quinta-feira, 13 de outubro de 2011

1º Casal de Simpatizante do Carisma



TEXTO DE IR. AUGUSTA SOBRE A PRESENÇA DOS LEIGOS E LEIGAS NA CAMINHADA DAS IRMÃS CATEQUISTAS FRANCISCANAS NO INÍCIO DA CONGREGAÇÃO.


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Senhor João ou (Joanne) Cereale e
Senhora Maria Monteverdi


Quero colocar aqui alguns traços de um homem que, a meu ver, poderia ser considerado junto com sua esposa, o primeiro casal de Simpatizantes do Carisma, ou melhor, do jeito de ser da Irmã Catequista Franciscana.

Estou falando do Senhor João Cereale, que podemos vê-lo nesta foto de 1921 junto a um grupo de jovens Irmãs. No centro está Irmã Clemência Beninca da Congregação das Irmãs da Divina Providência, que por 14 anos coordenou, orientou, acreditou, estimulou junto com o fundador Frei Policarpo Schuhen, a Congregação, na época chamada de Companhia, tanto que quando assinava algum papel ela mesma se designava “Diretora das Catequistas” e Irmã Ambrosina da mesma Congregação, que a auxiliava como orientadora pedagógica das primeiras candidatas professoras. Vemos aí, à esquerda, Frei Policarpo e à direita de quem olha, o grande benfeitor João Cereale. Só não está a esposa, porque partira para a eternidade ainda em 1915.
O que me chama a atenção, é que nossa Crônica o chama de segundo fundador da Congregação. Isto me faz afirmar que ele e sua esposa, casal de leigos, foram o primeiro casal de Simpatizantes.

Um edifício nunca é construído por uma pessoa só. A Congregação não nasceu da noite para o dia. Havia uma necessidade e uma exigência do governo de Santa Catarina: professores que dessem aula em língua portuguesa. Havia um povo imigrante que reclamava catequese para seus filhos. Houve um idealizador, o Frei Modestino Oechtering. Um Pároco inteligente e ousado que soube captar a idéia e colocá-la em prática, chamado Frei Policarpo Schuhen. Nada, porém, teria acontecido se umas mulheres corajosas não tivessem escutado o chamado e dado o seu “Sim” desafiador. Em 1913 Irmã Amábile Avosani e em 1914, Irmã Maria Avosani e Irmã Liduína Venturi. Elas acataram este desafio, confiando somente naquele que disse: Não tenham medo. Eu estarei com vocês! Jesus.
Quem as acolheu na sua casa, acreditou na ação do Espírito e orientou foi outra  grande mulher chamada Irmã Clemência Beninca, já religiosa da Congregação da Divina Providência, que trabalhava como orientadora do grupo de Filhas de Maria e da Ordem Terceira Secular, além de professora na Escola Paroquial, onde nossas primeiras irmãs estudaram.
No começo de 1915, considerado ano da fundação, o grupo das três primeiras: Amábile, Maria e Liduina, afirmaram para Frei Policarpo, que seu Sim seria para sempre, causando surpresa e alegria ao fundador. Porém, o grupo de começou a aumentar.
No final de 1915, já eram nove jovens e no final de 1916, vinte e uma irmãs. Está claro que não poderiam continuar morando sempre no convento Menino Deus, das Irmãs da Divina Providência, em Rodeio, onde foram acolhidas no início.
É aí que entra a história de nosso querido amigo João Cereale que acreditou na Missão Evangelizadora do pequeno grupo de que surgia.

Como se deu isso?
Durante o ano de 1913, a corajosa jovem Amábile Avosani ficou hospedada na casa da família Cerrutti, em Aquidabã, hoje Apiúna.

João Cereale

Em 1914, o casal João ou (Giovanni) Cereale e Maria Monteverdi, que não tinham filhos, acolheu Amábile em sua casa. Começou uma vivência fraterna e pacífica. Não é por nada que Amábile sempre teve grande apreço por este casal, vindo ele a ser uma espécie de pai e “nonno” das Irmãs. Eles apreciavam demais o desenrolar dos trabalhos criativos de Amábile na escola, na igreja e na comunidade. Vendo que o grupo crescia e não tinham onde morar e se encontrar nas férias, dialogando com Frei Policarpo, vendeu tudo o que tinha em Aquidabã e junto com o referido Frei compraram uma casa velha em Rodeio, no final de 1915. Nesta obra, ele empregou tudo o que tinha, como veremos depois no relato da crônica.
A esposa Dna. Maria Monteverdi estava muito doente. No começo de 1916, Ir. Maria da Silva passou a cuidar dela como enfermeira.  No dia 16 de abril ele resolveu mudar-se para Rodeio. Infelizmente, mal haviam chegado em Rodeio a esposa  veio a falecer, desprendida de todos os bens materiais, mas com a certeza que estes bens iriam contribuir para uma bela causa. Era dia 22 de maio de 1916.
Dna. Maria não pôde ver a alegria e o crescimento das corajosas moças que chegavam a toda hora, e Irmã Clemência, com a ajuda de Ir. Ambrosina (primeiras na foto do grupo), as preparava para assumir novas escolas onde a alfabetização, educação e evangelização aconteciam pela ação do Espírito Santo, somada pela boa vontade, dinamismo e simplicidade destas moças.
Assim, graças à generosidade deste casal benfeitor, Joanne Cereale e Maria Monteverdi, a partir de 1916, as irmãs puderam ter sua casa de encontros, passar as férias, dialogar, estudar, sempre ajudadas pela perspicácia, amor, abnegação, desinteresse e humildade de Irmã Clemência Beninca e pelo saber pedagógico de Ir. Ambrosina, que não interferiram no novo e diferente que estava surgindo.
Nossa crônica diz: ”Como o senhor Cereale e sua esposa haviam dado terreno e casa às Catequistas, assim também, o mesmo benfeitor dotou-as da mobília necessária. Foi ele que mandou fazer as camas em número de trinta a quarenta. Foi ele que deu as roupas necessárias para as camas. Comprou ainda tecido necessário para a confecção das vestes das Catequistas. Foi ele que, dando os animais que possuía, deu um seguro material, como Deus tinha dado pelo Senhor Bispo um seguro espiritual, expressando a bênção e a vontade de Deus. Como outro Cristo, ele se despojou de tudo para dar às abnegadas filhas de São Francisco tudo o que era necessário. Alma grande, alma rara, alma generosa do nunca esquecido João Cereale”.
E ainda diz: “O velho João Cereale, além de tudo o que tinha dado à companhia, ainda deu o próprio trabalho. Incansavelmente trabalhava na horta e na roça e fazia as viagens para as Catequistas, levando-as a seu destino ou buscando-as no tempo de férias. Na lembrança do povo ainda estão suas expressões cheias de reverência: ”Fui encarregado de buscar as Reverendas Maestras”; e ainda: “Tenho a honra de vos confiar as reverendas Catequistas”. Numa palavra, o Senhor Cereale, chamado o “Nonno” era impagável: todo de Deus e todo a bem fazer”.
Acrescenta ainda a crônica: No dia 16 de junho morreu o segundo fundador da Companhia, o Senhor João Cereale. Sua morte foi o eco de uma vida verdadeiramente católica. Até o último dia foi participante atento e devoto de todos os atos religiosos na igreja-Matriz. Sucumbiu já nonagenário, a um ataque de coração, perdendo o uso dos sentidos e morrendo placidamente, depois de ter sido ungido com os santos óleos. Seu enterro, num domingo à tarde foi um ingresso glorioso no cemitério. “Sepulcrum eius erit gloriosus. R.I.P. (Seu sepulcro será glorioso. Repousa em paz”).
Note-se que, como o casal não tivesse filhos e estava com idade avançada, e comungando da idéia de servir a bela causa, decidiram transferir-se para a sede da paróquia de Rodeio, também para estarem mais próximos da igreja e, com maior facilidade participar da vida da comunidade eclesial. João Cereale faleceu em 1926.
A Congregação está quase completando cem anos de fundação a serviço do povo. Queremos registrar aqui um agradecimento especial a João Cereale e a Maria Monteverdi pela cooperação prestada no começo da caminhada. “Devemos aprender com os antigos como fazer o novo”.
Queremos ainda dizer que, diversos leigos nos ajudaram no começo e ao longo dos anos. É que no começo até 1926, havia uma espécie de asilo na mesma casa. Eles vinham, ajudavam nos trabalhos pesados, quando doentes as Irmãs cuidavam deles e, ao morrerem deixavam seus poucos bens para a Companhia.
Podemos citar o nome do Senhor Francisco Debarba, pai de duas Irmãs Catequistas, que pediu e foi aceito como morador da casa em 1920. Deu às irmãs tudo o que tinha para ser cuidado até a morte, deixando os seus bens para a Companhia. Muitas de nós o conhecemos como nono Debarba. (Não podemos confundi-lo com João Cereale). No começo era um homem forte e de boa saúde. Prestava serviços nas roças, nos arrozais e no trato dos animais. Durante trinta anos, cumpriu a tarefa de tocar a campainha às 04h15min, para acordar as pessoas da casa. Muito religioso, de missa e terço diários. Morreu a 17 de novembro de 1949.


“Enfrente o seu medo e transforme-o em força de vida”.
                                                                                                   (Anselm Grün)


Rio dos Cedros, 01 de outubro de 2011.
Irmã Augusta Neotti

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