pt&nrm=iso

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

TEMPO QUARESMAL

                                          TEMPO QUARESMAL:
   QUEM É O “SENHOR” QUE MOVE O MEU CORAÇÃO?

  
                           “Rasgai o coração e não as vestes”
                                        (Joel 2,13)

QUARESMA: Tempo litúrgico forte de reconstrução de si e da comunidade; tempo que coloca em questão a razão de ser da vida – Para que vivemos? Qual a finalidade do ser humano? Sobre quê está fundamentada a nossa vida? Para onde caminhamos?

Nesse sentido dizemos que quaresma é um tempo forte de conversão; para isso ela tem sua linguagem, sua celebração, seus exercícios e seus ritos de conversão...

Na perspectiva cristã, conversão não é simples mudança exterior no modo de ser e agir, mas “mudança de senhor”; quaresma é tempo de troca de comando, tempo forte para consultar o interior e verificar qual é o “senhor” que move o nosso coração.

É neste contexto de conversão que se situam as práticas quaresmais: oração, jejum e esmola. Através de uma vivência mais radical dessas práticas começa a acontecer um deslocamento dos “falsos senhores” que habitam o nosso coração e, ao mesmo tempo, amplia-se o espaço interior para a presença e ação do “verdadeiro Senhor”.

A ORAÇÃO, o JEJUM e a ESMOLA são como um resumo da vida cristã; condensam o sentido da vida. A vida é um mergulho no mistério de Deus (oração), um abrir-se aos outros (esmola) e capacidade de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). Tais “exercícios quaresmais” só tem sentido se nos levam a uma identificação com Jesus Cristo; são exercícios que alimentam e sustentam nosso seguimento de Cristo.

E aqui poderíamos recuperar o sentido original bíblico de “sacrifício”, que não significa simplesmente imolação, destruição, penitêntica... “Sacrificar” (do latim, “sacrum facere”) é “tornar santo”. Tanto o Primeiro como o Segundo Testamento nos ensinam que a melhor coisa que podemos transformar em “sacrifício”, em coisa santa para oferecer a Deus, é a própria vida e tudo o que fazemos. Nesse sentido, a referência máxima de “sacrifício” foi o próprio Jesus. Ele é o sacrifício, a “realidade santa” por excelência, por sua verdade, sua fidelidade e disposição para fazer a Vontade do Pai e exercer a sua missão. O que faz o sacrifício é a oblação, a entrega, deixar Deus ser Senhor da nossa vida.

1. ORAÇÃO: Toda a nossa vida deveria ser uma oração, ou seja, um “encontro” com Deus em todas as coisas e em todas as circunstâncias. A oração é passar do vazio de si à plenitude em Deus. O “sair de si mesmo” por meio de uma íntima relação pessoal com Deus é a dinâmica central da transformação do “eu” na vivência quaresmal. A oração passa a ser a “irrupção” do divino no mais profundo do “eu” humano. Des-centrada de si mesma, a pessoa deixa-se conduzir pela ação providente de Deus. Na quaresma, a Igreja evoca o Cristo em oração diante do Pai no deserto e nas montanhas.

2. JEJUM: O jejum é a capacidade de “ordenar” a própria vida para um fim (serviço e louvor de Deus); ao mesmo tempo é expressão de solidariedade e comunhão com os outros: é um chamado à partilha.

Somos livres quando podemos nos dispôr de nós mesmos, ou seja, quando nos libertamos dos “afetos desor-denados”, dos apêgos... O importante, no jejum, não é o que nós fazemos, mas o que Deus faz. Não estamos fazendo algo, mas estamos deixando-nos fazer por Deus. Na tradição dos Padres do Deserto, o jejum é o meio que nos possibilita criar um “espaço vazio” no qual o Espírito possa repousar, permitindo-nos distinguir o essencial do supérfluo.

Portanto, o jejum é um tempo em que damos maior liberdade a Deus para agir em nós, “ordenando” nossos afetos e orientando nossos impulsos instintivos. No seu relacionamento com a natureza criada o ser humano é chamado a ser livre, a ser senhor da criação. Por isso, a melhor penitência é “abrir espaço para Deus”; em outros termos, “jejuar é dar espaço para outras fomes” (N. Bonder).

O alimento e a bebida tornam-se símbolo de tudo quanto nos envolve. Porque é na ação do comer e do beber que o ser humano mais se apodera e apropria das coisas, correndo o risco de ser escravizado por elas. A atitude de liberdade diante do alimento torna-se símbolo de sua liberdade para com tudo quanto o envolve: bens materiais, poder, prazer absolutizado, idéias fechadas, uso do tempo, dos meios eletrônicos...

3. ESMOLA: A esmola atinge o relacionamento com o próximo na virtude teologal da caridade. O ser humano

recebeu tudo de seu Criador; tudo é dom para todos. Neste sentido, a esmola significa a atitude de doação gratuita, de serviço ao próximo com generosidade e desprendimento. É todo este mistério de abertura e acolhida em favor do próximo, sem esperar recompensa, na imitação de Jesus Cristo que deu sua vida pelos seus. É viver a partilha não só de bens materiais, mas o tempo, o interesse, o serviço, a aceitação...

Durante o tempo quaresmal, corresponde a cada pessoa encontrar sua ascese, ou seja, encontrar a maneira de ir esvaziando-se, despojando-se, para deixar espaço aos outros e ao Outro e chegar a viver em “estado de união”.

É urgente fomentar uma “cultura da solidariedade, da comunhão, da partilha...”, se não queremos nos desumanizar e nem desumanizar o planeta.

A ascese nos capacita para a sensibilidade cósmica; o ordenamento de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros. Quanto mais vivemos em Deus, menos somos nós o centro, menos dependentes das coisas e mais receptivos aos outros.

Textos bíblicos: Mt. 6,1-6.16-18 Joel 2,12-18


Na oração: - Qual é o seu estado de ânimo para viver a “travessia quaresmal”?

                      - Páscoa é passagem do “eu estreito” ao “eu expansivo e solidário”: 
                        Que setores de vida precisam passar por esta transformação?


                                                  Texto gentilmente oferecido por Pe. Adroaldo.

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