Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,0 graus na escala Richter devastou a pequena nação caribenha do Haiti. Poucas horas após o evento um grande fluxo de ajuda humanitária começou a chegar a capital Porto Principe (Port-au-Prince), por via aérea, marítima e terrestre (através da República Dominicana). Seis meses após o evento, muitos dos detalhes ainda permanecem "preliminares", no entanto sabe-se que pelo menos 220.000 pessoas morreram, e apesar desta incrível contagem, acredita-se que as taxas de mortalidade seriam ainda maiores caso a comunidade internacional não respondesse tão rapidamente. Entre os profissionais que participaram do esforço global pelo Haiti haviam fisioterapeutas de todo o mundo.
MORTALIDADE REDUZIDA RESULTA EM MORBIDADE AUMENTADA
A missão principal das equipes era a de salvar vidas. No caso do Haiti, observou-se que taxas de mortalidade relativamente baixas geraram taxas de morbidade altas (ou seja: muitos sobreviventes sequelados). Estima-se em cerca de 300.000 o número de pessoas feridas durante o terremoto. Entre 2.000 a 4.000 pessoas sobreviveram com amputações, mais de 200 sobreviveram com lesões medulares, e milhares com fraturas. O fato é que o terremoto criou uma população de deficientes físicos. Mesmo antes do terremoto, o Haiti já era um ambiente bastante hostil para o deficiente, tanto no plano social quanto de uma perspectiva estrutural/arquitetônica. A destruição que este terremoto causou fez da acessibilidade e do alojamento para estas pessoas uma questão ainda mais crítica (Fig. 2). Esta demanda por reabilitação não pode ser ignorada. Desta forma, criou-se uma responsabilidade ética e moral da comunidade internacional para também prestar serviços de reabilitação adequados, de forma a garantir algum nível de qualidade de vida para estes indivíduos.
Antes do terremoto, por exemplo, haviam poucas pessoas no Haiti com TRM (trauma raqui-medular - lesão na "coluna"). Devido à baixa prevalência desta condição, poucos locais no Haiti atendiam lesados medulares. Além disso, os profissionais de saúde haitianos tinham pouca experiência com lesões tão complexas. Em comparação com os EUA, que iniciaram sua experiência em reabilitação de traumatismos medulares quando os soldados retornaram após a Segunda Guerra Mundial. Desta forma, os conhecimentos no tratamento das lesões medulares na América do Norte têm sido desenvolvidos ao longo dos últimos 65 anos, enquanto que no Haiti somente após janeiro de 2010.
NÓS PRECISAMENOS DE EQUILÍBRIO ENTRE OS SERVIÇOS HUMANITÁRIOS E PESQUISA
Pode parecer prematuro sugerir a necessidade de pesquisas, dado que muito sofrimento ainda existe no país. No entanto, é preciso compreender melhor os efeitos do terremoto do Haiti. Há duas áreas principais de investigação científica que devem ser reali
A segunda linha de investigação prioritária está relacionada ao planejamento de alta para as pessoas com deficiências graves. A ausência de familiares (muitos estão desaparecidos ou morreram no terremoto) e a destruição da infra-estrutura dificulta enormemente a alta destas pessoas (Fig. 3).
As ONGs envolvidas nos cuidados às pessoas com lesão medular estão estudando opções e estratégias que vão desde a alta destes pacientes para barracas, a construção de casas independentes e integradas em uma comunidade, ou a criação de grandes instalações que abrigariam grupos de pessoas com deficiência. Esta última opção é vista com reservas pois poderia levar a crer que "institucionalizar" estas pessoas em grandes centros seria um retrocesso ao movimento global de deficiência.
Dado que não há uma solução que seja ideal ou mesmo adequadas em todas as configurações, a avaliação empírica de cada uma dessas opções (e outras) poderia fornecer uma base de evidências para o planejamento futuro. De forma geral, as conseqüências do terremoto no Haiti podem gerar informações úteis e significativas, as quais poderão ser utilizadas não só para planejar o desenvolvimento futuro do Haiti, mas também para facilitar esse processo em outros países que venham a experimentar desastres naturais nos próximos anos. Em última análise, é nosso papel, como cidadãos globais, trabalhar na solidariedade com os haitianos, mas devemos também compartilhar as lições aprendidas para que possamos melhorar a resposta de emergência. Ao fazer isso, nós podemos buscar algum significado mais profundo para a tragédia no Haiti, honrar a enorme perda de vidas, e oferecer um tributo a todos que agora lutam para recuperar suas vidas enquanto vivem com deficiência
Esta é a tradução livre de trechos do editorial da revista physical therapy de julho de 2010. O autor do texto original chama-se Michel D. Landry. Ele é membro do Instituto de Reabilitação de Toronto (IRT), e trabalha em parceria com a fundação “Healing Hands for Haiti” (http://www.healinghandsforhaiti.org/) em uma unidade de reabilitação de lesões medulares sediada no Haiti para o tratamento dos sobreviventes do terremoto . Fonte: http://fisioterapiahumberto.blogspot.com/search/label/Artigo%20Traduzido
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