terça-feira, 26 de julho de 2011

Nações Unidas revela legislação deficitária no reconhecimento das questões de gênero


Camila Maciel

"Agressões contra mulheres somente ultrapassam o limite doméstico, quando resultam na morte dessas mulheres”. É o que destaca o Relatório Regional sobre as Respostas à Violência de Gênero no Cone Sul, elaborado pelo Escritório das Nações Unidas contra Droga e o Crime (UNODC) com o apoio da ONU Mulheres. Apresentado na última terça-feira (19), o estudo revela que, por não encontrarem uma resposta efetiva na legislação, a violência de gênero muitas vezes é silenciada.

Discriminação, invisibilidade nas estatísticas nacionais e resistência em reconhecer a violência por razões de gênero como uma violação aos direitos humanos. Esse é o tratamento dado à questão, o que ampara as práticas violentas contra a mulher nos países analisados: Argentina, Chile, Brasil, Paraguai e Uruguai. Nesses países, com exceção do Brasil e Argentina, "a legislação não inclui medidas específicas para proteger as mulheres em situações de violência de gênero”, assinala o documento.

Entre 60 a 80% dos casos de violência intra-familiar, a denunciante é mulher, número que chega a 88% no Uruguai. Na Argentina, por exemplo, 86% dos denunciados são homens, o que denota a evidência de que a violência doméstica baseia-se na questão de gênero.

O Chile é o único país, dentre os analisados, que tipifica a morte de mulheres por razão de gênero como feminicídio. Entre 2007 e 2010, identificou, portanto, que 58,9% das mulheres chilenas assassinadas foram mortas pelas mãos de homens com os quais tinham alguma vinculação afetiva. No Uruguai, o número é ainda mais alarmante, 85% das mulheres foram assassinadas em um contexto de violência doméstica.

Nesse sentido, muitos são os desafios apontados no relatório do UNODC. Uma das debilidades destacadas refere-se à legislação que, na maioria dos países, não reconhecem a especificidade das questões de gênero. O Escritório das Nações Unidas critica também a exposição a que são submetidas as mulheres que buscam apoio institucional. Muitas vezes são levadas a buscar diferentes instâncias, tendo que reviver o caso diversas vezes. São, portanto, expostas a processos de re-vitimização.

Como avanço na região, o relatório do UNODC revela que as Delegacias de Mulheres representam a principal porta de acesso à justiça. A contratação de polícias femininas para as unidades especializadas também figuram medidas importantes para diminuir a insegurança e a vergonha por que passam as vítimas no momento de denúncia. Além disso, os cinco países são signatários dos principais documentos internacionais de proteção aos direitos das mulheres.

"Explicitar o componente de gênero como causa da violência”, recomenda o relatório aos países que ainda não adotaram uma legislação sobre violência doméstica, que contemple as desigualdades históricas entre homens e mulheres. Reconhecer que as mulheres são a maioria das vítimas da violência familiar é apontado como passo importante para tornar as legislações efetivas.

Para ler, na íntegra, o relatório: http://www.unodc.org/documents/southerncone/noticias/2011/07-julho/Diagnostico_consolidado_espanol_2.pdf

É lícito "desligar" os aparelhos de sobrevida?


A questão relativa ao ato de desligar os aparelhos que mantêm a vida de doentes terminais, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva dos hospitais é um assunto moralmente ainda muito discutível. Digo ainda discutívelporque o zeitgeist (espírito de época) que norteia nossa vida em sociedade hoje é muito elástico, atuando com casuísmos que tentam passar a idéia do "cada caso é um caso”.

A jovem americana Karen Ann Quinlan, tinha 22 anos de idade, quando em 15/04/75 entrou na emergência do Newton Memorial Hospital, de New Jersey/EUA, em estado de coma, em virtude de algum problema nunca esclarecido. Há quem diga tratar-se da ingestão de tranqüilizantes com bebida alcoólica. Depois de dez dias, a garota foi transferida para o Hospital St. Clair, em New Jersey. Lá, seus pais adotivos, Joseph e Julia Quinlan, tendo as informações da irreversibilidade do caso e após conversarem com seu diretor-espiritual, padre L. Trapasso, solicitaram, em 1o de agosto, a retirada do respirador. O médico assistente, após ter concordado com a solicitação no primeiro momento, se negou, posteriormente, alegando a ética profissional.

Inconformada, a família foi à justiça solicitar a autorização para suspender todas as medidas extraordinárias, alegando haver, por parte da paciente uma manifestação anterior, que não gostaria viver mantida por aparelhos. Em despacho em novembro de 1975, o juiz responsável pelo caso, não autorizou a retirada dos aparelhos, baseando a sua negativa no fato da impossibilidade de confirmar que a paciente tivesse dado aquela declaração.

A família apelou para a Suprema Corte de New Jersey, que designou o Comitê de Ética do Hospital St. Clair como responsável para estabelecer o prognóstico da paciente e assegurar que a mesma nunca seria capaz de retornar a um patamar aceitável de vida. O Comitê, que até então não existia, deu parecer de irreversibilidade. Em 31/03/76, a Suprema Corte de New Jersey concedeu, por sete votos a zero, o direito da família em solicitar o desligamento dos equipamentos de suporte extraordinários. Após isto, a paciente sobreviveu quase dez anos, sem o uso de respirador, mas sem qualquer melhora no seu estado neurológico.

Em 1995, ministrei, na cidade de Pelotas, RS, um curso intensivo (5 noites) de teologia sobre "escatologia” (vida após a morte). Num determinado momento do programa, para falar em após a morte, tivemos que definir a hora da morte, quando veio à baila o assunto morte encefálica (ME) e consequente desligamento de aparelhos. Uma religiosa, que trabalhava na UTI de um dos hospitais da cidade, relatou que, por conta de um acidente de carro, uma moça foi declarada em ME, sendo recomendado pelos médicos que lhe desligassem os aparelhos e depois dessem a notícia do falecimento à família. A irmã de caridade resistiu à ideia, e os aparelhos não foram desligados como fora adredemente solicitado. Para não se alongar, a religiosa perguntou: "Sabem onde está a moça hoje? É dentista, casada e tem dois filhos”. Nenhum dos médicos presentes se dispôs a contestar o depoimento da religiosa.

O homicídio involuntário (quando o agente não teve a intenção de praticar o ato danoso) não é moralmente imputável. Mesmo assim, não está isento de falta grave quem, de modo culposo (imperícia, imprudência ou negligência) agiu de maneira a provocar a morte, ainda que sem a intenção de causá-la. É indiscutível que as fronteiras biológicas estão sendo derrubadas, e por isto deve-se refletir sobre o papel do Direito na tentativa de evitar a utilização indiscriminada da ciência quando não ligada aos princípios éticos consensuais, oferecidos pela reflexão bioética. É imperioso buscar a proteção da vida humana e de suas características intrínsecas relacionadas à dignidade, inviolabilidade, e identidade do ser humano.

Antônio Mesquita Galvão
Doutor em Teologia Moral (Adital)

[O autor tem 112 livros editados, no Brasil e exterior, entre eles "Bioética. A ética a serviço da vida. Uma abordagem multidisciplinar”. Ed. Santuário, 2004].

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cada Chão, uma Emoção


“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores...

Se não houver flores, valeu a sombra das folhas...

Se não houver folhas, valeu a intenção da semente...” (Henfil)

As parábolas são um relato provocativo e aberto, que envolvem o ouvinte ou leitor; elas não exigem explicações mas uma resposta pessoal, vital. O objetivo das parábolas é substituir uma maneira de ver o mundo, míope e limitado, por outra, aberta a uma nova realidade cheia de sentido e de esperança.

As imagens de sementes, árvores, chão..., dão o que pensar; questionam nossa maneira de ser, nos convi-dam a descer ao nosso chão existencial, a olhar o mais profundo de nós mesmos e a descobrir ali ricas possibilidades.

Cada planta procura seu chão. Não se desenvolve em qualquer lugar. Exige nossa atenção: temos que conhecer o chão onde plantamos.Temos de observá-lo. Cuidá-lo.

Cada chão tem uma palavra a nos dizer, uma palavra sobre a planta que melhor fruto pode dar.

O novo vem das raízes. Vem de baixo, da base, do chão.

Na semente acha-se presente uma grande força de crescimento...

A força da vida, contida na semente, envelhecerá e se extinguirá se não hou-ver quem confie nela, e arrisque a sua terra, seu tempo e seu trabalho.

Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; ela avança passo a passo, seja durante as horas em que as circunstâncias lhe são mais favoráveis, porque é de dia e existe luz e calor em abundância, seja porque é de noite, e o ambiente para seu crescimento já não é tão propício.

Escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semen-te germina e vai crescendo. O talo, a espiga e os frutos conduzem toda a vitalidade da minúscula semente até a maturidade da árvore. E cada árvore vive intensamente o tempo que lhes cabe viver, o tempo suficiente para produzir frutos em abundância.

As sementes são muito pequenas e colocadas na terra, desaparecem. Submergidas na terra as sementes vivem um lento processo até poder liberar uma vida nova e abundante. No entanto, contém uma vitali-dade oculta que as leva a germinar. O fundamental não é seu tamanho senão a enorme força transfor-madora que contém e sua grande fecundidade.

Na fecundidade há espaço para o “mistério”. A fecundidade tem lugar no oculto, nas entranhas da terra. A fecundidade supõe confiança e abandono, uma atitude aberta e serena, sem ansiedade nem tensão, sem deixar-se desanimar pela insignificância dos primeiros resultados.

Viver em chave de fecundidade supõe aceitar ritmos, tempos longos como se dão na natureza. As plantas necessitam tempo para florescer e meses para crescer. Isto supõe excluir toda impaciência.

A fecundidade tem a ver com a capacidade para acolher o gratuito, com a capacidade para assumir que, por muito que tenha trabalhado, o resultado é dom gratuito.

A natureza tem imperfeições e fracassos; nem todos os frutos que produz são os melhores. No campo, junto ao trigo, aparece a cizânia e ambos co-existem até o final (Mt. 13,24-30). Nem todos os frutos são de primeira categoria. O espírito de fecundidade acolhe as debilidades, pois não cabe a ninguém julgar.

A fecundidade perdura e aumenta com os anos, embora as força se debilitem.

Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão da vida”, como as raízes na obscu-ridade da terra, na presença do silêncio. Aqui o caminho para Deus é “descer” ao nosso próprio chão e viver a comunhão universal. Subimos rumo ao Transcendente quando descemos ao nosso chão da vida.

O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio. Somos terra. Temos a Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração.

Vivificados pelo Espírito, somos Terra que pensa, sente canta e ama.

Sentir que somos Terra faz-nos ter os pés no chão e viver em comunhão com a comunidade das criaturas;

faz-nos perceber tudo da Terra: seu frio e calor, sua força que ameaça bem como sua beleza que encanta. Sentir a chuva na pele, a brisa que refresca, o tufão que assusta. Sentir na respiração o ar que nos entra, os odores que nos embriagam, as cores que nos assombram.

Sentir a Terra é acolher seus nichos ecológicos, captar a originalidade e a riqueza de cada criatura, inserir-se num determinado lugar percebendo sua sacralidade.

Ser Terra é sentir-se habitante de certa porção de terra. Ser Terra significa nossa base firme, nosso ponto de contemplação do todo, nossa plataforma para poder alçar vôo para além dessa paisagem e desse peda-ço de terra, rumo ao Todo infinito. Sentir-se Terra é perceber-se dentro de uma complexa comunidade de seres vivos. Para todos a Terra produz condições de subsistência, de evolução e de alimentação, no solo, no subsolo e no ar. Terra, nosso lar comum.

Sentir-se Terra nos faz lançar raízes no mais profundo do humano e despertar todas as energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente, toda decisão de assumir-se como cooperador e artífice de um novo tempo.

Pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra. “Somos Terra”.

O ser humano vem de húmus. Viemos da Terra e voltaremos à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distante e diferente de nós mesmos.

Não há, portanto, distância entre nós e a Terra. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. Humanidade e Terra, formamos uma única realidade esplêndida, reluzente, frágil e cheia de vigor. Somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de relações de tudo com tudo, há mais de 15 bilhões de anos.

Os elementos químicos da Terra circulam por todo o nosso corpo, sangue e cérebro. Temos no corpo, no sangue, no coração, na mente e no espírito os “elementos-Terra”.

Dessa constatação, nasce a consciência de profunda unidade e identificação com a Terra e com sua imensa diversidade. Somos um com ela.

A experiência espiritual cristã implica “mergulhar os pés na terra” (Lev. 25,1-24).

É na obscuridade da terra que a planta vai buscar a força que a manterá viva, que lhe dará condição de ex-pandir sua copa em direção à imensidão do céu. As raízes mergulham na terra de modo profundo, silen-cioso e lento. Expressões do nosso cotidiano como “pôr os pés no chão”, “estar com os pés na terra”, significam enraizar-se e comprometer-se com a realidade que nos afeta.

No “chão”, à primeira vista, estão todas as sujeiras, os detritos e as coisas em decomposição. Mas, para as raízes, tudo isso significa a origem da vida.

Um “chão” é sempre mais do que um simples chão: cada “chão” revela lembranças, referências, ansie-dades, medos, saudades...; cada “chão” guarda histórias, presenças e tem força de memória. Há vidas, pessoas, caminhos, acontecimentos, experiências...

Chão amplo é convite a sonhar alto, a pensar grande, a aventurar-se... ousar ir além, lançar por terra nosso modo arcaico de proceder, romper com os espaços rotineiros e cansativos.

“Chão humano e humanizante” porque carregado da presença divina.

É o ser humano mesmo o verdadeiro chão a partir do qual Deus se encontra e se dá a conhecer; cada pessoa é o autêntico chão da eterna presença de Deus.

Texto bíblico: Mt. 13, 24-43

Na oração: - “Eu penso e sinto a partir do lugar onde meus pés estão plantados”. Onde seus pés estão planta-dos?

Pe.Adroaldo

quarta-feira, 13 de julho de 2011

8 Encontro Nacional Fé e Política - Em busca da Sociedade do Bem-Viver



Caros/as amigos/as, Paz e Bem!
Inscrições: www.fepolitica.org.br
Abraços,

Meire Araújo
Secretaria do Movimento Nacional Fé e Política
(11) 2081 0294 Skype: fepoliticanacional
www.fepolitica.org.br


PROGRAMAÇÃO DO 8º ENCONTRO NACIONAL DE FÉ E POLÍTICA

28/out/2011

TARDE / NOITE

Credenciamento: A partir das 16hs

Acolhimento dos Participantes

Roda de Viola – 19hs

29/out/2011

MANHÃ

Chegada dos participantes – continuação do credenciamento

Celebração de abertura – 9hs

Composição da Mesa - 10hs

  • D. Luiz Antônio Guedes – Bispo da Diocese de Campo Limpo
  • Chico Brito – Prefeito de Embu das Artes
  • Pe. Jaime Crowe – Coordenação do 8º Encontro Nacional
  • Teresinha Toledo – Coordenação Nacional Fé e Política

Plenária Geral – 10h30

Pedro Ribeiro - Sociólogo, professor do mestrado em Ciências da Religião - PUC-Minas e membro da Coordenação Nacional de Fé e Política. 30’

– Pastora metodista, assessora de formação da Comissão Pastoral da Terra – CPT. 30’

Nancy Cardoso

Maurício da Silva Gonçalves – Liderança do Movimento Nacional dos Povos Indígenas do RS e membro do CAPG – Conselho de Articulação do Povo Guarani do RS. 30’

Coordenação da Mesa – Lucila Pizani

Almoço – 12h30

TARDE

Plenárias Temáticas – 14hs

  • Cada plenária terá um assessor/a, um coordenador/a e um relator/a e escolherá três desafios a serem apresentados na Plenária Geral, no domingo.

1. ESPIRITUALIDADE E CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA - Mística dos/as Mártires

Frei Betto – Teólogo, escritor e assessor dos movimentos sociais

2. ECONOMIA: PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL

Jung Mo Sung – Teólogo, pós doutorado em Educação, doutor em ciências da religião e professor da Universidade Metodista.

3. CIDADE, MODELO DE GESTÃO E DEMOCRACIA

José Fillipi – Deputado Federal por SP

4. AGROECOLOGIA X AGRONEGÓCIO - Agricultura urbana, direito à alimentação adequada e limite da propriedade - Mauro Morelli – Bispo emérito de Duque de Caxias

5. MATRIZ ENERGÉTICA E MODELOS ALTERNATIVOS DE DESENVOLVIMENTO

MAB – Movimento de Atingidos por Barragens – assessoria a definir

6. ÁGUA: BACIAS HIDROGRÁFICAS

Marcelo Cardoso - Vitae Civilis

7. BÍBLIA, PROFETISMO E A SOCIEDADE DO BEM-VIVER

Haidi Jarschel – Pastora metodista, biblista e da Universidade Metodista

8. DIREITOS HUMANOS: POR UMA CULTURA DE PAZ

Paulo Vannuchi - Jornalista e membro da direção do Instituto da Cidadania

9. TRABALHO - DIREITO DE TODOS/AS - CONFLITO CAPITAL x TRABALHO

César Sanson – CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – Curitiba-PR

10. CIÊNCIA E TECNOLOGIA - Bioética, biotecnologia

Márcio Fabri dos Anjos - Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana e Especialista em Ética e Bioética

11. A SUPERAÇÃO DA CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE

Francisco Antonio Crisóstomo de Oliveira - Secretário Nacional da Pastoral da Juventude

Alexandre Piero – Representante da PJ no CONJUVE

12. USO E TRÁFICO DE DROGAS: ENFRENTAMENTO DA CULTURA DE MORTE

Paulo Teixeira – Deputado Federal por SP

13. RELAÇÕES DE GÊNERO, RAÇA E ETNIA

Ivone Gebara – filósofa e teóloga nascida em São Paulo e vivendo no nordeste do país. Foi durante 17 anos professora do Instituto de Teologia do Recife e assessora do movimento popular.

14. ÉTICA, DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Aldaíza Sposatti - Professora titular da PUC-SP e coordenadora do Núcleo de Seguridade e Assistência Social (PUC)

15. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE

Lourivaldo Ribeiro – CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim"

Celso Zopi – CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim"

16. MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Controle e Democratização

Ricardo Campolim - ABRAÇO Nacional - Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária

FINALIZAÇÃO DAS PLENÁRIAS – 17hs

NOITE

NOITE CULTURALARTE e CULTURA na Sociedade do Bem-Viver – 18hs

Maracatu, Sarau e outras atividades culturais.

Término: 22hs

30/out/2011

MANHÃ

Chegada dos participantes – 8hs

Mística – 9hs

Apresentação dos três desafios das temáticas: Um/a expositor/, 2’ cada

Plenária Geral: Leonardo Boff - Teólogo, filósofo e escritor – 10hs

Caminhada em memória aos 32 anos do assassinato de Santo Dias, 90 anos de D. Paulo Evaristo e DNJ 2011 – 11hs

Ato Ecumênico de encerramento

Almoço -13hs

Por : Lindalva Macedo


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Religiões irmãs: a proposta de Dalai Lama






Esta fotografia mostra o Dalai Lama em visita ao túmulo de um monge cristão, o trapista Thomas Merton (1915-1968). Eles se encontraram na Índia, poucas semanas antes da morte acidental de Merton. O Dalai Lama o indica como aquele que, em primeiro lugar, o fez conhecer a profundidade e a riqueza da fé cristã e o considera como uma das suas fontes de inspiração.

A nota é de Christian Albini, publicada em seu blog Sperare per Tutti, 04-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O guia espiritual do budismo tibetano recorda Merton em um livro recém-publicado na Itália (Le religioni sono tutte sorelle [As religiões são todas irmãs], Ed. Sperling & Kupfer), em que demonstra conhecer os evangelhos, São Paulo, Francisco de Assis e João da Cruz. Em particular, encontra uma proximidade entre budismo e religiões na experiência monástica e faz referência a João Cassiano, Bento, João Clímaco:

Fiquei impressionado com a sinceridade das tradições monásticas cristãs. Uma vez, visitei um mosteiro contemplativo na França e fiquei comovido com a simplicidade do estilo de vida dos monges, com como eles mantinham quase continuamente o silêncio e o distanciamento do mundo.

Ao mesmo tempo, no amor ao próximo em nível individual e social, o Dalai Lama encontra uma proximidade com o ideal budista da compaixão. O livro fala dos encontros tidos com outras tradições religiosas: hinduísmo, taoísmo, Islã, judaísmo...

Finalmente, há uma proposta sua de diálogo inter-religioso a ser realizado com seriedade, sem quaisquer confusões que escondam as diferenças entre as fés, articulada em quatro pontos:

1. Diálogo entre eruditos das diversas religiões em nível acadêmico no que diz respeito a convergências/divergências das diversas tradições, sobretudo com relação ao fim das diversas abordagens.

2. Partilha de profundas experiências religiosas entre verdadeiros praticantes.

3. Encontros de alto nível entre os líderes religiosos, a fim de poderem tomar a palavra e rezar comunitariamente.

4. Peregrinações conjuntas aos lugares sagrados de todo o mundo.

O diálogo é um dever para que as religiões possam ser motivo de paz e de unidade para o gênero humano. Foi uma preocupação de João Paulo II, começando no encontro de Assis de 1986 (e o Dalai Lama o reconhece), ao qual Bento XVI dará seguimento neste ano. Por isso, sejam bem-vindas as contribuições como essa, que demonstram como essas intenções são compartilhadas por outras fés.


Instituto Humanistas Unisinos

Crianças e baleias radioativas é o custo de Fukushima

O desastre nuclear de Fukushima, no Japão, está se convertendo pouco a pouco no pior desastre industrial da história, apesar do silêncio midiático. Novos estudos revelam altos graus de contaminação em baleias que percorrem os oceanos, levando consigo radiação em decorrência de terem nadado nas costas de Fukushima. Outros estudos revelam que foi descoberto material radioativo na urina de crianças menores de 10 anos.


A reportagem está publicada no jornal digital argentino Urgente24.com, 03-07-2011. A tradução é do Cepat.

Desastre nuclear sem final: baleias radioativas, trabalhadores suicidas e encobrimento. Apesar de que em um princípio a mídia e o governo do Japão quiseram minimizar o nível do vazamento nuclear de Fukushima, os fatos demonstram que este poderá ser o maior desastre industrial da história.

O fato de que se tenha deixado de cobrir com a mesma intensidade o desastre nuclear de Fukushima, no Japão, não significa que a radiação tenha sido controlada.

Dias atrás, foram encontrados 31 becqueréis de césio radioativo por quilograma em baleias capturadas a 650 km da planta nuclear de Fukushima. Das seis baleias examinadas, duas apresentaram níveis de radiação que parecem provir do reator nuclear e ainda que a quantidade esteja abaixo do limite estabelecido por autoridades sanitárias, a descoberta gera preocupação devido ao nível de contaminação a que se está chegando (além do fato de que este limite foi questionado sob o argumento de que não há estudos compreensivos e algumas pessoas assinalam que nenhuma contaminação de césio é segura).

Até esta data o Japão consome carne de baleia servindo-se de uma lagoa legal para continuar caçando estes cetáceos, embora a lei internacional o proíba.

Em sua luta contra a fuga radioativa provocada pelo tsunami, a Tokio Electric Power Co. jogou dois milhões de galões de água altamente radioativa no oceano.

Crianças radioativas

De acordo com informações divulgadas pelo jornal espanhol El Mundo, um grupo de medição de radioatividade detectou pequenas quantidades de substâncias radioativas nas amostras de urina de 10 crianças da cidade de Fukushima. As provas foram realizadas em maio em 10 crianças com idades que variam entre 6 e 16 anos e os autores das medições são civis japoneses e membros da Acro, uma organização francesa que mede a radioatividade. As 10 crianças analisadas deram positivo em pequenas quantidades de césio-134 e césio-137.

O secretário do governo japonês o chefe de Gabinete, Yukio Edano, disse que estava preocupado com os resultados e admitiu que o governo poderia examinar os resultados, de acordo com uma informação do jornal britânico The Guardian. O presidente da Acro, David Boilley, por sua vez, disse que os resultados sugerem que existe uma alta probabilidade de que as crianças que vivem nas imediações da cidade de Fukushima foram expostas à radiação interna.

Segundo o estudo citado pelo The Guardian, uma criança de oito anos marcou 1.13 bequeréis (Bq) de césio-134 por cada litro de urina, sendo esta a leitura mais alta para este isótopo. Ao contrário, a leitura mais alta para o césio-137 foi de 1.30 Bq em uma criança de sete anos de idade, segundo a agência de notícias Kyodo.

Michio Kaku, o famoso físico de ascendência japonesa, advertiu que os níveis de radiação podem ultrapassar os de Chernobyl; o acidente nuclear no que hoje é a Ucrânia expôs cinco milhões de pessoas a perigosos níveis de radiação.

Há uma semana, Kaku disse, em uma entrevista à CNN, que a crise não está controlada. Os trabalhadores de Fukushima se expõem a uma dose de radiação de um ano em apenas alguns minutos de permanência na zona, e a limpeza, que ainda não começou, já que o vazamento não foi controlado inteiramente, irá demorar de 50 a 100 anos, o que significa uma boa quantidade de sacrificados. Por outro lado, é possível que tenham a necessidade de verter grandes quantidades de água radioativa ao oceano, o que poderia produzir uma crise de pesca e inclusive um conflito internacional com a China e outros países cujas águas poderiam ser contaminadas.

Kaku disse que a informação inicial foi refutada. Foi revelado que o núcleo dos três reatores foi totalmente derretido, a evacuação se limitou a 12 milhas da usina e foram encontradas quatro “zonas quentes” de radiação fora do perímetro evacuado, o que provocou a exposição à radiação de ao menos 34.000 crianças e que tenham que ir à escola com placas medidoras para saber o grau de contaminação a que foram expostas.

Além disso, Kaku aponta o evidente: tratou-se de subestimar os danos do vazamento nuclear, embora se soubesse o que realmente estava acontecendo. Este encobrimento dos efeitos e do nível de radiação tem consequências graves, como o fato de que milhares de pessoas tenham sido expostas à radiação apenas para que o mundo não se alarme diante da dimensão do ecocídio.

“Este poderá ser o maior desastre industrial da história”, disse Kaku, estimando-o acima do vazamento de petróleo do Golfo do México e de Chernobyl. Até mesmo o leite em Nova York apresenta níveis de iodo radioativo, níveis aparentemente inofensivos, mas sintomáticos da escala de radiação que estamos sofrendo. Enquanto isso, a versão que circula na mídia oficial é que a radiação foi controlada e não há nada com que se preocupar.

Instituto Humanistas Unisinos
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=45049

Em cada semente, uma faísca de eternidade

Na parábola (Mt. 13,3-9), a cena é iniciada pelo semeador: ele sai e, com um gesto, que une misteriosa-mente o céu e a terra, espalha, por toda parte e com abundância, uma semente de extraordinária potenciali-dade criativa. O Céu fecunda o grande ventre da Criação, o ventre da “terra”, e tudo canta e grita.

É o grito de júbilo da vida e do amor, que é causa de realização e sentido pleno da criação.


O verbo “sair”, com o qual se inicia a narração (“... eis que o semeador saiu...”) é colocado numa evidente posição de destaque e evoca o tema do “êxodo”, de modo a dizer que, no início da narração, podemos perceber uma alusão ao mistério do “êxodo” de Deus, que “sai” do mundo divino e leva consigo uma carga de vida, que produz a maravilha da criação e da história com uma vitalidade inesgotável. Nada do que foi espalhado cai no vazio ou é desperdiçado: tudo, até o menor fragmento, jamais volta a Ele sem produzir vida, beleza e força criativa.



O gesto de semear é alegre, generoso, transbordante e irrefreável, precisamente porque é gratuito: é um semear por semear; é um semear criativo, isto é, comunica em abundância, em toda parte e a todos, a força da vida.







Aquele semeador não se preocupa, portanto, se a semente cai também onde não pode frutificar normalmente, porque a semente que cai ao lon- go do caminho se torna alimento e alegria para “os pássaros do céu que não semeiam, nem ceifam, não ajuntam em celeiros” (Mt. 6,26); aquela que cai em lugares pedregosos se torna, mesmo com seu germi-nar efêmero, motivo de alegria, numa situação aparentemente incapaz de vida; aquela que cai entre os arbustos acende a esperança, mesmo onde predomina a hostilidade. No final, sobretudo – e não só no “terreno bom”- desce e pousa a luz dourada da bênção, da alegria e da esperança.

Este “estranho” semeador deixa a sua semente cair por toda parte; para ele nada é inútil ou esquecido.

Em cada canto da Criação desce a bênção da fecundidade. Ele semeia tudo, esgotando seus imensos celeiros, sabendo que a flor da vida enriquece a criação e a história humana. E, sob o olhar contemplati-vo do narrador tudo se torna maravilha e beleza incomparáveis.

O terreno, onde a semente cai, se torna o jardim no qual floresce o dom inesgotável da vida.

Mas, para ser verdadeiramente o que é, cada terreno deve tornar-se acolhida. Se o céu exprime o dom, a terra representa a acolhida. Se Deus é Aquele que doa, a criatura é a que acolhe, com jubilosa gratidão e se deixa fecundar e plasmar pelo dom, para tornar-se revelação do doador e canto de louvor. Se o semear exige o “êxodo” de Deus, também a acolhida exige, da parte da criação, um “êxodo” de si mesma.

A imagem do “caminho”, como realidade que permanece estranha e impermeável ao poder criador da semente, sugere a idéia de que a verdadeira acolhida exige necessariamente a superação do instinto e natural fechamento em si mesmos, isto é, a superação do medo da “mudança”, ligada, inevitavelmente, ao contato e ao encontro com o “outro”.

A imagem do “terreno pedregoso” sugere a necessidade de se superar toda superficialidade, toda falsa aparência, para realizar uma autêntica acolhida na verdade, na profundidade e na perseverança.

Enfim, a imagem dos “arbustos”, que ocupam o terreno, lembra que a acolhida não é certa, mas exige a totalidade, a preparação e a disponibilidade, que liberta da multiplicidade dispersiva, dos medos, das hostilidades e das improvisações, que não produzem nada de duradouro.

Na semente acha-se presente uma grande força de crescimento. A força da vida, contida na semente, envelhecerá e se extinguirá se não houver quem confie nela, e arrisque sua terra, seu tempo e seu trabalho.

Quando a semente é enterrada na terra, ela já conhece o seu caminho; escondida ali, debaixo da terra, envolvida pelo absoluto silêncio, a semente germina e vai crescendo.


Mesmo à margem de todo e qualquer esforço que possa ser feito pelo agricultor, “a terra por si mesma produz fruto”, ultrapassando etapas precisas e bem definidas, que de modo algum podem ser modifica-das, apressadas e suprimidas. O importante é dar frutos no seu devido tempo.


“As sementes armazenam possibilidades misteriosas e surpreendentes aos nossos olhos. Cada semente é uma fonte, um desfecho, uma pausa da eternidade. Ser semente é possuir todas as idades, todos os percursos, todas as histórias. É preciso prezar a coragem das sementes. Apodrecer para inaugurar o fruto. Cada semente, como poesia, é um bilhete para viagens” (Campos Queiroz)

Na oração: - Você se parece com uma semente guardada no depósito, marcada pelo medo?

- Você se parece com uma terra ácida e estéril que não permite que nada germine?

Pe.Adroaldo
(Enviado por Lindalva Macedo)

Carta Aberta - por Tomás Balduino (Goiás)




A paz do Senhor esteja com vocês!


Peço-lhes licença para colocar aqui umas reflexões que venho tendo com outros colegas, inclusive dando a forma de carta. Trata-se da concepção de igreja e, de modo especial, de igreja catedral. Fui motivado sobretudo pelo fato da catedral de Goiânia ter de se mudar para uma obra que ficará próxima do atual Paço municipal, em terreno doado por Lourival Lousa, dono do Flamboyant, porém do outro lado da rodovia 153, em local de acesso difícil e distante do povão. Será então uma catedral tipo monumento moderno, atualizado, tudo bem planejado, de concepção semelhante à de Brasília, a mesma que vai se reproduzir futuramente também em Palmas. Enquanto isso, por exemplo, as chamadas catedrais da Igreja Universal do Reino de Deus, que não deixam de ser também portentosas construções, ficam bem perto do povo e se enchem de gente. O que pensar, então, a respeito de nossas igrejas? Isso também faz parte da nossa responsabilidade pastoral.


1. O sacramento do Templo na Bíblia


O Senhor nos deu um ensinamento bem preciso e nos evangelizou sobre o templo. Enquanto as nações vizinhas do Povo de Israel tinham todas seu templo, os profetas do Senhor diziam que Deus não quer templo. Deus quer acampar com seu povo nômade. Construir um templo seria traição desse caminhar de Deus com seu povo. Até mesmo quando o rei Davi quis levantar um templo, o Senhor mandou o profeta Natan lhe dizer: “Desde que Deus tirou o seu povo do Egito, sempre morou em tenda e nunca pediu templo”. (2 Sm 7,7).


Segundo Isaías (Is 66,1), Deus é aquele que o universo inteiro não pode conter. Tem o céu por seu trono e a terra como escabelo de seus pés. Como pode morar em uma casa edificada pelo homem? O problema é que, de fato, desde o começo, até hoje, o templo tem servido de legitimação do poder dos reis e dos donos do poder. Não é, pois, de graça que o rei e os poderosos dão todo apoio econômico à sua construção suntuosa e em lugar privilegiado. Por isso, os profetas sempre criticaram o templo e pediram que a fé se libertasse e fosse para além do templo.

Alguns profetas, como Isaias e Jeremias, tiveram que assumir o templo como um fato consumado, mas tiraram partido dele como lugar do ensino da Palavra, não como lugar de sacrifício. E Jesus retomou esta tradição profética. Na hora da sua prisão declarou aos seus algozes: “Todos os dias eu ensinava no templo e não me prendestes”. (Mc 14,49). O templo, com efeito, não era tradicionalmente lugar de ensino, mas sim de sacrifício. Fazer daquele lugar um lugar de profecia foi um ato crítico e subversivo.

Depois do exílio da Babilônia, os judeus fiéis se reuniam em sinagogas (casas da comunidade). Começou, então, uma tensão entre o judaísmo da sinagoga (baseado na Palavra) e o judaísmo do templo (baseado nos sacrifícios e no culto). O Cristianismo surgiu no meio do judaísmo das sinagogas e não no do templo. As reuniões dos primeiros cristãos, que marcaram a liturgia até hoje, seguiram o esquema da sinagoga, não do templo. Das sinagogas para as casas. E, de casa em casa, o Evangelho foi irradiando.

Na cena da limpeza do templo o zelo vigoroso demonstrado por Jesus não foi em defesa daquela obra feita pela mão do homem. “Ele se referia ao templo do seu corpo” (Jo 2,21) e também à morada de Deus, isto é “àquele que o ama e cumpre sua palavra” (Jo 14,23) e sobretudo ao faminto, ao sedento, ao migrante, ao nu, ao doente, ao preso, às vítimas da opressão e da exploração. (Cf. Mt 23). Jesus se proclama maior do que o templo (Mt 12,6). Ele veio construir um templo não feito por mão humana (Mc 14,58). Ao celebrar sua oblação perfeita ao Pai Ele optou por fazê-la fora do templo e fora da cidade. O templo novo é o seu corpo ressuscitado (Jo 2,20). No Apocalipse, quando é anunciada a nova Jerusalém, o autor insiste que ela não tem mais templo porque o próprio Deus é o seu templo (Ap 21,22).


2. Templos e catedrais na história da Igreja


Há um paradoxo e uma contradição no fato dos judeus, para os quais o templo se tinha tornado o sacramento da presença divina, não terem querido reconstruir o templo depois de sua destruição no ano 70, enquanto os cristãos, que receberam tantas advertências de Jesus, multiplicaram os lugares de culto.

À medida que a Igreja se incorporou ao Império e se tornou uma Igreja Cristandade, ocupou os antigos templos pagãos e os transformou em templos da nova religião oficial que era a Igreja cristã. Da Idade Média até os nossos dias, as catedrais, construídas nas praças centrais e ao lado do poder político se tornaram símbolos de uma Igreja que o Concílio Vaticano II procurou superar. Segundo a Lúmen Gentium, “Assim como o Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho. Cristo foi enviado pelo Pai para ‘evangelizar os pobres, sanar os contritos de coração’ (Lc 4,18), semelhantemente a Igreja cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana, reconhece mesmo nos pobres e sofredores a imagem do seu Fundador pobre e sofredor” (LG nº 8). Dom Hélder Câmara, por exemplo, fiel a este novo espírito, foi na direção da periferia. Escolheu “a igreja das fronteiras” e fez das comunidades de periferia o lugar da cátedra do pastor. Dom Paulo Evaristo Arns, em 1973, vendeu o palácio episcopal e com o dinheiro construiu inúmeros centros comunitários na periferia de São Paulo, onde as Comunidades Eclesiais de Base passaram a se reunir para círculos bíblicos, celebrações da Palavra e da vida e lutar pelos direitos humanos. Mesmo em plena Cristandade, pastores como João Crisóstomo, Basílio e, no Ocidente, Ambrósio e Agostinho insistem que o verdadeiro templo de Deus e a glória da Igreja são os pobres. E João Crisóstomo fazia os pobres sentarem em sua cátedra na Igreja de Constantinopla.
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