segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Preparação para o Advento



I. INTRODUÇÃO GERAL


1. Nosso povo sofrido se reúne para celebrar a fé no

Deus que vem. É um povo que se deixa guiar pela luz

do Senhor, o único Deus verdadeiro, a fim de aprender

com ele a fazer história para construir sociedade

nova: "Vamos subir ao monte do Senhor e à casa do

Deus de Jacó. Ele nos ensinará seus caminhos... para

que possamos transformar as espadas em enxadas e as

lanças em foices" (1ª leitura, Is 2,1-5).

2. Nosso povo sofrido se reúne porque acredita que

celebrar em comunidade é estar preparado para a vinda

do Filho do Homem; porque acredita que em sua

caminhada já foram lançadas sementes de eternidade

(evangelho, Mt 24,37-44).

3. Nosso povo sofrido se reúne porque já chegou a

hora de acordar. E é capaz de trazer para a celebração

sinais de seu compromisso com o Deus que já está

presente no meio de nós, mas que chega continuamente,

transformando o tempo presente em momentos de

graça e salvação (2ª leitura, Rm 13,11-14a).
 
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS


1ª leitura (Is 2,1-5): "Virá o dia em que todos..."

4. Isaías viveu tempos difíceis em que o povo, esgotado

pelo peso dos tributos, era enganado pelas lideranças

político-religiosas. Elas buscavam apoio em

alianças que os profetas, porta-vozes das esperanças

populares, contestavam fortemente, pois se fundavam

no medo, insegurança e submissão do fraco ao forte.

5. O profeta tem uma visão acerca de Judá e Jerusalém

(v. 1). Trata-se da intuição profunda de um homem

de Deus que procura estar atento ao clamor do

seu povo. A visão fala de tempos futuros que, para o

bom entendedor, não são projetados para o fim da

história ou além dela. Ao contrário, pretende suscitar,

desde já, a virada histórica que surge a partir da tomada

de consciência dos empobrecidos que não perderam

a esperança nem a disposição em lutar. A visão se

refere ao monte da casa do Senhor, ou seja, o monte

Sião, sobre o qual foi construído o Templo. Ele estará

firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas

e dominará as colinas (v. 2). Para os povos

antigos, os montes eram lugar de encontro com a divindade.

Afirmando que o monte da casa do Senhor

estará acima de todas as montanhas, Isaías intuiu um

tempo em que o mundo inteiro irá prestar culto ao

único Deus verdadeiro, o Deus juiz dos povos e árbitro

de muitas nações (v. 4a).
6. Isaías imagina o monte da casa de Deus como


farol que irradia a instrução (lei) e a palavra do Senhor

(v. 3c) e como ponto de convergência de todos

os povos, numa grande peregrinação, semelhante às

romarias do povo de Deus em direção ao Templo:

"Vamos subir ao monte do Senhor e à casa do Deus de

Jacó" (v. 3a). Por quê? Para conhecer, a partir da experiência

de Israel, o modo diferente de fazer história

para construir sociedade nova: "Ele nos ensinará seus

caminhos, para que andemos nas suas estradas" (v.

3b). Um povo, o povo de Deus, puxa a fila da romaria:

"Casa de Jacó, deixemo-nos guiar pela luz do Senhor"

(v. 5).

7. Qual será o resultado disso? A transformação de

toda a sociedade: não mais a torre de Babel (cf. Gn

11.1-9), símbolo da desagregação social, e sim a criação

do mundo novo, sem fronteiras, porque a norma

última será a justiça que vem de Deus e transforma as

relações entre as pessoas e os povos. Fruto maduro

dessa união universal será a paz que decorre da justiça:

"Eles transformarão suas espadas em enxadas e

suas lanças em foices. Povo algum levantará a espada

contra outro povo, nem mesmo farão exercícios de

guerra" (v. 4b). Justiça, paz, desarmamento, bem-estar

para todos: isso é o que o profeta intui a partir do reconhecimento

do único verdadeiro Deus que caminha

no meio do seu povo. Em síntese, um pentecostes em

pleno coração do Antigo Testamento. Quando isso irá

acontecer? Quando um povo consciente e organizado

puxar a fila, deixando-se guiar pela luz do Senhor.

Evangelho (Mt 24,37-44): "Fiquem vigiando..."

8. Os capítulos 24 e 25 de Mateus formam o que se

costumou chamar de "discurso escatológico". Dois

temas importantes nascem desses capítulos: 1. O fim

do Templo e a destruição de Jerusalém. Esses dois

acontecimentos marcam, para os cristãos, o início de

uma nova época, a humanidade nova surgida da prática

de Jesus e de seus seguidores. De fato, em 24,1

Jesus "sai do Templo", e isso não é simples constatação

de um fato, mas leitura teológica: abandona-se um

tipo de sociedade que não tem mais nada a oferecer,

para abraçar o novo que nasce do compromisso "vigilante"

na nova sociedade. 2. O desconhecimento em

rolação à vinda do Filho do Homem e a conseqüente

vigilância enquanto gesto ativo que compromete as

pessoas na transformação da realidade. O evangelho

deste domingo refere-se ao segundo tema.

a. Dois modos de fazer as coisas (vv. 37-42)

9. Ninguém sabe quando será o fim do mundo. Nem

podemos pretender que apareçam sinais espetaculares

anunciando que a hora está para chegar, pois a vinda

do Filho do Homem será como nos dias de Noé (v.

37; cf. Gn 6-8). Naquela ocasião, as pessoas levavam

a vidinha de sempre: "Comiam e bebiam, casavam-se

e davam-se em casamento" (v. 38). Nada de extraor
 
dinário para anunciar a iminência do dilúvio, a não ser


a presença de Noé "que era pessoa Justa entre seus

conterrâneos, andava com Deus, e por isso obteve o

favor de Javé" (cf. Gn 6,8-9).

10. O evangelho não emite um julgamento a respeito

da conduta das pessoas no tempo de Noé. O livro do

Gênesis, ao contrário, salienta o aumento da violência

até chegar a uma situação insuportável. Mateus se

limita a frisar que os contemporâneos de Noé "nada

perceberam até que veio o dilúvio e arrasou a todos"

(v. 39a). Contudo, não devemos desprezar a insensibilidade

das pessoas daquele tempo e de hoje também.

No fundo, a vinda do Filho do Homem é uma questão

de sensibilidade em relação ao momento presente,

semelhante à de Noé, qualificado como pessoa justa.

É ai que se joga o destino da sociedade: "Assim acontecerá

também na vinda do Filho do Homem. Dois

homens estarão trabalhando no campo: um será levado

e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo

no moinho: uma será levada e a outra deixada"

(vv. 39a-41). Por que essa diferença de sortes? Qual

terá sido o critério de seleção, se aparentemente os

dois homens e as duas mulheres estavam fazendo exatamente

as mesmas coisas? A resposta está no modo

como as pessoas agem. Há quem vive o presente preparando

o futuro, e há quem não aprendeu da história

(os tempos deNoé) e não sabe como viver o presente,


sem futuro...

b. A solução é vigiar (vv.42-44)

11. O que é vigiar? Para alguns, pode ser a atitude

policiesca por se considerarem donos da verdade.

Parece que Mateus não pensava assim. No episódio do

Getsêmani (cf. 26,38.40-41), Jesus pede aos discípulos

que vigiem com ele. Vigilância, nesse caso, é solidarizar-

se com Jesus, que está para ser morto por uma

sociedade baseada na mentira e na injustiça. Isso pode

iluminar o trecho em questão. Jesus não está à procura

de inquisidores, nem declarou aberta a temporada de

caça às bruxas; ele quer pessoas que, apesar de não

saberem quando o Senhor virá, solidarizam-se com os

que clamam por sua vinda, projetando luzes novas

sobre a escuridão que invade nossa sociedade. Os que

assim agem, colhem desde já as sementes de eternidade

que se encontram no momento presente.

2ª leitura (Rm 13,11-14a): Acorda povo!

12. A partir do capítulo 12 da carta aos Romanos,

Paulo inicia longa exortação, procurando mostrar àquela

comunidade as conseqüências do ser cristão. Os

versículos escolhidos para este domingo fazem parte

desse tema. Os que, pela fé e pelo Batismo aderiram a

Cristo enquanto proposta e início de um mundo novo,

descobrem no tempo presente sementes de eternidade.

Por isso são capazes de transformar a vida do dia-adia

em tempo de graça (kairós, em grego) e de salvação.

13. O texto de hoje inicia com uma afirmação: "Vocês

sabem em que tempo (kairós) estamos vivendo: já é

hora de acordar, pois nossa salvação está mais perto

do que quando abraçamos a fé" (v. 1l). Os cristãos

lêem o presente à luz do que Jesus fez e continua fazendo

"até que Deus seja tudo em todos". Paulo fala

de um futuro próximo, que não é necessariamente a

data do fim dos tempos. Ao contrário, fala de um futuro

enquanto oportunidade oferecida a todos os que

sonham e lutam com aquele tipo de sociedade pela

qual Jesus deu a vida. Nesse sentido, os cristãos vivem

o presente abertos para o futuro, semeando aqui e

agora as sementes de um tempo novo. É verdade que,

à medida que caminham, as pessoas se aproximam

sempre mais do fim. Mas o que Paulo prevê, à semelhança

de Isaías (cf. 1ª leitura), é que já está raiando a

madrugada da vida plena para todos, madrugada que

tem as cores e harmonias da manhã da ressurreição de

Cristo.

14. Os versículos em questão falam de noite, trevas,

sono, madrugada, acordar, falam também de ações de

injustiça (obras das trevas) e citam algumas, e de ações

de justiça (vida decente), de roupas novas e de

armas da luz. São imagens que os primeiros cristãos

usavam para falar do Batismo e para mostrar o novo

que surge da militância cristã, que semeia no presente

aqueles frutos que sonhamos colher um dia.

15. É hora de acordar! Acorda, povo! É tempo de

novas oportunidades para a fé. A alvorada de um novo

tempo já está raiando em nossas comunidades.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO


16. O primeiro domingo do Advento propõe o tema da vigilância. Vigiar é solidarizar-se com


Jesus, assumindo a causa dos que são continuamente condenados às mais variadas formas de


morte em nossa sociedade. Se Isaías sugere que as comunidades cristãs puxem a fila em direção


à justiça que gera a paz e o bem-estar de todos, Paulo pede que as mesmas comunidades


apresentem símbolos de seu compromisso com o projeto de Deus. Este não se realiza de modo


mágico ou extraordinário, e sim mediante a ação solidária dos que transformam o momento


presente em tempo de graça, salvação e vida para todos. (Sugestão: trabalhar com símbolos


negativos: obras das trevas, para mostrar que o povo precisa acordar, e com símbolos positivos:


sinais de vigilância, armas da luz, desarmamento etc., que traduzam a vigilância do povo.)

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