sábado, 26 de novembro de 2011

1º DOMINGO DO ADVENTO

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Derval Dasili

[Início do  Advento: último domingo de novembro (27.Nov.2011). Os Anos
Litúrgicos (A-B-C) não acompanham o ano civil (início em 1º de janeiro - 2011).
Têm início na última semana de novembro. Quatro domingos seguidos pelo
Ciclo da Natalidade do Senhor, do Natal  à Epifania (6 de janeiro). As Cores
Litúrgicas do Advento são: roxo, violeta, lilás e rosa (azul é opcional). O  roxo
significa contrição: daí a matização das cores no sentido de ir clareando
conforme a chegada do Natal. O  rosa geralmente é usado no quarto domingo,
que simboliza a alegria da Natalidade do Senhor

obs: não esqueça de parar o video do blog (a direita embaixo) para visualizar esse

O significado teológico do Advento será  apresentado, no Ano “A”, através das
leituras que culminam no Evangelho de S.Mateus, a cada domingo. Começamos
o tempo do Advento com preparação para as celebrações natalinas do
nascimento e manifestação de Jesus Cristo (Is 40,3), da encarnação do Logos, a
Palavra de Deus (não devemos nos esquecer que o “logos” corresponde a
“davar”, na Bíblia. Assim compreenderemos os sentidos: a teologia de João
reflete o pensamento de um hebreu que pensa na tradição escriturística da
Bíblia Hebraica (que o termo latino “verbo” enfraquece...). Ali, o “logos” bíblico
dá forma e consistência a todas as coisas – no preâmbulo do Gênesis e do
Evangelho de S.João) –. Davar, que significa também “promessa”, “esperança”,
“ordem”, “mandamento”, “conselho”; e continuamos:  davar é a Palavra que
provoca um acontecimento, uma ação concreta, um fato criador;  davar é
também “uma causa”, “um motivo”, e bem poderíamos dizer que  davar é a
Palavra que torna perceptível a chegada  do Reino de Deus, a causa e missão
evangélica de Jesus Cristo).

A Palavra é testemunhada na Bíblia, embora os testemunhos humanos utilizem
o nome de Deus para justificar sua “palavra”, seus projetos, suas criações. O
testemunho bíblico reflete o quanto Deus é “totalmente outro”, porque difere
radicalmente de seu “opositor” humano. A Palavra de Deus é palavra de
salvaação, de libertação, de perdão  e reconciliação. A palavra humana, ao
contrário, é via de regra palavra de opressão, de escravidão, exercício de poder.
O Advento é o tempo de arrependimento e conversão, porque o ser humano
envereda pelos caminhos dos ódios ancestrais, preconceitos, discriminações e
exclusões. É preciso preparar o caminho do Senhor, mas só ele estabelece o
roteiro da paz, das bem-aventuranças, das inclusões, da reconciliação, para que
o cuidado do Pai, a salvação e libertação, a infinita e ilimitada misericórdia,
chegue a todos, raças e povos, sociedades e nações. Vem Senhor, restaura a
Criação!



ADVENTO – PREPARANDO PARA A EXISTÊNCIA PROFUNDA
Isaías 2,1-5 – O Senhor reúne todas as nações para a paz eterna do Reino.                      
Salmo 122 – Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!
Romanos 13,11-14 – A salvação está mais perto do que imaginamos
Mateus 24,37-44 – Fiquem atentos, preparem-se!








Se considerarmos nossa responsabilidade em deslindar o que está na
profundidade do Advento do Senhor Jesus Cristo, uma rebelião também
advirá inevitavelmente. Contra a superficialidade do mundo onde vivemos,
certa conveniência satisfaz os poderes deste mundo, e nos fará mergulhar
mais no campo profundo onde queremos encontrar a verdade das coisas.
Vivemos o tempo do bem-estar individual, egoísta, narcisista, indiferente
socialmente,  estimulado através do consumismo irresponsável. Pessoas se
sentem poderosas e participantes da riqueza da sociedade porque têm
emprego rendoso, carro do ano, apartamento em zonas urbanas valorizadas,
TV FullHD, leptops, iPod, celulares multifuncionais. Acreditam que já gozam
do Éden capitalista, e que ingressaram na elite do consumo caro e sofisticado.
Não sabem que mergulharam no buraco negro da inconsciência, e nem para
onde se dirige a compaixão, a misericórdia e a ternura de Deus. O Advento
nos dirá sobre essa direção, nas palavras proféticas (Is 40,3): “Preparem o
caminho do Senhor”.


Os profetas bíblicos cuidavam desse assunto, diante do senso comum dos que
afirmavam: o rei é bom, temos um bom governo; o rei é justo, mas só
os bempostos gozam plenamente de direitos sociais; faz isso para o bem de todos
enquanto dá pão e diversão; o rei ignora a corrupção... Mas na profundidade
das coisas o que existia mesmo era a miséria encoberta, a fome de muitos, a
abastança de poucos, o desamparo do órfão e da viúva, o protecionismo
quanto aos privilégios das elites econômicas e da corte monárquica. O que se
escondia, abaixo da superfície era  o falseamento público das estratégias
econômicas, a falta de transparência na economia, nos negócios e na
diplomacia internacional; era a negação dos direitos fundamentais das
pessoas e do povo; sonegação da dignidade. Mas os profetas profissionais, a
serviço dos governantes, diziam que havia paz, a sociedade encaminhava-se
para melhores posições diante das potências do mundo desenvolvido. Os
profetas verdadeiros, porém, em nome de Deus, diziam: não há paz. Falta
tudo que diz respeito à paz (a palavra ‘shalom’ é abrangente, desde a
dignidade humana em sociedade no gozo dos direitos fundamentais como na
moderna Carta dos Direitos Humanos) – na interioridade e exterioridade
existencial de cada um de nós – ou na falta de distribuição e participação
equânime dos bens sociais que trazem a paz



Os poetas também fazem isso quando expressam profundos sentimentos a
respeito de catástrofes que irromperiam até a superfície da história da
sociedade humana (Neruda, Thiago de  Mello, i.e.). Quando a teologia do
Advento mergulha em profundidade na história da miséria, das
desigualdades, dos sofrimentos causados pelas diferenças na distribuição de
riquezas de uma sociedade; quando faz arqueologia nos fossos profundos que
separam as massas empobrecidas dos bem-postos, em termos comunitários e
sociais, da sociedade, do mundo,  e dá-nos consciência de que esse
conhecimento poderia fazer-nos entender também os ódios transportados
através do tempo sem memória: intolerância, racismo, homofobia;
preconceitos anti-feministas, anti-ecumênicos; esmagamento e alijamento dos
mais fracos; exclusão de desprotegidos e desapoderados.

O conformismo com as opressões, a entrega ao fatalismo e a aceitação dos
determinismos sociais (“bom mesmo é poder comprar, consumir, ter e
acumular”, como nos ensinam as sociedades capitalistas) é um obstáculo à
profundidade existencial na vida do cristão e da cristã desse tempo de
insanidade. Prevalecem o  homo-femina demens  (homem e mulher insanos)
contra o  homo-femina sapiens  (homem e mulheres conscientes). Eles nos
levam a buscar direitos a céus abstratos contidos em doutrinas salvacionistas
ausentes da realidade humana, doutrinas que não explicitam a salvação de
quê nem para quê, na existência e na vida concreta. Impedem a indignação
quanto às pressões da sociedade materialista e impiedosa de nossos dias.


Por outro lado, a espiritualidade e vivência na vida de fé nos ajudam a
reconhecer as lutas históricas pelas liberdades, na comunidade e na
sociedade, pelo reconhecimento de  direitos fundamentais, dignidade,
“medindo” os resultados das lutas humanas. A esperança contida no
 Advento do Filho de Deus também nos ajuda a reconhecer a necessidade de
transformações, radiografando e examinando endoscopicamente os esquemas
das desigualdades e injustiças sociais, no mundo em que vivemos. Eis o
Advento: o Senhor vem! Vem, Senhor, restaura a Criação.

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