sábado, 26 de novembro de 2011

1º DOMINGO DO ADVENTO

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Derval Dasili

[Início do  Advento: último domingo de novembro (27.Nov.2011). Os Anos
Litúrgicos (A-B-C) não acompanham o ano civil (início em 1º de janeiro - 2011).
Têm início na última semana de novembro. Quatro domingos seguidos pelo
Ciclo da Natalidade do Senhor, do Natal  à Epifania (6 de janeiro). As Cores
Litúrgicas do Advento são: roxo, violeta, lilás e rosa (azul é opcional). O  roxo
significa contrição: daí a matização das cores no sentido de ir clareando
conforme a chegada do Natal. O  rosa geralmente é usado no quarto domingo,
que simboliza a alegria da Natalidade do Senhor

obs: não esqueça de parar o video do blog (a direita embaixo) para visualizar esse

O significado teológico do Advento será  apresentado, no Ano “A”, através das
leituras que culminam no Evangelho de S.Mateus, a cada domingo. Começamos
o tempo do Advento com preparação para as celebrações natalinas do
nascimento e manifestação de Jesus Cristo (Is 40,3), da encarnação do Logos, a
Palavra de Deus (não devemos nos esquecer que o “logos” corresponde a
“davar”, na Bíblia. Assim compreenderemos os sentidos: a teologia de João
reflete o pensamento de um hebreu que pensa na tradição escriturística da
Bíblia Hebraica (que o termo latino “verbo” enfraquece...). Ali, o “logos” bíblico
dá forma e consistência a todas as coisas – no preâmbulo do Gênesis e do
Evangelho de S.João) –. Davar, que significa também “promessa”, “esperança”,
“ordem”, “mandamento”, “conselho”; e continuamos:  davar é a Palavra que
provoca um acontecimento, uma ação concreta, um fato criador;  davar é
também “uma causa”, “um motivo”, e bem poderíamos dizer que  davar é a
Palavra que torna perceptível a chegada  do Reino de Deus, a causa e missão
evangélica de Jesus Cristo).

A Palavra é testemunhada na Bíblia, embora os testemunhos humanos utilizem
o nome de Deus para justificar sua “palavra”, seus projetos, suas criações. O
testemunho bíblico reflete o quanto Deus é “totalmente outro”, porque difere
radicalmente de seu “opositor” humano. A Palavra de Deus é palavra de
salvaação, de libertação, de perdão  e reconciliação. A palavra humana, ao
contrário, é via de regra palavra de opressão, de escravidão, exercício de poder.
O Advento é o tempo de arrependimento e conversão, porque o ser humano
envereda pelos caminhos dos ódios ancestrais, preconceitos, discriminações e
exclusões. É preciso preparar o caminho do Senhor, mas só ele estabelece o
roteiro da paz, das bem-aventuranças, das inclusões, da reconciliação, para que
o cuidado do Pai, a salvação e libertação, a infinita e ilimitada misericórdia,
chegue a todos, raças e povos, sociedades e nações. Vem Senhor, restaura a
Criação!



ADVENTO – PREPARANDO PARA A EXISTÊNCIA PROFUNDA
Isaías 2,1-5 – O Senhor reúne todas as nações para a paz eterna do Reino.                      
Salmo 122 – Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!
Romanos 13,11-14 – A salvação está mais perto do que imaginamos
Mateus 24,37-44 – Fiquem atentos, preparem-se!





ADVENTO : tempo de mobilização


José Lisboa Moreira de Oliveira
Dentro de poucos dias estaremos vivendo mais um período litúrgico do Advento, tempo no qual algumas Igrejas cristãs se preparam para a celebração do nascimento de Jesus. Talvez o que ainda não esteja tão claro é que, tanto no seu significado etimológico como no sentido litúrgico, o Advento pede mobilização por parte das pessoas. O prefixo "Ad” que está no início da palavra expressa essa necessidade de ação. Ao consultarmos qualquer gramática vamos perceber que os prefixos são morfemas colocados antes dos radicais com a finalidade básica de modificar-lhes o sentido. O morfema é a menor unidade gramatical que se pode identificar numa língua. Ele é sumamente importante na definição do sentido exato de uma palavra.
Assim sendo, tanto do ponto de vista teológico como do ponto de vista etimológico, o Advento implica um duplo movimento. O primeiro e mais importante é o da aproximação da chegada. Cristo é aquele que está se aproximado, que está chegando. E está chegando como um ladrão: de surpresa, sem hora marcada, causando impacto, roubando a cena e provocando reviravoltas. Para os cristãos e as cristãs esta chegada de improviso exige vigilância e atenção aos sinais dos tempos. Não se pode impor a Jesus uma maneira de chegar; uma maneira que atenda às nossas exigências e que se encaixe nos nossos esquemas pré-montados. Ele chegará sem avisar e quer encontrar todo mundo de pé, vigilante, pronto para acolhê-lo e servi-lo (Lc 12,35-48), especialmente no irmão e na irmã necessitada (Lc 14,15-24).

De consequência, o segundo movimento é o de ir para junto, ir ao encontro daquele que vem. Os cristãos e as cristãs não só devem ficar atentos aos sinais da aproximação de Cristo, mas devem ir ao encontro dele, antecipando de certa forma a sua chegada. Este ir ao encontro de Jesus que vem se traduz em ações concretas em favor de quem neste momento mais precisa de nós: "Vá, e faça a mesma coisa” (Lc 10,37).
Infelizmente estes aspectos não são enfatizados nas liturgias, na catequese e na práxis cristã. De um modo geral os cristãos e as cristãs costumam aguardar acomodados o desenrolar dos fatos. A forma atual de celebrar e de viver a fé é completamente dispersiva. Também as igrejas introduziram em suas celebrações e rezas a barulheira da sociedade atual. Não há mais espaço nas comunidades cristãs para aquele clima de silêncio e de escuta, de modo a se perceber os sinais da presença de Deus, o qual costuma se manifestar de maneiras bem diferentes daquelas que estamos acostumados (Jo 3,8). Além disso, nessas comunidades não existe mais uma reflexão séria, crítica, questionadora, que provoque e desinstale as pessoas. Não há mais catequese, entendida como ação que faz ressoar a Palavra no coração dos crentes. As homilias dos padres, salvo honrosas exceções, não passam de frases soltas e desconexas que a ninguém toca ou incomoda.

Isso é agravado pela presença forte nas comunidades cristãs do pieguismo, da resignação e da crença no destino e na fatalidade. Acredita-se piamente que tudo já está previamente definido por Deus e não há mais nada a fazer, a não ser aceitar passivamente o que acontece. As idas às igrejas visam apenas vantagens pessoais e egoístas e não encontrar estímulo para mudar o que Deus quer que nós mudemos. As pessoas querem apenas receber um pouco de água benta na cabeça para se sentirem aliviadas. Elas não querem se envolver com os outros e com os problemas da sociedade. Cada um que se vire para viver e se livrar de situações complicadas. A experiência da fé foi totalmente privatizada.
Nestes dias fiquei surpreso ao descobrir que aqui em Brasília algumas igrejas evangélicas estão introduzindo o "drive thru” em suas celebrações. Como as pessoas não têm mais tempo para ir aos templos, os pastores estão criando "drive in” em suas igrejas para, no domingo, receber os "clientes” que estão indo almoçar. Antes de seguirem para os restaurantes as pessoas passam pela igreja, o pastor lê um trecho bíblico, fala meia dúzia de palavras bobas, passa a sacolinha, dá uma bênção e o pessoal segue adiante. Tudo isso muito rápido, sem que ninguém precise sair do carro. A santa ceia está se tornando um "fast food”! Não vai demorar e a Igreja Católica estará adotando a prática. Afinal de contas virou moda os católicos imitarem os evangélicos. Como não há mais criatividade parte-se para o comportamento mimético. Hoje o mais importante não é criar, mas imitar.

Se estivermos atentos aos textos bíblicos, lidos e meditados durante o período do Advento, vamos perceber que a liturgia nos convida a agir de forma diferente. Neles é muito claro o convite a prestar atenção aos sinais e a sair do comodismo para ir ao encontro do Senhor que está chegando e, muitas vezes, chegando na pessoa necessitada. Os personagens bíblicos (Profetas, Maria, Zacarias, Ana mãe de Samuel, José, Isabel, João Batista), apresentados como paradigmas da espera ativa, deveriam nos incomodar e nos desinstalar. Eles são modelos de pessoas que não ficaram acomodadas, esperando que Deus resolvesse os seus problemas e os problemas dos outros. Basta lembrar Maria se deslocando através das montanhas da Judéia para ir ao encontro de Isabel. Ou recordar o carpinteiro José, que pensa em profundidade e se questiona sobre o que está acontecendo com sua noiva. Ao ter certeza do que estava acontecendo, levou Maria para a sua casa e assumiu a paternidade de um filho que não era seu (Mt 1,24-25).
Não há, pois, como viver intensamente o Advento se não nos mobilizarmos, se não nos sintonizarmos com os sinais dos tempos e não buscarmos antecipar as soluções para tantos problemas com os quais convivemos no momento atual. Sobre o mundo paira a inquietação. O ano de 2011 está para se concluir com um saldo muito grande de acontecimentos preocupantes. Desde a "primavera árabe” até as recentes manifestações contra a corrupção e contra o colapso econômico mundial há sede de democracia, de justiça, de igualdade, de fraternidade e de paz.
Aqueles e aquelas que pretendem celebrar o Advento fechados em seu mundinho ou dentro das quatro paredes de um templo estão distorcendo o verdadeiro significado deste tempo litúrgico. Cristo não vem para distribuir "kits de salvação” ou para ficar escutando rezas barulhentas, no estilo dos profetas de Baal (1Rs 18,25-29). Vem nos convocar para um engajamento sério, para um compromisso com a transformação do mundo. "Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). A verdadeira celebração do Advento se dá fora dos templos, nas ruas e praças de nossas cidades. Deve acontecer debaixo dos viadutos ou num cantinho deste país onde um "sem-terra” ou um indígena luta para ter seu pedaço de chão.

Pensamentos e Sonhos sobre o Brasil

Leonardo Boff



1. O povo brasileiro se habituou a “enfrentar a vida” e a conseguir tudo “na luta”, quer dizer, superando dificuldades e com muito trabalho. Por que não iria “enfrentar” também o derradeiro desafio de fazer as mudanças necessárias, para criar relações mais igualitárias e acabar com a corrupção? 

2. O povo brasileiro ainda não acabou de nascer. O que herdamos foi a Empresa-Brasil com uma elite escravagista e uma massa de destituídos. Mas do seio desta massa, nasceram lideranças e movimentos sociais com consciência e organização. Seu sonho? Reinventar o Brasil. O processo começou a partir de baixo e não há mais como detê-lo.




3. Apesar da pobreza e da marginalização, os pobres sabiamente inventaram caminhos de sobrevivência. Para superar esta anti-realidade, o Estado e os políticos precisam escutar e valorizar o que o povo já sabe e inventou. Só então teremos superado a divisão elites-povo e seremos uma nação una e complexa.

4. O brasileiro tem um compromisso com a esperança. É a última que morre. Por isso, tem a certeza de que Deus escreve direito por linhas tortas. A esperança é o segredo de seu otimismo, que lhe permite relativizar os dramas, dançar seu carnaval, torcer por seu time de futebol e manter acesa a utopia de que a vida é bela e que amanhã pode ser melhor. 




5. O medo é inerente à vida porque “viver é perigoso” e sempre comporta riscos. Estes nos obrigam a mudar e reforçam a esperança. O que o povo mais quer, não as elites, é mudar para que a felicidade e o amor não sejam tão difíceis.

6. O oposto ao medo não é a coragem. É a fé de que as coisas podem ser diferentes e que, organizados, podemos avançar. O Brasil mostrou que não é apenas bom no carnaval e no futebol. Mas também bom na agricultura, na arquitetura, na música e na sua inesgotável alegria de viver.


7. O povo brasileiro é religioso e místico. Mais que pensar em Deus, ele sente Deus em seu cotidiano que se revela nas expressões: “graças a Deus”, “Deus lhe pague”, “fique com Deus”. Deus para ele não é um problema, mas a solução de seus problemas. Sente-se amparado por santos e santas e por bons espíritos e orixás que ancoram sua vida no meio do sofrimento.

8. Uma das características da cultura brasileira é a alegria e o sentido de humor, que ajudam aliviar as contradições sociais. Essa alegria nasce da convicção de que a vida vale mais do que qualquer coisa. Por isso deve ser celebrada com festa e diante do fracasso, manter o humor. O efeito é a leveza e o entusiasmo que tantos admiram em nós.

9. Há um casamento que ainda não foi feito no Brasil: entre o saber acadêmico e o saber popular. O saber popular nasce da experiência sofrida, dos mil jeitos de sobreviver com poucos recursos. O saber acadêmico nasce do estudo, bebendo de muitas fontes. Quando esses dois saberes se unirem, seremos invencíveis. 

10. O cuidado pertence à essência de toda a vida. Sem o cuidado ela adoece e morre. Com cuidado, é protegida e dura mais. O desafio hoje é entender a política como cuidado do Brasil, de sua gente, da natureza, da educação, da saúde, da justiça. Esse cuidado é a prova de que amamos o nosso pais.

11.Uma das marcas do povo brasileiro é sua capacidade de se relacionar com todo mundo, de somar, juntar, sincretizar e sintetizar. Por isso, ele não é intolerante nem dogmático. Gosta e acolhe bem os estrangeiros. Ora, esses valores são fundamentais para uma globalização de rosto humano. Estamos mostrando que ela é possível e a estamos construindo. 

12. O Brasil é a maior nação neolatina do mundo. Temos tudo para sermos também a maior civilização dos trópicos, não imperial, mas solidária com todas as nações, porque incorporou em si representantes de 60 povos que para aqui vieram. Nosso desafio é mostrar que o Brasil pode ser, de fato, um pedaço do paraíso que não se perdeu.

Elogio do boteco

Leonardo Boff

Em razão do meu “ciganismo intelectual” falando em muitos lugares e ambientes sobre um sem número de temas que vão da espiritualidade, à responsabilidade socioambiental e até sobre a possibilidade do fim de nossa espécie, os organizadores, por deferência, costumam me convidar para um bom restaurante da cidade. Lógico, guardo a boa tradição franciscana e celebro os pratos com comentários laudatórios. Mas me sobra sempre pequeno amargor na boca, impedindo que o comer seja uma celebração. Lembro que a maioria das pessoas amigas não podem desfrutar destas comidas e especialmente os milhões e milhões de famintos do mundo. Parece-me que lhes estou roubando a comida da boca. Como celebrar a generosidade dos amigos e da Mãe Terra, se, nas palavras de Gandhi,”a fome é um insulto e a forma de violência mais assassina que existe?” 



É neste contexto que me vem à mente como consolo os botecos. Gosto de freqüentá-los, pois aí posso comer sem má consciência. Eles se encontram em todo mundo, também nas comunidades pobres nas quais, por anos, trabalhei. Ai se vive uma real democracia: o boteco ou o pé sujo (o boteco de pessoas com menos poder aquisitivo) acolhe todo mundo. Pode-se encontrar lá tomando seu chope um professor universitário ao lado de um peão da construção civil, um ator de teatro na mesa com um malandro, até com um bêbado tomando seu traguinho. É só chegar, ir sentando e logo gritar: “me traga um chope estupidamente gelado”. 

O boteco é mais que seu visual, com azulejos de cores fortes, com o santo protetor na parede, geralmente um Santo Antônio com o Menino Jesus, o símbolo do time de estimação e as propagandas coloridas de bebidas. O boteco é um estado de espírito, o lugar do encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes, como em Minas, se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.

Ninguém repara nas condições gerais do balcão ou das mesinhas. O importante é que o copo esteja bem lavado e sem gordura senão estraga o colarinho cremoso do chope que deve ter uns três dedos. Ninguém se incomoda com o chão e o estado do banheiro.

Os nomes dos botecos são os mais diversos, dependendo da região do pais. Pode ser a Adega da Velha, o Bar do Sacha, o boteco do Seo Gomes, o Bar do Giba, o Botequim do Jóia, o Pavão Azul, a Confraria do Bode Cheiroso, a Casa Cheia e outros. Belo Horizonte é a cidade que mais botecos possui, realizando até, cada ano, um concurso da melhor comida de boteco. 

Os pratos também são variados, geralmente, elaborados a partir de receitas caseiras e regionais: a carne de sol do Nordeste, a carne de porco e o tutu de Minas. Os nomes são ingeniosos:” mexidoido chapado”, “porconóbis de sabugosa”, “costela de Adão” (costelinha de porco com mandioca), “torresminho de barriga”. Há um prato que aprecio sobremaneira, oferecido no Mercado Central de Belo Horizonte e que foi premiado num dos concursos:”bife de fígado acebolado com jiló”. Se depender de mim, este prato deverá constar no menu do banquete do Reino dos céus que o Pai celeste vai oferecer aos benaventurados.



Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos freqüentadores especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento e de lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano. 

Para mim o boteco é uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa e celebrar o convívio fraterno e fazer do comer, uma comunhão. E para mim, é o lugar onde posso comer sem má consciência. 

Dedico este texto ao cartunista e amigo Jaguar que aprecia botecos.

domingo, 13 de novembro de 2011

BEM VIVER - BEM CONVIVER - 8º Encontro Nacional de Fé e Política




Aproximadamente duas mil pessoas de todo Brasil participaram, nos dias 29 e 30 de outubro, na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, do 8º Encontro Nacional de Fé e Política, refletindo a temática “Em busca da sociedade do Bem Viver – Sabedoria, Protagonismo, Política”.

Os dois dias foram de muita animação, reflexão, celebração e trabalhos de grupos a partir de conferências específicas com teólogos como: Frei Betto, Ivone Gebara, Jung Mo Sung, Pe. Márcio Fabri dos Anjos; com os deputados federais paulistas Paulo Teixeira e José Fillipi; com a pastora metodista Haidi Jarschel; com lideranças do MAB, Paulo Vanuchi do Instituto da Cidadania e César Sanson, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores (Cepat); com a coordenadora do Núcleo de Seguridade e Assistência Social da PUC/SP, Aldaíza Sposatti, entre outros.

O sociólogo Pedro de Oliveira, um dos primeiros conferencistas, lembrou que o conceito de BemViver é inspirado nas culturas Quetchua e Aymará: suma(k) = muito bom e kawsay ou camaña = conviver. Foi inscrito nas Constituições da Bolívia (2009) e do Equador (2008). Para os povos indígenas, a vida deve ser vivida em harmonia consigo mesmo, com outras pessoas do mesmo grupo, entre grupos diferentes, com a Pachamama – a Mãe Terra, com outras espécies e com os espíritos. É uma concepção de vida capaz de orientar diferentes projetos de sociedade.




Assim, para Pedro de Oliveira, o Movimento Fé e Política tem o objetivo de animar os cristãos e cristãs em favor de um outro mundo possível onde, superada a sociedade de mercado, a humanidade se reconcilie consigo mesma e com a Terra, aproximando-se da utopia do Reino de Deus. Antes, porém, é preciso ter claro que não se trata de voltar a um passado ideal que nunca existiu, mas, sim, que os povos que viviam neste Continente, antes da colonização européia, nos inspirem na construção de uma alternativa ao sistema de mercado produtivista-consumista, que está matando nosso Planeta.
E apontou alternativas: Em vez de extrair / transformar / consumir / descartar, a economia deve ser regida pelo princípio do respeito à Terra. Ela é mãe generosa, mas não é rica. Mãe que nada nega a seus filhos e filhas, mas nós – como crianças mimadas e insensatas – exploramos a generosidade da mãe, tudo exigindo e nada retribuindo. Mesmo adoecida e desgastada como está hoje, a Terra continua a nos oferecer tudo aquilo que durante milênios produziu e conservou em seu seio. O Bem-viver propõe então outra forma de relação com a Terra: uma relação regida pelo respeito aos Direitos da Terra.

Já o líder indígena do Guarani Mbyá, Maurício da Silva Gonçalves, do RS, falou com expressividade sobre as lutas de seu povo pela garantia da terra. Para ele, o Bem Viver sempre será intensamente vinculado às lutas pela terra. Bem Viver significa ter terra boa para uma vida digna, ver as famílias contentes por poderem plantar e colher seu alimento. Esta situação está ameaçada atualmente, pois muitas famílias Guarani vivem às margens das rodovias enquanto que o agronegócio invadiu seus territórios. E concluiu sua fala afirmando: “Todos os povos precisam ser respeitados, todos têm direito de ser igualmente respeitados. De que adianta o agronegócio ter milhões em dinheiro e milhões de hectares de terra se ali, do seu lado, estão os índios, os negros, os mais pobres vivendo na miséria”.

Nas plenárias temáticas foram debatidas diferentes questões, sempre com um enfoque ligado ao tema do Bem Viver. Ao final da tarde do sábado, aconteceu a caminhada dos mártires onde se fez a memória de todas as pessoas que derramaram seu sangue nas lutas por justiça e vida. O primeiro dia encerrou com um show  animado pelos cantores Zé Vicente e Xico Esvael e por artistas de Embu das Artes.


No dia 30, o teólogo Marcelo Barros deu continuidade à reflexão do Bem Viver, lembrando que isto não significa voltar ao passado, copiar modelos, mas “retomar o espírito que foi do passado”. Na Bíblia, o projeto do Êxodo se equipara ao projeto do Bem Viver e o Deuteronômio (cap. 30) ressalta a espiritualidade do Bem Viver.


O encontro encerrou-se com uma celebração em homenagem aos 90 anos do arcebispo emérito D. Paulo Evaristo Arns e a memória dos 32 anos do assassinato do operário Santo Dias da Silva.

De nossa Congregação, participaram as Irmãs: Olímpia Perini, Inez Favarin, Cremildes Rigo, Rosali Paloschi, Ivonete Gardini e Beatriz Maestri, da PICM; e Ivete Maria Téo, da PSFA. O próximo Encontro Nacional será sediado em Belo Horizonte.

Ir. Beatriz Maestri e Rosali Paloschi - PICM

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ata do 3 Encontro Provincial de Simpatizantes

3º ENCONTRO PROVINCIAL DE SIMPATIZANTES

  • Data: 01 e 02 de outubro de 2011
  • Local: Casa Mãe – Rodeio – SC


·         Presentes: 50 simpatizantes - dos Grupos de SC: Rodeio, Itajaí, Camboriú, São José, Blumenau, Joinville, Rio dos Cedros; da Coordenadoria Irmã Genoveva: Aclimação - São Paulo – SP; Jardim Capela – São Paulo - SP, Ceilândia - DF, Goiânia - GO, Belo Horizonte - MG, Timóteo - MG. Irmãs: pela coordenação provincial: Marlene Eggert; Augusta Neotti, Olympia Meneghelli, Tereza Costa, Ana Mondini, Maria Dulci Moreira, Clementina Fusinato, Dalvina Piva, Célia Olivia da Silva, Ana Maria Demo, Guilhermina Heizen, Maria Vicenzi, Inés Masiero. Irmã Angelina Raldi colaborou nos trabalhos de acolhida e refeitório.
·         Equipe de Animação do Projeto de Simpatizantes: Irmãs: Alzira Munhoz e Beatriz C. Maestri; Simpatizantes: Nelson Dellagiustina e Marlene Brick.
·         Assessoria: Irmã Terezinha Sotopietra

Tema do Encontro: “A proposta francisclariana em contextos de mudança”.
  1. Acolhida pelas Irmãs: Irmã Marlene Eggert acolheu a todo grupo, em nome da coordenação provincial, desejando um bom encontro para cada participante. Lembrou da importância de recriarmos o carisma, tendo presente os desafios atuais e demonstrou grande alegria por poder contarmos, na província, com o potencial criativo e animador de cada simpatizante: “É com o coração em festa e gratidão que acolhemos cada uma e cada um, para este encontro provincial de simpatizantes. Bem vindas e bem vindos! Destacamos a presença de representantes de 13 grupos dos 16 grupos que se reúnem nos estados de Minas, Goiás e Distrito Federal, São Paulo e SC, com exceção do grupo de Planaltina de Goiás, Florianópolis e Guatemala. Peço licença para Alciris em fazer uso da frase que ela disse num dos encontros que participou: As sementes que foram lançadas, não poderão mais ser recolhidas, elas vão florescer, já estão florescendo!’.O projeto simpatizantes do carisma tem uma caminhada de mais de 10 anos na congregação e na província e creio que já estamos colhendo flores e frutos”. Lembrou ainda da sintonia de Irmã Lucia Gianesini, coordenadora provincial, que está na Guatemala, e irá acolher os votos da opção definitiva da primeira irmã catequista franciscana de votos perpétuos da missão além fronteiras, Margarita Beb Xol. Acolheu ainda, com alegria, as Irmãs da Coordenação Geral: Tereza Valler, Maria Fachini e Ana Lucia Corbani, e a assessora, Irmã Terezinha Antônia Sotopietra, a quem foram entregues flores, já que no dia 30 de setembro foi eleita ministra provincial da Província Santa Clara de Assis.
Irmã Marlene lembrou ainda dos objetivos do Encontro:
ü  Aprofundar o Carisma francisclariano;
ü  Trocar experiências, favorecer o intercâmbio e o conhecimento mútuo;
ü  Refletir sobre o processo de formação e de articulação dos grupos, em âmbito provincial, tendo presente o que foi assumido na Avaliação Provincial: “Elaborar, em conjunto com as/os Simpatizantes do Carisma, um Programa de Formação, aberto às diferenças de cada grupo”.

2. Apresentação por grupo: Irmã Beatriz animou este momento convidando cada grupo a se apresentar, intercalando as falas com uma música de boas vindas.
3. Oração: O momento orante foi animado pelo grupo de simpatizantes de Minas Gerais e Irmã Alzira. Com o tema “Caminhando com São Francisco, o peregrino incansável”, fez-se uma celebração acompanhando um roteiro preparado pelo grupo. Recordou-nos e apresentou-nos a “lâmpada”, símbolo da Congregação e os sonhos e expectativas da caminhada, representados no desenho de um pé trazendo o nome de cada grupo de simpatizantes da província.
4. Saudações:
a) Carta da ministra provincial Irmã Lucia Gianesini: Alciris fez a leitura da carta que Irmã Lucia deixou para o grupo falando de sua sintonia com a realização do encontro. Destacamos alguns trechos da Carta: “Com a inspiração da carta-convite que vocês receberam, quero dirigir-me a cada simpatizante e irmã presente neste encontro, desejando que a Divina Fonte continue impulsionando nossas ações no cuidado e defesa da Vida, especialmente onde ela está mais ameaçada! O tema: A proposta franscisclariana em contextos de mudanças, que será aprofundado com sensibilidade e compromisso pela Irmã Terezinha Sotopietra, nos ajudará a avançar com ousadia e entusiasmo na construção de um mundo novo onde todas as criaturas sejam amadas e respeitadas, onde a Mãe Terra seja cuidada e reverenciada. Estamos bem unidas e unidos hoje, vocês aqui no berço da Congregação e nós, com as irmãs, aspirantes e comunidades do povo Maia, no berço de nossa missão em Guatemala, Playa Grande, no Ixcán, bem ao norte do país, na fronteira com o México, para celebrar o compromisso definitivo de hermana Margarita...”. Todo grupo sintonizou com esta celebração que acontece concomitante ao encontro, no dia 1º de outubro.


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