terça-feira, 31 de maio de 2011

Reflexões em torno do Sagrado Feminino



A palavra mãe vem do sânscrito, base de todas as línguas, em sânscrito mãe é matri. Desta raiz vieram mater, mother, mutter, madre, mamã, mamá, mère, mati, mainha, mãezinha e tantos modos de dizer a nossa sempre lembrada genitora. A palavra soa como a prática de beber na fonte do leite materno, lábios dançando e sugando a primitiva sobrevivência; amar é mamar. Nascemos da carne e sangue da mãe, e ela foi a nossa primeira aproximação da intimidade divina. O sagrado se fez mais perto de nós através de sua constante presença. Se para muitos Deus é impessoal, para quem cultua a força maternal ela é a visibilidade do Absoluto. Sua presença efetiva e afetiva, as palavras simples, o encorajamento, a inspiração, o toque das mãos, a bendição, o porto seguro, a tranqüilidade, o incansável cuidado, nos permitem a travessia da existência. No sânscrito matri quer dizer medir e avaliar. A medida de mãe é um amor que não se mede e é o nosso parâmetro de valores, o modelo referencial do que entendemos de humano. Seu jeito é pleno de naturais atributos divinos e nos dá o padrão no qual tivemos o nosso aprendizado de amor desprendido, persistente, incansável, paciente, compreensivo terno e materno.

Nações espirituais, culturalmente fortes, criaram para ela uma data, um dia de domingo, festivo e carinhoso, o Dia das Mães. Uma data sagrada. Claro que o mundo mercantilizado e consumista ajeitou o modo de comercializar a ocasião, comprar e vender. Mãe merece todos os nossos presentes, cartões, mensagens, família se reunindo, e um filho ou filha ligando lá de longe; porém, o mais importante é não esquecer o berço onde aprendemos as nossas primeiras lições do Sagrado Feminino. Há algo de espiritual nesta data, algo mágico e místico, atraente e benevolente , emoção e gratidão, uma saudade imensa grudada em nosso coração.

Na vida espiritual, na reflexão filosófica e teológica, nas análises sócio-políticas, ouvimos e lemos mais sobre os homens; porém, a mulher é o húmus fecundo das palavras, a expressão espiritual que desperta o sagrado no humano. Em cada mulher está a mãe reveladora da nossa essência sagrada. Em cada mãe habita a corajosa guardiã de tudo o que é melhor e sublime em nossa vida. As qualidades humanas que ainda existem em nós foram moldadas pelos artesanais conselhos de nossa mãe. Quando caímos no poço fundo e escuro da nossa falsa ética, da nossa imoralidade, dos desenredos dos nossos erros; quando extraviamos a meta e perdemos o caminho; é exatamente nestes momentos, que nas lacrimosas retinas de nosso olhar aparece a figura da nossa mãe. É sempre a mãe que segura os desacertos de nossa estrada e nos coloca na boa condução de nossa existência.

Se um Deus é capaz de dar a vida por amor, há mães que se sacrificam para que seus filhos não morram. O Hinduísmo elevou a mulher à condição de divindade e fez dela uma Deusa. No Judaísmo, Deus falou mais com os homens, porém caminhou corajosamente com as Matriarcas (Judite, Ester, Ruthe ) O Cristianismo mostrou o Divino passando pelo ventre de Maria, a mãe de Jesus, o Filho de Deus que moldou sua força divina durante 30 anos no anônimo lar de Nazaré, junto com sua Mãe. Se olharmos a tradição das religiões existem muito mais mães divinas que pais reveladores do sagrado: Parvati, Kali, Lakshmi, Sarashwasti, Eva, Lilith, Ísis, Íris, Deméter, Afrodite, Vina e tantas outras presentes na fé e nos mitos, as Grandes Mulheres inspiradoras da vida.

A mãe sempre alertou em nós nossas obrigações espirituais. Ela que traçou em nós os sinais religiosos, decorou nosso quarto com o Anjo da Guarda, balbuciou preces, trouxe a oração à mesa, teceu ritos ,difundiu ensinamentos preciosos para a nossa vida interior, mostrou a qualidade da alma, nos levou ao espaço sagrado do templo, fez de nossa casa um santuário.

A mãe mostrou um amor puro, fontal, caseiro e perene. Há nela uma intuição, um sexto sentido que dificilmente falha, sensibilidade, coragem, profecia, capacidade de perdoar na mesma medida de sua capacidade de amar. Na primavera de nossa existência é ninho e flor. No verão é o brilho ensolarado do amor. No outono é a seiva escondida preparando novos e futuros frutos. No inverno é pousada e cobertor, chá e lareira acesa para esquentar o lugar.

A mãe é um modo encarnado onde o Divino fez de nossa vida uma bênção, um colo, uma casa, um abrigo, uma palavra, uma eternidade, uma honra e cuidado, um bem-estar, uma beleza e bondade, uma saudade que sai de nossos poros. De onde estiver, mãe, cubra-nos com sua presença e palavra sagrada! A bênção, mãe!

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