quarta-feira, 22 de junho de 2011

Corpus Cristi


ESPIRITUALIDADE DO CORPO

“Jesus: CORPO de Deus entre nós, CORPO que se dá aos homens, CORPO para os corpos, como carne e sangue, pão e vinho. E o CORPO de Deus, Jesus Cristo, se expande, incha, tomando o universo inteiro...

É bem aí, no CORPO, que Deus e o homem se encontram.

A humanidade de Deus nos incomoda. Coisa que os primeiros cristãos descobriram com espanto.

Eles entenderam que para falar de Deus é necessário deixar de falar de Deus, e falar sobre um homem, um rosto, uma vida... Foi então que eles ficaram cristãos.

Deus, para falar de si, tornou-se homem. Fala sobre Deus é fala sobre um homem.

A PALAVRA se fez CARNE. Nosso irmão. Um de nós. Nasceu, viveu, morreu... ressuscitou” (Rubem Alves)

“A festa de Corpus Christi quer nos fazer recordar que CORPO é cálice, onde se bebe o vinho da alegria e da salvação, inserido no CORPO místico e cósmico de Cristo. Só haverá futuro digno quando todos os CORPOS viverem em comunhão, saciados da fome de pão e de beleza” ( Frei Betto).

Celebramos o “Corpo de Cristo”, uma das festas mais ricas que nos faz pensar em seu conteúdo e sim-bolismo, mas que nos faz pensar também neste “Corpo de Cristo” no meio de tantos outros corpos.

Aceitamos, pela fé, a presença real de Cristo na Eucaristia; isso implica comunhão bem maior com sua vida, seu testemunho de amor, de partilha, solidariedade, dedicação pela transformação de tudo aquilo que não dignifica a vida ou não dignifica os “corpos”.

Participamos, com muita fé, dedicação e respeito, das celebrações do “Corpo de Cristo”, mas pode ser que, às vezes, façamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja, os famosos “corpos”: explorados, manipulados, usados, escravizados, destruídos...

Pode ser que, às vezes, tenhamos um profundo amor e respeito pelo “Corpo de Cristo vivo e pre-sente na Eucaristia”, e não o vejamos nos “corpos” que estão aí, aqui, ali, lá, dos nossos lados...

Parece que não sabemos lidar muito bem com esse estranho e (des)conhecido que são os nossos “cor-pos”. Do corpo temos tido suspeitas e o temos olhado com desconfiança.

É preciso estabelecer o diálogo com o corpo. Não se trata apenas de uma reconciliação amistosa, mas de uma descoberta radical. Ignoramos nosso corpo, apesar de tê-lo tão próximo; é preciso dar-nos conta das riquezas que tem, o muito que sabe, a importância do que tem a nos dizer, a necessidade de seu apoio e a sabedoria de sua amizade.

Aqui está nosso melhor amigo, fielmente a nosso lado, e nem sempre o percebemos.

A corporeidade penetra toda a nossa auto-realização como seres humanos. O corpo não é simplesmente “organismo vivo” ou mera “exterioridade” ou mero “instrumento do espírito”. O corpo não é o túmulo da alma, mas o templo do Espírito, o lugar onde o “Verbo se fez carne”.

Por meio da Encarnação e por meio da Ressurreição de Jesus, a carne se converteu em espelho da divindade. Assim, o corpo humano começou a ocupar um lugar central.

O corpo é de importância máxima para a experiência que temos de nós mesmos e para a comunicação com Deus, com os outros e com a natureza.

A consciência do respeito e do valor ao corpo é necessária para a maturidade afetiva. A desvalorização do corpo, por outro lado, resulta na mutilação da expressividade, da comunicação de sentimentos e prejudica a maturidade afetiva-social-espiritual.

Uma relação negativa com a corporeidade equivale a uma relação negativa consigo mesmo, com os outros e até mesmo com Deus. Não aceitar o corpo é atentar contra a vida.

A pessoa é uma totalidade unificada, um “todo espiritual” e um “todo corpóreo”, tanto que não existe fenômeno corpóreo que não tenha um reflexo no espírito, nem experiência espiritual que não se reflita no corpo. O corpo participa, de maneira imprescindível, na atuação do eu espiritual e vice-versa.

A “linguagem espiritual” acompanha a “linguagem corporal”, assim como a linguagem do corpo reforça a linguagem espiritual.

O corpo fala por si mesmo, comunica, reage... O corpo é expressão de nossa masculinidade ou feminilidade, de nossa sexualidade integrada ou reprimida, de nossa saúde ou doença, de nossa alegria ou tristeza, realização ou frustração, de nossa consolação ou desolação.

O corpo é expressão e comunicação daquilo que somos.

O próprio Deus se fez corpo, no corpo de uma mulher: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.

A espiritualidade cristã é “encarnada”.

A Encarnação foi o caminho que a Trindade escolheu para se aproximar da humanidade e fazer história

conosco. Nosso corpo humano, feito de barro – vaso frágil e quebradiço – tornou-se o lugar privilegiado da chegada e da revelação do amor trinitário.

“Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós?” (1Cor, 6,19)

O nosso corpo é o “templo” santo e santificado, onde Deus Trino faz sua morada.

A Encarnação de Jesus não autoriza qualquer desprezo da corporeidade; pelo contrário, valoriza o ser humano na sua totalidade (Mc. 2,9-11).

Jesus cura a pessoa toda a começar pelas doenças do corpo, doenças psicológicas e espirituais.

Cultivar o corpo para recuperar a saúde, combater o stres, harmonizar mente e corpo, razão e emoção, isto é benéfico. A deturpação desumanizante do corpo aparece quando ele é visto como fim em si mesmo.

Temos muitas ofertas para o corpo: ginásticas, academias, cosméticos, bioenergéticas, yoga, dança, expressão corporal, cirurgias plásticas, implantes, massagem...

Cuidar sim, idolatrar não; é preciso caminhar para a superação do medo do corpo, mas sem idolatrá-lo.

O corpo se plenifica na comunhão com outros corpos, com Deus e com o corpo da natureza. Nosso humilde corpo é parte da Criação inteira e nosso bem-estar faz sorrir a natureza.

Nosso corpo é pura relação. Nele ficam registradas todas as marcas de nossa vida, de nossa história.

A pele é a memória mais fiel de tudo o que nos acontece externamente.

O corpo é presença e linguagem - tudo nele fala: fala o rosto, falam os olhos, falam os movimentos e as posturas, falam os gestos, acompanhando, reforçando e expressando a intenção íntima.

É no corpo que o eu da pessoa historicamente se constitui em relação aos outro e às suas escolhas.

E a relacionalidade expressa pelo corpo não deve ser compreendida só em uma dimensão horizontal; essa se entrelaça com uma relacionalidade de tipo vertical que a fundamenta e a caracteriza em direção do Absoluto.

Texto bíblico: Jo. 6,51-58

Na oração: Nosso corpo é tocado pela encarnação de Jesus. E lembre-se de que Deus conhece nossa estru-

tura. Ele sabe de que barro somos feitos.

Reze sua humanidade, seu corpo de homem ou mulher. Leve para sua oração os desafios do coti- diano, os imprevistos da vida.

Seja humano diante de Deus, deixe seu corpo falar a Deus.

Reze com seu corpo. E agradecido(a) bendiga sempre o Senhor.


Texto Pe.Adroaldo

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