domingo, 13 de novembro de 2011

BEM VIVER - BEM CONVIVER - 8º Encontro Nacional de Fé e Política




Aproximadamente duas mil pessoas de todo Brasil participaram, nos dias 29 e 30 de outubro, na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, do 8º Encontro Nacional de Fé e Política, refletindo a temática “Em busca da sociedade do Bem Viver – Sabedoria, Protagonismo, Política”.

Os dois dias foram de muita animação, reflexão, celebração e trabalhos de grupos a partir de conferências específicas com teólogos como: Frei Betto, Ivone Gebara, Jung Mo Sung, Pe. Márcio Fabri dos Anjos; com os deputados federais paulistas Paulo Teixeira e José Fillipi; com a pastora metodista Haidi Jarschel; com lideranças do MAB, Paulo Vanuchi do Instituto da Cidadania e César Sanson, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores (Cepat); com a coordenadora do Núcleo de Seguridade e Assistência Social da PUC/SP, Aldaíza Sposatti, entre outros.

O sociólogo Pedro de Oliveira, um dos primeiros conferencistas, lembrou que o conceito de BemViver é inspirado nas culturas Quetchua e Aymará: suma(k) = muito bom e kawsay ou camaña = conviver. Foi inscrito nas Constituições da Bolívia (2009) e do Equador (2008). Para os povos indígenas, a vida deve ser vivida em harmonia consigo mesmo, com outras pessoas do mesmo grupo, entre grupos diferentes, com a Pachamama – a Mãe Terra, com outras espécies e com os espíritos. É uma concepção de vida capaz de orientar diferentes projetos de sociedade.




Assim, para Pedro de Oliveira, o Movimento Fé e Política tem o objetivo de animar os cristãos e cristãs em favor de um outro mundo possível onde, superada a sociedade de mercado, a humanidade se reconcilie consigo mesma e com a Terra, aproximando-se da utopia do Reino de Deus. Antes, porém, é preciso ter claro que não se trata de voltar a um passado ideal que nunca existiu, mas, sim, que os povos que viviam neste Continente, antes da colonização européia, nos inspirem na construção de uma alternativa ao sistema de mercado produtivista-consumista, que está matando nosso Planeta.
E apontou alternativas: Em vez de extrair / transformar / consumir / descartar, a economia deve ser regida pelo princípio do respeito à Terra. Ela é mãe generosa, mas não é rica. Mãe que nada nega a seus filhos e filhas, mas nós – como crianças mimadas e insensatas – exploramos a generosidade da mãe, tudo exigindo e nada retribuindo. Mesmo adoecida e desgastada como está hoje, a Terra continua a nos oferecer tudo aquilo que durante milênios produziu e conservou em seu seio. O Bem-viver propõe então outra forma de relação com a Terra: uma relação regida pelo respeito aos Direitos da Terra.

Já o líder indígena do Guarani Mbyá, Maurício da Silva Gonçalves, do RS, falou com expressividade sobre as lutas de seu povo pela garantia da terra. Para ele, o Bem Viver sempre será intensamente vinculado às lutas pela terra. Bem Viver significa ter terra boa para uma vida digna, ver as famílias contentes por poderem plantar e colher seu alimento. Esta situação está ameaçada atualmente, pois muitas famílias Guarani vivem às margens das rodovias enquanto que o agronegócio invadiu seus territórios. E concluiu sua fala afirmando: “Todos os povos precisam ser respeitados, todos têm direito de ser igualmente respeitados. De que adianta o agronegócio ter milhões em dinheiro e milhões de hectares de terra se ali, do seu lado, estão os índios, os negros, os mais pobres vivendo na miséria”.

Nas plenárias temáticas foram debatidas diferentes questões, sempre com um enfoque ligado ao tema do Bem Viver. Ao final da tarde do sábado, aconteceu a caminhada dos mártires onde se fez a memória de todas as pessoas que derramaram seu sangue nas lutas por justiça e vida. O primeiro dia encerrou com um show  animado pelos cantores Zé Vicente e Xico Esvael e por artistas de Embu das Artes.


No dia 30, o teólogo Marcelo Barros deu continuidade à reflexão do Bem Viver, lembrando que isto não significa voltar ao passado, copiar modelos, mas “retomar o espírito que foi do passado”. Na Bíblia, o projeto do Êxodo se equipara ao projeto do Bem Viver e o Deuteronômio (cap. 30) ressalta a espiritualidade do Bem Viver.


O encontro encerrou-se com uma celebração em homenagem aos 90 anos do arcebispo emérito D. Paulo Evaristo Arns e a memória dos 32 anos do assassinato do operário Santo Dias da Silva.

De nossa Congregação, participaram as Irmãs: Olímpia Perini, Inez Favarin, Cremildes Rigo, Rosali Paloschi, Ivonete Gardini e Beatriz Maestri, da PICM; e Ivete Maria Téo, da PSFA. O próximo Encontro Nacional será sediado em Belo Horizonte.

Ir. Beatriz Maestri e Rosali Paloschi - PICM

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