domingo, 25 de julho de 2010

(vídeo) Orando com São Francisco

Francisco de Assis por Leonardo Boff


Quem diria que um homem que viveu há mais de 800 anos viesse a ser referência fundamental para todos aqueles que procuram um novo acordo com a natureza e que sonham com uma confraternização universal? Este é Francisco de Assis (+1226), proclamado patrono da ecologia. Nele encontramos valores que perdemos como o encantamento face ao esplendor da natureza, a reverência diante de cada ser, a cortesia para com cada pessoa e o sentimento de irmandade com cada ser da criação, com o sol e a lua, com o lobo feroz e o hanseniano que ele abraça enternecido.

Francisco realizou uma síntese feliz entre a ecologia exterior (meio ambiente) e a ecologia interior (pacificação interior) a ponto de se transformar no arquétipo de um humanismo terno e fraterno, capaz de acolher todas as diferenças. Como asseverou Hermann Hesse:"Francisco casou em seu coração o céu com a terra e inflamou com a brasa da vida eterna nosso mundo terreno e mortal". A humanidade pode se orgulhar de ter produzido semelhante figura histórica e universal. Ele é o novo, nós somos o velho.

O fascínio que exerceu desde seu tempo até os dias de hoje se deve ao resgate que fez dos direitos do coração, à centralidade que conferiu ao sentimento e à ternura que introduziu nas relações humanas e cósmicas. Não sem razão, em seus escritos a palavra "coração" ocorre 42 vezes sobre uma de "inteligência”, "amor" 23 vezes sobre 12 de "verdade", "misericórdia" 26 vezes sobre uma de "intelecto". Era o "irmão-sempre- alegre" como o alcunhavam seus confrades. Por esta razão, deixa para trás o cristianismo severo dos penitentes do deserto, o cristianismo litúrgico monacal, o cristianismo hierático e formal dos palácios pontifícios e das cúrias clericais, o cristianismo sofisticado da cultura livresca da teologia escolástica. Nele emerge um cristianismo de jovialidade e canto, de paixão e dança, de coração e poesia. Ele preservou a inocência como claridade infantil na idade adulta que devolve frescor, pureza e encantamento à penosa existência nesta terra. Nele as pessoas não comparecem como "filhos e filhas da necessidade, mas como filhos e filhas da alegria" (G. Bachelard). Aqui se encontra a relevância inegável do modo de ser do Poverello de Assis para o espírito ecológico de nosso tempo, carente de encantamento e de magia.

Estando certa vez, no dia 4 de outubro, festa do Santo, em Assis, naquela minúscula cidade branca ao pé do monte Subásio, celebrei o amor franciscano com o seguinte soneto que me atrevo a publicar:


Abraçar cada ser fazer-se irmã e irmão,
Ouvir a cantiga do pássaro na rama,
Auscultar em tudo um coração
Que pulsa na pedra e até na lama,


Saber que tudo vale e nada é em vão
E que se pode amar mesmo quem não ama,
Encher-se de ternura e compaixão
Pelo bichinho que por ajuda clama,


Conversar até com o fero lobo
E conviver e beijar o leproso
E, para alegrar, fazer-se de joão-bobo,


Sentir-se da pobreza o esposo
E derramar afeto por todo o globo:
Eis o amor franciscano: oh supremo gozo!

Leonardo Boff é teólogo e ex-frade franciscano

terça-feira, 20 de julho de 2010

Feliz dia do(a) amigo(a)



GRATIDÃO DE AMIGO
Pe Zezinho

Pela amizade que você me devota,
por meus defeitos que você nem nota...

Por meus valores que você aumenta,
por minha fé que você alimenta...

Por esta paz que nós nos transmitimos,
por este pão de amor que repartimos...

Pelo silêncio que diz quase tudo,
por este olhar que me reprova mudo...

Pela pureza dos seus sentimentos,
pela presença em todos os momentos...

Por ser presente, mesmo quando ausente,
por ser feliz quando me vê contente...

Por este olhar que me diz:
"Amigo, vá em frente!"

Por ficar triste, quando estou tristonho,
por rir comigo quando estou risonho...

Por repreender-me quando estou errado,
por meu segredo sempre bem guardado...

Por seu segredo, que só eu conheço
e por achar que só eu mereço...

Por me apontar pra Deus a todo o instante,
por esse amor fraterno tão constante...

Por tudo isso e muito mais eu digo:
"Deus te abençoe, meu querido amigo!"

Feliz Dia do Amigo!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dia 11 agosto se aproxima




"Clara de nome, mais clara de vida e claríssima de virtudes!" Neste dia, celebramos a memória da jovem inteligente e bela que se tornou a 'dama pobre'. Santa Clara nasceu em Assis (Itália), no ano de 1193, e o interessante é que seu nome vem de uma inspiração dada a sua fervorosa mãe, a qual [inspiração] lhe revelou que a filha haveria de iluminar o mundo com sua santidade.

Pertencente a uma nobre família, destacou-se desde cedo pela sua caridade e respeito para com os pequenos, por isso, ao deparar com a pobreza evangélica vivida por Francisco de Assis apaixonou-se por esse estilo de vida. Em 1212, quando tinha apenas dezoito anos, a jovem abandonou o seu lar para seguir Jesus mais radicalmente. Para isso foi ao encontro de Francisco de Assis na Porciúncula e teve seus lindos cabelos cortados como sinal de entrega total ao Cristo pobre, casto e obediente.

Ao se dirigir para a igreja de São Damião, Clara – juntamente com outras moças – deu início à Ordem, contemplativa e feminina, da Família Franciscana (Clarissas), da qual se tornou mãe e modelo, principalmente no longo tempo de enfermidade, período em que permaneceu em paz e totalmente resignada à vontade divina. Nada podendo contra sua fé na Eucaristia, pôde ainda se levantar para expulsar – com o Santíssimo Sacramento – os mouros (homens violentos que desejavam invadir o Convento em Assis) e assistir, um ano antes de sua morte em 1253, a Celebração da Eucaristia, sem precisar sair de seu leito. Por essa razão é que a santa de hoje é aclamada como a "Patrona da Televisão".


Santa Clara, rogai por nós!

Pela intercessão de Santa Clara, ó Senhor Todo Poderoso
me abençõe e proteja;
volte para mim os seus olhos misericordiosos,
dê-me a paz e a tranquilidade,
derrame sobre mim as suas copiosas graças e,
depois desta vida,
aceite-me no céu em companhia de Santa Clara
e de todo o santuário.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Rezar 1 Ave Maria, 1 Pai Nosso e fazer o Sinal da Cruz

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Do modo de servir e de trabalhar, escritos de São Francisco

Os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente. Porquanto diz o profeta: Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar (Sl 127,2); e o Apóstolo: Quem não quer trabalhar não como (2Ts 3,10). Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi chamado (1Cor 7,24). E como retribuição pelo trabalho podem aceitar todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro. E, se for necessário ter as ferramentas necessárias ao seu ofício.



Todos os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: “Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te encontre ocupado”; e ainda: “A ociosidade é inimiga da alma”. Por isso os servos de Deus devem estar sempre entregues à oração ou a qualquer outra boa obra.



Cuidem os irmãos, onde quer que estejam, nos eremitérios ou em outros lugares, de não apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a outrem. E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido, recebam-no com bondade. E onde quer que estejam os irmãos, e sempre que se encontrarem em algum lugar, devem
respeitar-se e honrar-se espiritualmente e diligentemente uns aos outros, sem murmuração (1Pd 4,9). E guardem-se os irmãos de se mostrarem em seu exterior como tristes e sombrios hipócritas. Mas antes comportem-se como gente qu8e se alegra no Senhor, satisfeitos e amáveis, como convém.


(Escritos e Biografias de São Francisco de Assis, Ed. Vozes-CEFEPAL, Petrópolis 1982, p. 146-147) (Séc. XIII)

História de Francisco de Assis por Stanislas Fumet - parte 2

A Ordem de São Francisco tinha-se desenvolvido. E só quando saía já da primeira infância, no momento da puberdade, é que o fundador se alarmou. Seria uma tentação?

No princípio, em 1212, quando falhara a missão de Francisco e dos companheiros no meio dos infiéis, quando o Poverello, tendo embarcado uma primeira vez em Ancona, para a Síria, na intenção de se dirigir à Terra Santa e na esperança de, aí, converter os muçulmanos, fora impedido pela tempestade de prosseguir para além das costas dálmatas, onde o barco encalhara, vivia, com os Irmãos, uma aventura deliciosa, livre de tudo, menos de amar, como no céu; a pregação de Francisco tinha-se limitado a evangelizar alguns marinheiros, mas as almas são maiores que o mundo. Os princípios da Ordem de São Francisco não foram só caracterizados por fiascos! Pelo contrário, a pesca tinha sido tão extraordinária que Francisco poderia dizer que só retinha o peixe grosso. Tendo consigo almas muito santas
, confiantes e ardentes, realizava o que alguns teriam chamado o seu sonho e que era o único imperativo do seu amor.

História de Francisco de Assis por Stanislas Fumet

São Francisco nasceu em 1182 na cidade de Assis (Itália), no seio de uma família abastada. Viveu e pregou infatigavelmente a pobreza e o amor de Deus a todos os homens. Fundou a Ordem dos Frades Menores (franciscanos); com Santa Clara, as Damas Pobres (clarissas); e a Ordem Terceira, para os leigos. Morreu em 4 de outubro de 1226.

O Poverello ganhou a alcunha à força de tornar visível no corpo a prática da pobreza espiritual. Desde o princípio da conversão, ou melhor, para sermos mais exatos, já antes de pensar em se converter, o que faz a originalidade de Francisco é a atração que sente pelos mendigos; o que há de mais elevado na sua alma é atraído pelos leprosos, tão repugnantes aos olhos da carne, mesmo na época em que, só a idéia da dor, como ele confessa, o aborrecia. Toda a cristandade gosta de recordar os primeiros gestos públicos de Francisco: preparava-se ele para ir com um nobre de Assis ao encontro do exército pontifício que estava na Apúlia. Esperava ser armado cavaleiro e, com esta intenção, arranja uma equipagem magnífica. No dia da partida, montado no seu cavalo, irradiando da cabeça aos pés, Francisco, tem a desgraça de encontrar um cavaleiro autêntico – cuja extrema pobreza o enche de compaixão. Ele, que ainda não é cavaleiro, não suporta tal injustiça. Entrega ao outro a capa e a túnica que levava e todo o seu equipamento de grande senhor.
Nessa mesma noite Francisco tem este sonho: alguém o chama pelo nome, lhe pega na mão e o conduz a um maravilhoso palácio, ornado com toda a espécie de armas.


É lá que vive uma moça deslumbrante que encanta Francisco. Mas o palácio torna-se mais maravilhoso à medida que ele o vai percorrendo. De quem é tudo isto? “Teu e dos que te seguirem”, respondeu o guia. E depressa se dá o encontro com a encantadora jovem. E assim, ao acordar, Francisco não esconde aos que o interrogam que está para se tornar um grande príncipe. Os companheiros de folia começam, então, a supô-lo apaixonado. “É verdade, diz, penso em casar-me. E vós nunca vistes noiva tão bela e tão nobre como a minha!”

O cavaleiro enamorado visitava os pobres da cidade e levava-lhes presentes. Nesse tempo, o mais elegante e o mais perdulário jovem de Assis só via na riqueza ocasião de distribuir, e nas posses ocasião de dar.
Na peregrinação para Roma, ainda fará mais. Indignado da mesquinhez dos cristãos na porta da Basílica de São Pedro, quer saber o que rende um dia de esmolas e de que modo em Roma se tratam os pobres. Compra, para isso, roupas a um miserável mendigo veste-as e, durante um dia inteiro, torna-se mendigo com os outros mendigos. É asperamente tratado como os outros, molestado como eles. Desde essa altura, sabendo o que custa ser pobre, sente-se mais próximo da Dama dos seus pensamentos.

Mas um leproso ainda é mais que pobre. Um leproso é pobre até na carne. Não está apenas reduzido aos seus limites carnais, é devorado na própria nudez. O leproso é o horror de Francisco. Encontrando um na beira da estrada, depois de uma volta a cavalo, salta para o chão, dá-lhe algum dinheiro e acompanha a esmola com um sorriso; depois, cheio de audácia, beija-lhe a mão e, louco, não fica por aí: abraça-o completamente. Alegria da Noiva no palácio da alma.

Cristo fá-lo seu confidente. Dirige-se através da expressão mímica de um crucifixo patético a este jovem delicado, folgazão, amigo de gozar. Pede-lhe no santuário de São Damião, como em sonhos, que restaure a igreja que cai em ruínas. O alegre trovador não hesita. Põe imediatamente mãos à obra. São Damião é uma autêntica leprosa. E, com o tempo, torna-se incontestável que esta pequena igreja leprosa é apenas o símbolo da grande Igreja de Deus. E com efeito, diz-se que o próprio papa Inocêncio III viu, em sonhos, Francisco de Assis erguê-la e ampará-la com todas as forças sobre-humanas. Tendo-lhe falado o crucifixo, não se sentirá Francisco crucificado em espírito? Ah! Que aventura! E é sempre a pobreza que vai beneficiar: Francisco... não vamos dizer que rouba o próximo, mas... tira dos armazéns do pai um lote de fazendas que vai vender a Foligno. Vende, também, o cavalo, que lhe pertence inteiramente. Depois entrega ao padre que guarda a igreja de São Damião, toda a quantia que cobrou para que se iniciem as obras. O guardião, inquieto, recusa o dinheiro, mas Francisco Bernardone, sem se comover, lança a bolsa pela janela.

Nada Nada é tão conhecido na vida de São Francisco como a série de acontecimentos que antecederam a sua vocação: as lutas com o pai, o refúgio numa gruta, o regresso a Assis, a maldição paterna, as zombarias dos habitantes da cidade, a crescente cólera do pai, que o espanca e o mantém prisioneiro, depois a transformação que se dá na vida do jovem, a partida de casa, a restituição do dinheiro e das roupas, a denudação magnífica ante o bispo e a perfeita libertação franciscana, o risco absoluto do Poverello.
Foi assim que se tornou o “arauto do grande Rei”, que anunciou as conquistas do Onipotente, de quem recebemos tudo e que está acima de tudo, porque este tudo vem depois dele, porque Ele não é nada do que é concebível e mensurável e porque nenhum atributo diz tanto dele como o amor indefinível. O arauto do grande Rei fazia-se mendigo de pedras. Propunha a todos que colaborassem na sua ação reparadora; prometia recompensas proporcionadas ao número de pedras que lhe fornecessem para reconstruir São Damião.

Francisco continua a beijar os leprosos; o célebre guloso regala-se com uma horrorosa caldeirada feita com os restos das tigelas que a boa gente de Assis despejou na gamela que ele estendia à sua caridade. O corpo revoltava-se, a alma maravilhava-se, o espírito exultava no Senhor, – e a Noiva do seu coração infinito vibrava de alegria no palácio do Absoluto onde habita o grande Rei. Reconstruiu outras igrejas e particularmente Santa Maria da Porciúncula, que tanto lhe convinha não só por ser pequena e isolada, no meio dos bosques, mas também por a dizerem freqüentada pelos anjos, e São Francisco não podia encontrar personagens que melhor o compreendessem que essas criaturas invisíveis e sempre tão ativas. Tendo de se ocupar dos homens, com certeza nunca os anjos tiveram maior consolação e mais profunda alegria do que ao servirem Maria, Nossa Senhora.

A Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, o mais pobre dos santuários, ia tornar-se o berço da Ordem Franciscana, o presépio, talvez, de um mundo novo. Foi lá que Francisco, ao assistir à Missa, teve o sentimento da literalidade do Evangelho quando Jesus envia os discípulos, através do espaço, pelos caminhos do tempo, com a recomendação: Ide e pregai, anunciando que o Reino está próximo. Não queirais possuir ouro nem prata, nem tragais dinheiro nas vossas cinturas, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão, etc.... Foi uma revelação para o neófito que gritava de alegria: “Eis, enfim, o que tenho procurado e o que eu quero de todo o meu coração!”

In continenti,tirou os sapatos, lançou fora o bordão e desfez-se da segunda túnica. Mandou fazer um fato em forma de cruz que é o escapulário franciscano, tirou o cinto para o substituir pela corda que todos os frades usarão à volta dos rins. E, pelo que consta, conseguiu em Assis o primeiro recrutamento, para a honra da sua Dama, a Pobreza. A pequena fraternidade ia-se agregando miraculosamente em torno da graciosa Dama dos sonhos de Francisco Bernardone, enquanto choviam sobre ele os escárnios e as injúrias da indignada população de Assis. [...] O bispo Guido, amigo de Francisco, preveniu-o contra os exageros. “Não se pode viver sem meios de subsistência! Quem vos diz que não irá morrer de fome uma irmandade como a que estais a formar?” “Se tivermos bens, responde Francisco, necessitaremos de armas para nos defendermos; e haverá histórias sem fim fim com todos os processos! Como poderíamos, depois, conservar o coração livre para amar a Deus?” O risco de não ter de comer e de estar privado de teto para se abrigar não lhe desagrada. E, além disso, há a Porciúncula, que é um pequeno lar todo de Deus. Quando pregarem nas imediações, ajudarão os pobres e dormirão como eles, sob os alpendres, sob o pórtico hospitaleiro das igrejas. “Depressa seremos oito companheiros. É verdade que os habitantes das cidades e das aldeias nos receberão, por vezes, como malfeitores, mas não somos nós todos malfeitores? Neste caso, por que razão nos queixaríamos?... ”

Quem será menos digno que Francisco! E quanto tempo perdeu nas dissipações da juventude! Foi-lhe dito na oração que tudo lhe fora perdoado e que agora se tratava de continuar a sua obra, sabendo que a irmandade da Pobreza se transformaria numa grande força que cobriria a terra inteira. Esta graça, recebida no decurso de uma viagem ao vale de Rieti, exatamente acima de Poggio-Bustone, animou-o tanto que quis contá-la aos companheiros de viagem. “O Senhor, disse-lhes, revelou-me que nos estenderemos até aos confins da terra”. Fala como o Evangelho. Tinha visto entrar na sua Ordem homens de todas as nacionalidades: franceses, espanhóis, alemães, ingleses, irmãos que se exprimiam em todas as línguas. Em Roma, perante o papa Inocêncio III, não receia empregar uma comparação para fazer aprovar a Regra: “Vivia uma mulher no deserto; era muito pobre, mas extremamente bela. Um rei amou-a, desposou-a e deu-lhe formosos filhos. Mais tarde, depois de o rei se ter ido embora, a mãe disse aos filhos quem os tinha gerado. Que lhes importava, afinal, serem tão pobres se a própria miséria era uma miséria de filhos de rei? Foram, então, ao encontro do rei seu pai, que os reconheceu pelo muito que se pareciam com ele e os fez seus herdeiros...” Inocêncio III aprovou a regra da pobre mulher do deserto, mas a título provisório. As qualidades da regra ressaltarão, com o tempo. Era a regra primitiva, a regra do perfeito risco.

Foi considerada inaplicável. No entanto, não era intenção de Francisco propor aos seus filhos algo de difícil. E foi aqui que começou o mal-entendido. Com Francisco trata-se de se ser feliz, de se estar na paz do Criador, em harmonia com a Criação. Mesmo quando se praticam ações reparadoras é como se reerguêssemos uma igreja, ou a Igreja de Deus. É construção na alegria, serviço benévolo; é misericórdia e não sacrifício. Os homens não têm o coração moldado como o dele: bem quereriam seguir à letra a regra de Francisco, mas não podem. Todo o drama franciscano está contido nisto. Francisco tem de modificar a regra primitiva; em 1221, escreve uma segunda versão, a que foi entregue ao Irmão Elias, que logo a perdeu. Sem desanimar, o fundador retira-se de novo para as montanhas para ditar uma terceira ao Irmão Leão, mas, no fundo, é sempre a mesma, a regra que os discípulos não querem. Não é contra a forma, é contra a essência da regra que se revoltam. Mas Francisco não pode ceder no essencial. O cardeal Ugolino, o futuro Papa Gregório IX, a quem Francisco apresenta esta regra sob uma forma que julga definitiva, não receia amputá-la aos olhos do Poverello, seu amigo, e se, mutilada, fica mais sólida, mais séria, mais adaptada à terra como toda a regra que se preza, poderemos imaginar o que teve de suportar o coração de Francisco diante desta cristalização que parecia tirar à sua obra todo o fervor divino.

aceitou da Santa Sé a supressão do artigo (outrora aprovado por Inocêncio III) que estipulava: “Quando os Irmãos forem através do mundo, não levem nada consigo, nem sacos, nem alforjes, nem pão, nem dinheiro, nem bordão, etc...” Houve outras supressões ditadas pela prudência romana, tão cautelosa na nossa submissão ao amor; por exemplo, a do capítulo que exortava os Irmãos a verificarem, nas aldeias onde passassem, se o Santíssimo Sacramento estava guardado em lugares convenientes e tabernáculos decentes para, no caso negativo, informarem o pároco. Francisco não tinha pensado nos conflitos que tais advertências fatalmente provocariam entre religiosos e seculares.

O que se conservou da regra primitiva foi a obrigação de praticar, apesar de tudo, a pobreza absoluta: pobreza que se traduzirá, materialmente, por trajos de preferência miseráveis e, espiritualmente, pela renúncia a fazer juízos sobre o próximo. Que forma tão requintada de pobreza! São obrigados a trabalhar, mas com a condição de o trabalho não destruir o espírito de oração; de o trabalho não cobrir a alma com os arreios das preocupações, de não embaraçar a sua nudez, de não a revestir contra a luz de Deus. Os Irmãos não possuirão nem as casas, que separam, nem terras, que nos fixam. Passarão pelo mundo como peregrinos, sem ganhar raízes; como estrangeiros, tendo consciência que estão no mundo sem estar, que não estão na sua casa, mas na casa de Deus, que está em toda a parte A regra, assim entendida, não perdeu, portanto, o seu vigor espiritual. Mas o que o pobre Francisco teve de suprimir era o que tinha de mais concreto: o hic et nunc sensível, num símbolo que, para Francisco, não é um intermédio espiritual entre o visível e o invisível, mas o lugar autêntico em que o invisível se torna visível. O cordeiro não representa Jesus Cristo: não o mostra, dá-o a tocar. Há que fazer compreender este milagre perpétuo a homens que têm necessidade de o pensar e de o demonstrar antes de o poder viver! Se há um erro no “sistema” do Poverello, não é culpa dele; é culpa nossa. O cardeal Ugolino, que admirava Francisco, devia sorrir ao ler certos textos; e não era por os não apreciar que os cancelava. Era cardeal e conhecia o mundo, as suas infernais faculdades de resistência. O generoso Francisco tinha, também ele, já uma idéia – experimentara-a bastantes vezes –, mas não era a mesma coisa: Francisco estava disposto a arrancar a essa resistência um acréscimo da alegria a que os espíritos mal informados persistem em chamar dor.

Mas não deixa de ser verdade, parece, que Francisco nunca sofreu tanto como por causa dessa criança enjeitada, filha da alma de Jesus Cristo, a sua regra, que assim desnaturavam a seus olhos. Já não podia defender os interesses de Cristo se se ligavam com o seu amor-próprio. Não podia ir contra o Pai, nem contra o Papa, nem contra a Igreja, ele que procurava a pobreza na obediência, a submissão absoluta “Pobre homem, porque estás tão triste? “, pergunta-lhe um dia o Senhor, que o vê afligir-se pelo estado moral dos Irmãos. E Jesus consola-o: “Não te perturbes; trabalha para a salvação!”
***

Francisco

terça-feira, 13 de julho de 2010


A Caridade

Carta de São Paulo aos cristãos e hoje:

"Se eu aprender inglês, alemão e chinês, e dezenas de outros idiomas,mas não souber
me comunicar como pessoa, e nada valem as minhas palavras.

Se eu concluir um curso superior, andar de anelno dedo, frequentar cursos emais
cursos de atualização, mas vivier distante dos problemas do povo,
minha cultura não passa de inútil erudição.

Se eu morar no Nordeste, mas esconhecer os problemas e sofrimentos de minha
região e fugir para féria do Sul, até na América ou Europa, e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão.

Se eu possuísse a melhor casa de minha rua, a roupa mais avançada
do momento e o sapato da moda, e não me lembrar que sou responsável
por aqueles que moram na minha cidade e andam de pés no chão, e se
cobrem de molambo, sou apenas um manequim colorido.

Se eu passar os fins de semana em festa e programs, sem ver a fome
o desemprego, o analfabetismo e a doença, sem escutar o grito abafado do povo que se arrasta á margem da história, não sirvo para nada.

O Cristão não foge dos desafios de sua época. Não fica de braços cruzados
de boca fechada, de cabeça vazia; não tolera a injustiça, nem as desigualdades gritantes de nosso mundo. luta pela verdade e pela justiça, com as armas do
Amor.

O cristão não desanima, nem se desespera iante das derrotas e dificulades
porque save que a única coisa que vai sobrar de tudo isos, é o Amor.

Dom Hélder Câmara

Paráfrase de 1Cor13

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Texto reflexivo do encontro do dia 10/07/10

PERSPECTIVA DE MISSÃO ASSUMIDA POR JESUS E POR
FRANCISCO E CLARA DE ASSIS
Alzira Munhoz – CF

Jesus foi provocado a abrir sua consciência e ampliar seu olhar para além das fronteiras judaicas

Antes de tudo é preciso dizer que no início de sua missão Jesus se compreende como missionário para o povo judeu e declara abertamente que não veio “senão para as ovelhas perdidas de Israel” . Poucas vezes os evangelhos o apresentam atuando fora do território palestinense. São sempre os gentios (os poucos que aparecem nas narrativas dos evangelhos) que se aproximam de Jesus; nunca o contrário. Mas, aos poucos Jesus vai percebendo que é preciso ampliar os horizontes. Temos que reconhecer que ele (ou as comunidades cristãs dos evangelhos) foi profundamente questionado e provocado a abrir sua consciência para além das fronteiras judaicas, desafiado por situações e problemas apresentados pelos próprios estrangeiros, como no caso da mulher anônima cananéia ou siro-fenícia, do centurião romano, dos pobres e dos samaritanos .

A opção teológica de Jesus pelo Reino

De outro lado, Marcos relata que após seu batismo Jesus declara o Reino como o eixo teológico da sua pregação-missão. E Lucas mostra que ela destina-se particularmente aos pobres e excluídos: “O Espírito do Senhor me ungiu e me enviou a proclamar a Boa-Notícia aos pobres e...” . Para realizar o projeto do Reino Jesus não se filiou a nenhum grupo de sua época (fariseus, saduceus, zelotas, essênios, herodianos...) porque percebia que a teologia desses grupos era muito particularista e discriminadora. Já a proposta reinocósmica de Jesus era aberta e inclusiva.

O Reino se caracteriza pela compaixão, gratuidade, misericórdia e justiça

Na trilha da teologia do Segundo e do Terceiro livro de Isaías , Jesus entende que o Deus do Reino caracteriza-se pela compaixão gratuita sobre bons e maus, justos e injustos, judeus e gentios, homens e mulheres, mas principalmente sobre os pobres, deserdados, pequenos e excluídos... . Sua preocupação missionária foi tentar fazer seus compatriotas – sobretudo os que exerciam influência sobre o povo – compreenderem que a dinâmica do Reino extrapolava as concepções teológicas e as práticas legais dos grupos de sua época. Por isso, Jesus não se preocupou em arrebanhar prosélitos como faziam os fariseus, e nem mesmo em arrebanhar discípulos ou converter gentios. O envio missionário visando que “todas as nações se tornem discípulas” deve ser compreendido no contexto pós-pascal das comunidades cristãs. Aliás, todos os envios missionários de Jesus, narrados nos evangelhos, são apresentados em contexto pós-páscoa .

O Reino está aberto a todas as pessoas e exige decisão, mas nem todas se comprometem com ele

Todavia, embora Jesus tenha delimitado sua pregação a Israel conclamando-o a se converter em vista da iminente manifestação do Reino de Deus, ele insistiu que o Reino estava aberto a todas as pessoas: publicanos, pecadores, pessoas fora da lei e até mesmo os gentios seriam incluídos conforme indica Mateus: “Eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se assentarão à mesa no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó” . Nessa mesma linha de abertura teológica situa-se o texto sobre o julgamento final .

Jesus escolhe deliberadamente seguir a teologia não oficial

Nesse contexto, fica mais clara para nós a opção teológica e missionária de Jesus: como leigo (Jesus nasceu, viveu e morreu leigo), ele tornou-se um adepto da teologia do Segundo e Terceiro Isaías. Toda a sua vida foi uma manifestação de repulsa à teologia excludente do sistema templo-sacerdócio-culto, e de rompimento com as regras de pureza legal mantida pelos doutores, escribas e sacerdotes em prejuízo da pertença dos pobres, dos pequenos e dos pecadores ao povo de Israel. Concretamente: o centurião, os leprosos, as prostitutas e outras mulheres, os publicanos, as crianças, os doentes, os samaritanos, os estrangeiros, enfim, uma multidão de pessoas excluídas e abandonadas à própria sorte.


Ele nunca apoiou e alimentou o culto e a teologia do Templo


A parábola do filho pródigo deve ser lida nesse contexto: aqueles judeus que se consideravam os “puros” e “bons”, que não transgrediam a lei, e os demais, que deviam ser malditos porque eram pecadores e impuros. As leis sobre o sábado, os ritos de purificação, as normas de comunicação, as questões étnicas, a relação com os estrangeiros, tudo foi questionado por Jesus. Ele nunca alimentou o sistema cúltico e a teologia do templo. Pelo contrário, tentou desmontar o sistema de exploração e de exclusão que o templo simbolizava e materializava. Desde pequeno Jesus participava ativamente da sinagoga, que era o lugar dos leigos. Lá eles podiam falar, tomar a palavra, ler e interpretar a Torah . Foi na sinagoga de Nazaré que Jesus declarou publicamente sua opção pela teologia do Segundo e Terceiro Isaías e apresentou seu projeto de missão , inspirado no profeta Isaías .
As três vezes que os evangelhos mostram Jesus no templo há problemas com a interpretação teológica e as práticas excludentes dos doutores da lei: primeiro na apresentação (a espada, o sinal de contradição, o idoso, a viúva, pobres e excluídos); segundo no debate com os doutores e mais tarde na expulsão dos vendedores .

Sua missão consiste em incluir os pobres e os pequenos e recuperar sua plena humanidade

Em resumo, Jesus assume sua missão sendo solidário com os indefesos da sociedade, ficando do lado das pessoas oprimidas, manifestando-se contrário à sua exploração, declarando-as bem-aventuradas e demonstrando, através de atitudes concretas, que no Reino de Deus não deve existir discriminação alguma devido à cor, sexo, etnia, geração, cultura, ou de qualquer outro tipo . Por isso ele conversa com mulheres em público , acolhe pessoas doentes e estrangeiras e sobrepõe-se a todas as interpretações teológicas e às leis que escravizam o ser humano , pois sua missão consiste em “incluir os pobres e pequenos e recuperar sua plena humanidade” .

Jesus apresenta e testemunha um Deus diferente

No modelo de sociedade pleiteada por Jesus, não pode haver espaço para o ódio, mas para relações de irmandade e solidariedade. Ele alerta que de nada adianta apresentar oferendas a Deus se o coração está cheio de rancor; é necessário perdoar sempre, ser compassivo/a e acolher o projeto de amor e justiça do Reino . Por isso Jesus apresenta uma imagem de Deus diferente daquela em que as pessoas do seu tempo acreditavam ; ele fala de Deus como paizinho amoroso , cuidadoso, bondoso, compassivo , misericordioso , próximo, que ouve os clamores de seus filhos e vem em seu auxílio . Este Deus é apresentado através da sua própria pessoa: quem me vê, vê em mim meu Pai , porque nós somos um . Através de suas obras todos devem reconhecer que ele realiza sua missão em consonância com o Pai que o enviou e com o Espírito que o ungiu, o consagrou e o enviou (Dimensão trinitária da missão).

Ele confia a outras pessoas a continuidade de sua missão

No entanto, Jesus não só concretiza a missão que o Pai lhe confiou; ele também confia a outras pessoas a continuidade de sua missão. Chama-as para que participem do que ele faz ; dá-lhes o esclarecimento necessário para que compreendam o sentido e o porquê de tais ações ; reveste-as de autoridade e as envia a testemunhar e comunicar o que viram e ouviram, isto é, a proclamar a Boa-Notícia da chegada da Basiléia, o Reinado amoroso de Deus .

O Reino já faz parte da história de cada pessoa; é atravessado pelo bem e também pela violência

Na perspectiva de Jesus o Reino já faz parte da história de cada pessoa –“O reino de Deus já está no meio e dentro de vocês” – embora Jesus também indique que o Reino ainda está por vir e acontecerá em plenitude somente quando o poder do mal que atinge os seres humanos for superado totalmente . Por isso, os discípulos e discípulas, e todas as demais pessoas que aderirem ao Reino não devem desanimar, nem mesmo nas perseguições , mas enfrentar todas as situações com coragem , sabendo que não estão sozinhas; Jesus permanece com elas por meio do seu Espírito na missão de tornar presente o Reinado amoroso de Javé .

A exemplo de Jesus, a opção de Francisco também o leva para longe da oficialidade social e eclesial e para junto dos excluídos/as do seu tempo

Francisco de Assis foi uma das pessoas que mais entendeu a opção de Jesus pelo Reino e redescobriu sua humanidade pobre , encarnada nos mais pobres dos pobres que eram os hansenianos (leprosos) com quem foi viver. Por isso inventou o presépio, símbolo da pobreza, da pequenez e da simplicidade. Fundou uma ordem religiosa itinerante, pois os frades iam pelos caminhos evangelizando na língua de cada local e não em latim que era a língua oficial. Foi o primeiro a ganhar licença de celebrar a missa fora, no campo e nas praças, desde que houvesse a pedra d’ara (um pedaço de pedra contendo uma relíquia de santo).

Contemplando Jesus Francisco descobre e propõe outra forma de viver o cristianismo

Até Francisco, o cristianismo vivia a dimensão vertical: todos são filhos e filhas de Deus. Com ele, começou a se viver a dimensão horizontal: se todos são filhos e filhas, então todos são irmãos e irmãs. Não apenas os humanos, mas cada ser da criação. Com enternecimento ele chamava com o doce nome de irmão ou irmã a estrela mais distante, o passarinho na rama, o sol, a lua e a lesma do caminho. Depois de séculos em que o cristianismo se fechou nos conventos e se concentrou apenas nas palavras sagradas, Francisco descobre Deus na natureza. Ela não é mais paganizada, cheia de divindades nas fontes, nas montanhas e nas árvores. Ela é o grande sacramento e revelação de Deus. Assim, Francisco fundou um novo humanismo, uma síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para com todos os seres) e a ecologia interior (ternura, amor, compaixão e veneração).

Para Francisco o seguimento de Jesus é uma resposta a uma exigência profunda de “algo mais”...

Em São Francisco, tudo é simples e direto. Não há nenhuma sofisticação nem segundas intenções. Nele, aparece o ser humano em sua inocência original, perdida na história por mil interesses individualistas e pela fome de poder, pela busca de cargos e status social e de acumulação de riqueza. Ele mostrou que ser pobre voluntariamente é muito mais que não ter nada; é a continuada vontade de dar, de mais uma vez dar-se e de se despojar de todo interesse para poder comungar diretamente com as coisas e as pessoas, essa vontade de estar junto e de sentir o coração do outro, da outra. No fundo, o ser humano sonha com um mundo no qual reine tal inocência, onde todos possam se sentir filhos e filhas da alegria e não seres simplesmente condenados a viver num vale de lágrimas. Esse foi o sonho de Jesus de Nazaré, que Francisco conseguiu captar e dar uma resposta concreta.

Como Clara de Assis entende e vive o projeto de Jesus de Nazaré


Clara, filha de nobres, vive em seu coração um desejo de plenitude. Nada nela é feito de coisas pela metade. Nada é medíocre. Nasce, cresce e vive em ambiente de paz, no seio de uma família nobre e bem aquinhoada. Escuta a mãe falando das coisas da Terra Santa e vai nutrindo misteriosamente o desejo de ser somente de Deus. No ar da época há um desejo de volta ao Evangelho... Mulheres beguinas peregrinam de um lado para o outro. Tudo se acelera quando aparece um moço de Assis chamado Francisco. Aquele jeito de viver, aquela energia e a força que irradiava “precipitaram” as coisas. Ela queria o Evangelho... e o Evangelho todo... espelhado agora no jovem Francisco. Clara segue o mesmo caminho de Jesus e de Francisco: dos pobres e da pobreza. O seu perfil feminino, material e fraterno se delineia especialmente na sua capacidade extrema de compreensão, acolhimento, ternura, afeto. As fontes clarianas revelam em abundância suas atitudes e sua postura amorosa, atenta e serviçal que sabe colocar-se como serva humilde de suas irmãs, lavar seus pés, servi-las à mesa, levantar-se à noite para cobri-las, atender ao cuidado das enfermas ao mesmo tempo em que acolhe os pobres, os abençoa, ora com e sobre eles e os conforta.
Ela deixa para Inez de Praga (e para nós hoje) um de seus mais belos escritos sobre o seguimento de Jesus:

“Minha irmã, não perca de vista o seu ponto de partida... Em rápida corrida, confiante e alegre, avance com cuidado, com passo ligeiro e pés seguros no caminho das bem-aventuranças, de modo que seus passos nem recolham a poeira. Não consinta com nada que queira afastá-la desse propósito, ou que seja tropeço nesse caminho” (2ª Carta de Santa Clara de Assis a Santa Inês de Praga).

domingo, 11 de julho de 2010

PROCESSO/PROJETO DE FORMAÇÃO DOS SIMPATIZANTES DO CARISMA FRANCISCLARIANO EM MINAS GERAIS

SIMPATIZANTES? QUEM SÃO?

São pessoas que desejam seguir o Caminho de Jesus, conforme o projeto de vida de Francisco e Clara de Assis, do jeito que as Irmãs Catequistas Franciscanas procuram vivê-lo e testemunhá-lo em sua espiritualidade, estilo de vida e missão. Poderíamos chamar esse CAMINHO de “Discipulado Missionário Francisclariano”.

OBJETIVO

Proporcionar às pessoas interessadas a oportunidade de conhecer e vivenciar o carisma francisclariano junto com as Irmãs Catequistas Franciscanas.

COMO

Por meio de encontros de convivência com as irmãs e outras pessoas que assumiram essa proposta, de momentos celebrativos mensais, de estudos de temas atuais na perspectiva francisclariana, de partilha de vida, sintonia, solidariedade e participação na vida e missão da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, cultivando uma espiritualidade aberta às dores do mundo atual e às relações de irmandade com todas pessoas e toda a criação.


PONTOS DE PARTIDA E EIXOS DA PROPOSTA DE FORMAÇÃO:

• A Palavra de Deus como luz que ilumina a nossa realidade pessoal, grupal, eclesial e social. Ela nos orienta para o mundo dos excluídos e excluídas, bem como ao compromisso com a transformação da sociedade.
• O Carisma Francisclariano expresso nas Fontes Francisclarianas e nos escritos das Irmãs Catequistas Franciscanas.
• As “Linhas Inspiradoras” ou orientativas da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas.
• Os “Caminhos” específicos que as Irmãs da Província Imaculado Coração de Maria desejam trilhar.


ESPAÇOS DE INTEGRAÇÃO DA REFLEXÃO↔ESPIRITUALIDADE↔AÇÃO:

• A própria família
• O mundo do trabalho
• O mundo dos/as pobres
• Espaços eclesiais
• Projeto “Economia, Ecologia e Vida”, por meio do estudo da Cartilha: “Outro consumo é possível”, que pode ser repassado em outros grupos.
• Algum projeto concreto assumido em conjunto
• Outros espaços possíveis...

MEIOS, METODOLOGIAS, POSSIBILIDADES

• Organização da capela da casa de Camargos para momentos de interiorização e oração pessoal e grupal.
• Organização da biblioteca da casa de Camargos com livros, cartilhas, vídeos e outros materiais de formação.
• Elaboração de cartilhas e outros textos, conforme os dons pessoais.
• Criação de um blog dos simpatizantes onde se publicar artigos, cartilhas, experiências etc.
• Convite a pessoas que partilhem algum tema ou experiências significativas de inserção sóciotransformadora e de espiritualidade francisclariana encarnada.
• Visitas a projetos desenvolvidos pelas Irmãs Catequistas Franciscanas (Ceilândia, São Paulo, Goianira, Jardim Iririú).
• Articulação de oficinas para formação de mulheres, em Contagem, no segundo semestre de 2010 e no primeiro de 2011.
• Encontro regional de simpatizantes em São Paulo nos dias 21 e 22 de agosto de 2010.
• Outras iniciativas possíveis...

CRONOGRAMA

• Seis encontros mensais de formação com os grupos de simpatizantes (das 14 às 17 horas, com lanche compartilhado, na casa das irmãs em Camargos: 20 de fevereiro, 13 de março, 15 de maio, 12 de junho, 11 de setembro, 6 de novembro).
• Quatro retiros anuais com os grupos de simpatizantes das 8 às 13 horas, com lanche e almoço compartilhado, na casa das irmãs em Camargos ou em outro lugar a combinar: Páscoa (3 de abril); Festa de Santa Clara (14 e 15 de agosto em Timóteo); Festa de São Francisco (9 de outubro); Natal (4 de dezembro).

AVALIAÇÃO: Anual

EQUIPE DE ARTICULAÇÃO: (a ser completada)

Cleomar Poletto
Fernanda
Lindalva de Jesus Macedo
Marília Rocha
Maria Elizabeth Resende

Oração com São Francisco


ORAÇÃO COM SÃO FRANCISCO

Senhor, fazei de mim um
instrumento de transformação.
Onde houver exploração,
que eu esteja ao lado dos explorados.
Onde houver opressão,
que eu proclame a libertação.
Onde houver autoritarismo,
que eu trabalhe pela democracia.
Onde houver miséria,
que eu possibilite a abundância.
Onde houver doença,
que eu leve a saúde.
Onde houver injusta acumulação,
que eu participe da correta distribuição.
Onde houver desigualdade,
que eu promova a equidade.
Onde houver preconceito e discriminação,
que eu pratique a fraternidade.
Onde houver corrupção,
que eu exalte e simplifique a honestidade.
Onde houver dispersão, que eu valorize
a força da coesão e incentive a associação.
Onde houver manipulação,
que eu desperte a consciência crítica.
Onde houver ignorância,
que eu divulgue o conhecimento.
Onde houver injustiça,
que eu anuncie vossa desaprovação.
Onde houver religião teórica, que eu
revele coerência entre a fé e minhas obras.
Senhor, fazei com que eu procure
transformar o mundo, em vez de me
conformar com ele.
Atuar em favor dos oprimidos/as,
em vez de compactuar com os opressores.
Agir em defesa do ser humano,
em vez de reagir defendendo o sistema.
Pois, é vivendo o amor que se evangeliza.
É praticando a justiça que se faz a vossa vontade.
É partilhando tudo que todos se enriquecem.
E assim começa, ainda nesta vida, a vida eterna.
(Robson Ramos)
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